sábado, 18 de agosto de 2012

Alvejar líderes tribais: uma nova tática no Sinai

Ashley Lindsey
Militantes mataram o líder tribal egípcio Khalaf al-Menahy e seu filho em 13 de agosto último quando os dois retornavam de uma conferência no leste do Sinai organizada e assistida pelos líderes tribais para denunciar a militância, de acordo com as forças de segurança do Sinai. O veterano al-Menahy foi um proeminente de apoio e fortalecimento da representação da Península do Sinai no Parlamento egípcio e da melhora da segurança na região. Foi também um destacado xeique na tribo Sawarka, vista como a maior do Sinai. Acompanhando seu funeral, em 13 de agosto, a tribo prometeu buscar vingança.


Este é o primeiro caso relatado de militantes atacando líderes tribais no Sinai. Acontece logo após um ataque às forças de segurança egípcias em 5 de agosto e um ataque aos pontos de fiscalização militar no norte do Sinai em 8 de agosto.
Muito embora a tática militar de alvejar líderes tribais no Sinai seja nova na área, ela tem sido comumente empregada em zonas de conflito no Oriente Médio e no Sul da Ásia, em locais como o Iêmen, o Iraque e a região de fronteira entre Afeganistão e Paquistão. Embora ela possa ser vantajosa para tais militantes – inclusive enfraquecendo a tribo alvo e possivelmente acarretando a sua cooptação – tal tipo de ataque tende a ter sucesso apenas em zonas com baixo controle governamental e contra tribos que não podem efetivamente reagir e retaliar. Examinando-se exemplos similares desta tática, pois, dá para se ter uma ferramenta útil de avaliação das consequências de ataques contra elementos tribais na Península do Sinai.

Uma tática militar disseminada
Iêmen
A al-Qaeda na Península Arábica tem operado abertamente no sul do Iêmen e províncias do leste, áreas dominadas por tribos há muitos anos. A organização terrorista busca expandir sua presença e operações para submeter as tribos locais usando táticas tais como os casamentos estratégicos.
Ultimamente parece que começaram a mudar do namoro aos líderes tribais para a intimidação deles. A al-Qaeda na Península Arábica recentemente fracassou na tentativa de assassinar o líder tribal Majed al-Dhahab, na cidade de Radda, província de Bayda. Um importante líder tribal, al-Dhahab participou da ofensiva à al-Qaeda – e seu próprio primo, um líder da al-Qaeda local – na região após o grupo militante ter assumido o controle da cidade de Radda em janeiro. O filho de al-Dhahab recebeu um pacote inadvertidamente endereçado a ele contendo uma bomba, com instruções para que ele a entregasse ao seu pai. Entretanto, o pacote explodiu em suas mãos em 4 de agosto antes que ele pudesse entregá-lo ao pai. Imediatamente após a morte de seu filho, al-Dhahab recebeu um telefonema avisando-o que o grupo terrorista mataria quem quer que se lhe opusesse.
O grupo terrorista deu sequência com outro ataque a elementos tribais em 5 de agosto. Um homem bomba suicida detonou um dispositivo explosivo em seu corpo numa esteira em Jaar, matando 45 pessoas. A carnificina incluiu diversos guerreiros tribais que tinham participado da ofensiva governamental iemenita contra a al-Qaeda na Península Arábica, em junho, ferindo inclusive um líder tribal.
As tribos da região não prometeram publicamente retaliar contra a al-Qaeda. Caso fossem capazes de tanto, provavelmente responderiam aod ataques da al-Qaeda na península. Mas as tribos são fracas demais para montar um revide efetivo, especialmente na onda de ataques à sua estrutura de lideranças. Tal fato poderia causar o abandono da luta por parte de homens das tribos, permitindo que os terroristas tentassem reassumir suas atividades nas cidades da região, caso quisessem.

O Iraque e a fronteira entre Afeganistão e Paquistão
Muito embora nova no Iêmen, os militantes terroristas frequentemente usavam essa tática de ataque a líderes tribais durante a presença militar americana no Iraque e no Afeganistão. A tática é ainda frequentemente usada, especialmente na região de fronteira entre Afeganistão e Paquistão. Num exemplo significativo, em 2007, a al-Qaeda no Iraque assassinou um xeique de alto escalão tribal sunita, o Xeique Abdul-Sattar Abu Risha, que liderava o Conselho do Despertar de Anbar. Um aliado dos EUA, Abu Risha tinha formado o conselho, unindo dezenas de tribos sunitas da província contra a al-Qaeda iraquiana. Sua morte foi um tiro que saiu pela culatra do grupo terrorista, gerando uma maciça onda de simpatia por Abu Risha e fazendo com que as tribos da provincial de unissem ainda mais em sua promessa de combater a al-Qaeda no Iraque até a sua extinção.
No sul do Afeganistão e no noroeste do Paquistão, Talibã afegão está profundamente enraizado no sistema tribal e a facção tem efetivamente usada a tática do assassinato de líderes tribais para eliminar obstáculos as suas operações em andamento. Para tanto, os militantes regularmente empregam operações suicidas, assaltos armados e bombas nos acostamentos das estradas contra as milícias do Talibã conhecidas como “lashkars” e contra líderes tribais pró-Talibã no noroeste do Paquistão.
Uma área particularmente afetada por tais ataques é Bajaur, uma agência paquistanesa situada na fronteira afegã na província de Kunar. Após numerosos ataques contra líderes tribais e membros das comissões de paz em Bajaur, a tribo Mamond anunciou em 25 de julho último que os líderes tribais tinham formado uma ‘lashkar’ para evitar ataques transfronteiriços. Centenas de idosos, líderes e figures religiosas de várias subtribos e comissões de paz prometeram seu apoio para esta milícia ao estilo Talibã. Com a morte de Abu Risha, os ataques do Talibã afegão contra membros das tribos, e a liderança na região estimularam uma violenta e enérgica resposta por parte de numerosas tribos, a nova milícia ‘lashkar’ expressou mesmo uma vontade de entrar em território afegão para atacar os líderes do Talibã.

