1. A percepção geral de uma decadência dos partidos políticos no
Brasil deve ser qualificada. Explicar pela desideologização da política
pós-guerra fria ajuda, mas não explica. Explicar pela pulverização partidária
nem ajuda nem explica. Querer arranjar um sistema eleitoral que resolva essa
decadência é dar voltas atrás da sombra.
2. Melhor será ir aos estudos que tipificam os partidos políticos a
partir do século 20. Partidos de Massas, Partidos de Quadros, Partidos Catch All em que cabem todos, Partidos
Corporativos, Partidos Parlamentares.
3. No Brasil nunca houve um partido de massas, como ocorreu na
Europa. O que houve foram momentos de massas de partidos liderando ideias
nesses certos momentos. Marcha com Deus e
a Família, Diretas Já, Pelas Reformas de Base, o Petróleo é Nosso...
O PTB, getulista e janguista,
era um partido popular que mais se aproximava a um Partido Corporativo.
O PT, da mesma forma: popular
por Lula e corporativo por sua integração com sindicatos e associações. O novo
vetor das redes sociais – horizontais e desierarquizadas – debilitando a
democracia direta associativa (sindicatos...), desintegra a força corporativa do
PT e a sua capacidade mobilizadora como partido popular. Resta o Lula.
4. O PMDB desenvolveu como Partido Catch All, uma técnica que o permite flutuar da esquerda à direita,
à clientela, com enorme facilidade ao ter se confederado nacionalmente com
impressionante plasticidade e paciência. No Brasil, o Partido Comunista foi um
partido de quadros, quadros no sentido de lideranças com forte lastro
intelectual e não quadros de políticos profissionais.
5. O PSDB surgiu como um Partido de Quadros. Mas não houve
renovação de suas lideranças com lastro intelectual que hoje já entraram na
casa dos 70 anos. O acesso ao poder fez prevalecer o pragmatismo, até que
deixasse de ser um partido de quadros e passasse a ser como os demais partidos
relevantes, um Partido Parlamentar.
6. Com o PDS e o PFL aconteceu um processo curioso. Quando ocupavam
e se assumiam como partidos de direita, se pareciam, muito mais, desde a
segunda metade dos anos 1970, com um Partido de Quadros. Com outros nomes
caminharam ao centro e o pragmatismo exigido como elemento de competitividade
eleitoral, os levou a serem Partidos Parlamentares.
7. Da mesma forma todos os demais partidos relevantes hoje no
Brasil: PR, PTB, PSB, PDT... são Partidos Parlamentares.
8. Na medida em que a taxa de risco eleitoral cresce muito num
ambiente político inorgânico, praticamente todos se associam aos governos
eleitos. Ao contrário do que vários politólogos afirmam, não há democracia de
coalizão, no sentido desta ser ativada pelo partido vencedor, pois a adesão é
automática, restando os partidos relevantes que fazem o contraponto político.
Formam-se maiorias compulsórias de 70% dos parlamentares.
9. Este é o processo de desintegração no Brasil de todos os
partidos constantes na tipologia clássica. Para usar "uma" palavra: é
a parlamentarização da política.
Título e Texto: Cesar Maia, 03-12-2013
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