quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Salvação ou miragem?

José Carlos Bolognese
Conta uma anedota muito velha que, dois – ou mais – italianos caindo de um navio, nunca se afogam. É que eles movem tanto os braços quando falam que bastava ficarem “parlando”... para nadar por tabela. É certo deduzir que ao avistar um navio, tanto mais seria agitada a fala quanto seriam as possibilidades de serem salvos.

Bem, nesse aspecto nós somos muito pouco italianos, incluindo este colega de vocês, descendente deles, idoso contador de velhas anedotas que, como aposentado, já se descobriu ser uma piada... de mau gosto... inventada pelos inimigos dos trabalhadores deste país.

Esta semana – de novo – a notícia de uma decisão favorável à nossa causa pelo TRF1 parece fazer com que os quase afogados se deixem ficar boiando em vez de nadar, ainda que o navio TRF1 à distância possa ser de novo uma miragem. Alguns poucos repassam a notícia acreditando na sua realização pelo efeito repetição. Ainda assim, seus repasses são melhor que nada, pois manter o assunto à tona é melhor que ignorá-lo. Boiar é melhor que afundar.

Mas eu fico intrigado com nosso pouco interesse na arquitetura dessa chamada “antecipação de tutela”. Parece o bebê na barriga da mãe que ainda não sabe como vai ser sua vida quando sair, mas se soubesse que tinha pais para cuidar dele, já se saberia “antecipadamente tutelado”. Nós temos a vantagem de estarmos paridos há décadas e devíamos questionar mais e nos agitarmos ainda mais quando surgem essas notícias de decisões animadoras. Talvez com mais agitos e cobranças ainda seja miragem o navio salvador que avistamos, tantas vezes se repetindo a mesma história. Ou pode ser um navio de verdade que se vai se nós, os quase afogados, não ficarmos gritando e acenando... ó nós aqui!

Além do dinheiro que nos roubam há mais de oito anos, o esporte preferido dos cretinos que acabaram com a Varig e o Aerus é sonegar informações e obscurecer fatos. Aliás, um esporte que não se limita ao nosso caso Varig/Aerus. Mas infelizmente, do nosso lado o passatempo é ficar repetindo sem questionar e cobrar mais clareza e compromisso das “autoridades” ao surgirem as novidades... animadoras.

É preciso mais do que comentar, repassar, repetir e cobrar explicações, principalmente porque é preciso mostrar que além de sofrer, temos discernimento, que nosso direito vem sendo espoliado há muitos anos, que tal situação é uma afronta a direitos básicos para se viver decentemente.

Temos de perguntar mais sobre esta “Tutela” e seu modo de nos aliviar desse fardo. Temos ao mesmo tempo de cobrar explicações e o retorno da parte que cabe a cada um de nós do nosso “Fundo Soberano”, isto é, o que foi coletado pelo Aerus em nosso nome e também os valores dos 3% que desde 1991 foram desviados do fundo.

A cobrança incisiva e persistente tem o mérito de não admitir evasivas e procrastinações. Ainda assim, se acontecer, que não seja com a nossa complacência.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 25-9-2014

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Um comentário:

  1. A questão Bolognese, e que os nossos prezados colegas adoram boiar, porque assim fazendo gastam menos energia, que sobrará para os fins de semana e churrasco regado a cervejadas. Isso é bom, é factível
    O problema, além de não ser bom, só acontece com os "outros ", nunca conosco.
    Esses são os devaneios de um grupo que não está nem aí para o que lhes aflige
    José Manuel

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