Altos e baixos de uma tática militante
Grupos militantes atacam líderes tribais para aumentar sua influência e área de seu teatro de operações. Da perspectiva dos militantes, eliminar um líder tribal significa no plano ideal enfraquecer a tribo alvo. Isto poderia por fim à resistência das tribos e até mesmo levá-las a se cooptarem ao grupo militante atacante em função do vácuo de liderança que se segue à eliminação do líder. O despertar da tribo não teria escolha a não ser a de permitir que o grupo militante assassino passe a operar livremente no território da tribo cooptada. Muito embora os líderes tribais assassinados sejam substituídos e a estrutura de lideranças permaneça intacta, os líderes tribais na área poderiam ser persuadidos a adotar uma atitude mais acomodada em relação à presença dos militantes cooptantes.
O sucesso de um grupo militante agressor no longo prazo acontece sob duas condições.
Primeira: os militantes têm que agir numa área com uma rede de patrocínios e de limitada supervisão governamental. Sem tal rede, os ataques contra líderes tribais para fins de cooptação e intimidação da tribo não ocasionará qualquer ganho significativo. No Iêmen, por exemplo, o patrocínio e a rede tribal são muito fortes e na maioria dos casos têm maior legitimidade e poder do que o governo. Ataques contra chefes tribais aí, são bem equivalentes a ataques contra os governos locais. Por um lado, isto significa que as redes tribais podem se unir e repelir elementos militantes estrangeiros como se elas fossem uma só comunidade. Por outro lado, se a al-Qaeda na Península Arábica for capaz de coagir uma tribo a se alinhar com ela, o grupo militante então terá acesso a tais recursos tribais, ganhará a capacidade de planejar e perpetrar ataques na área, e poderá até obter melhores relações com as tribos vizinhas.
Segunda: o grupo tem que ser militarmente capaz de molestar a tribo alvo e seus aliados ou de pelo menos de tirar vantagem. Como se pode ver no exemplo iraquiano, matar Abu Risha foi um tiro pela culatra porque sua tribo era grande, comprometida e militarmente forte, e tinha o apoio de diversas tribos sunitas aliadas que pertenciam ao Conselho do Despertar de Anbar.
A tática de alvejar um líder tribal, pois, acarreta certos riscos. Quando as duas condições mencionadas acima não são satisfeitas, um grupo militante se expõe a um grande perigo quando alveja líderes tribais.

Consequências do assassinato no Sinai
A Península do Sinai apresenta as condições para um limitado controle governamental e para a formação de uma forte e extensa rede tribal. A questão então é saber de as tribos do Sinai podem ou não organizar uma forte defesa contra militantes hostis. Nas próximas semanas, será importante observar possíveis sinais da retaliação prometida pela morte de al-Menahy, feita pela sua tribo Sawarka e por outras aliadas dela. Tal retaliação poderá vir na forma de ataques contra os militantes que passarem pelos territórios da tribo Sawarka e de suas aliadas.
A retaliação tribal poderá também ocorrer de uma forma menos agressiva – mas ainda assim efetiva – de fornecer crescente apoio logístico e de inteligência ao governo egípcio. A crescente captura de armas e a prisão de líderes chaves sugerem que os recursos tribais no terreno estão fornecendo inteligência ao Cairo. Uma campanha encetada contra os militantes da al-Qaeda já começou, com aviões egípcios bombardeando as montanhas de El Arish em 15 de agosto último. A inteligência para tais ataques provavelmente veio das tribos locais.
O sucesso das forças de segurança tribais e governamentais no Egito contra os militantes externos determinará se a al-Qaeda e outros militantes calcularam mal suas posições no Sinai ou não, quando atacaram e mataram um estratégico líder tribal como Khalaf al-Menahy. A maleabilidade dos militantes no Sinai também ajudará a determinar se eles podem ou não continuar a perpetrar ataques contra o Egito e Israel.
Título e Texto: Ashley Lindsey, Stratfor, 16-8-2012
Tradução: Francisco Vianna

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-