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Foto: Miguel A. Lopes/Lusa |
Adolfo Mesquita Nunes
De cada vez que o Estado gasta
demais, à conta de todos nós, desvia dinheiro da economia, sufoca o sector
privado, compromete o crescimento e desajusta a economia
Na semana passada alertei aqui
para o facto de a execução orçamental do primeiro semestre apresentar já sinais
mais ou menos evidentes de desgaste fiscal. Não precisei de esperar pelo
relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) para escrever aqui que,
com os números já conhecidos, se torna muito complicado alcançar o nível de
execução orçamental do lado da receita fiscal.
Mas este desgaste fiscal
acontece ao mesmo tempo que se assiste a uma assinalável redução da despesa,
que vai mesmo além do que era esperado. Vai de tal forma além que estamos a
conseguir cumprir os limites trimestrais impostos pela troika apesar da queda
da receita fiscal.
Ou seja, o que podemos dizer
neste momento sobre a execução orçamental é que o ajustamento a que estamos
obrigados se está, actualmente, a fazer pelo lado da despesa. O que equivale a
dizer que a nossa economia começa a ajustar-se de forma a permitir arejar o
sector privado num futuro próximo. E isto são boas notícias.
Enquanto a despesa estiver a
cair, e a cair significativamente, a queda da receita fiscal, porque inscrita
no Memorando e porque não dependente do Estado (que, aliás, tem aperfeiçoado a
máquina fiscal), não é um problema absoluto. Mais, oferece a quem quiser ver
quais as consequências de uma carga fiscal desproporcionada, ainda que, desta
vez, essa carga fiscal sirva para ajustamentos orçamentais e não para dar
velocidade a políticas socialistas.
Sim, é preciso recordar que a
carga fiscal que temos este ano foi desenhada para procurar um equilíbrio
orçamental e não para construir ou manter aeroportos onde não aterram aviões ou
auto-estradas onde não passam carros. A consequência do ponto de vista do
desgaste fiscal pode ser a mesma, mas convém não perder de vista a diferença de
perspectivas.
É por isso que estranho quem,
olhando para o relatório da UTAO, se esquece de apontar o evidente: o Estado
está a fazer a sua parte naquilo que mais depende de si, que é a redução da
excessiva despesa. Excessiva porquê? Porque de cada vez que o Estado gasta
demais, à conta de todos nós, desvia o dinheiro da economia, sufoca o sector
privado, compromete o crescimento e desajusta a economia. Nenhum país cresce
enquanto o Estado estiver a gastar demais.
Estranho ainda mais que sejam
os socialistas a utilizar parcialmente esse relatório para evidenciar o mau
comportamento da receita fiscal e argumentar com a necessidade de baixar a
carga fiscal. Não que esse mau comportamento não deva ser realçado. Eu próprio
o realcei sem precisar de esperar pela UTAO. Mas os socialistas, que não são
conhecidos pelo conservadorismo fiscal, dependem da receita fiscal para
conseguir cumprir com todo o seu modelo socialista.
Note-se que os socialistas têm
tido uma relação difícil com a redução da despesa, que encaram sempre como um
ataque ao Estado social. Estão, por isso e por princípio, contra as
significativas reduções que têm sido feitas. Mais do que isso, os socialistas
têm defendido até, com maior ou menor vigor, que a solução para a crise passa
por aumentar o investimento público, os apoios e os subsídios. Ou seja, para os
socialistas, a despesa pública é boa e reprodutiva.
Ora, com os problemas de
financiamento da nossa economia, causados também pelo excesso de despesa, como
esperam os socialistas financiar o seu modelo se não pelos impostos?
Ver os socialistas realçar o
mau comportamento da receita fiscal é, assim, um enorme paradoxo. E evidencia
um trajecto político sem qualquer fundamento ou sustentação. Não admira, por
isso, que tenham levado o país a pedir ajuda externa.
Título e Texto: Adolfo Mesquita Nunes, jurista e
deputado do CDS, jornal “i”,
03-8-2012
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