Generoso leitor, você sabe a
repulsa que tenho pela imprensa portuguesa. Já muitas vezes desabafei contra a
infiltração escandalosa de militantes e plenipotenciários de partidos e siglas
que NÃO têm votos!
Não têm o apoio da população,
por mais que eles gastem milhares de euros em propaganda (outdoors, cartazes e
etc) em que se arvoram em patriotas, defensores dos “trabalhadores” e outras
canalhices dialéticas, sempre passando pela agressão/intimidação à maioria.
Mas, em que pese a falta de votos, eles têm a imprensa: falada, escrita,
televisionada, comentada, encaixada nos comentários e por aí vai…
Como sempre acaba acontecendo,
felizmente, encontro um texto escrito por portugueses há mais tempo
morando em Portugal (desde a nascença), há mais tempo acompanhando a política
nacional e conhecendo os seus meandros e os seus protagonistas. Como o exemplo
abaixo escrito por José Mendonça da Cruz, no blogue Corta-fitas:
No índice de Percepção de
Corrupção mundial divulgado hoje Portugal surge no 31º lugar entre 175 países. Eis agora como o texto (voz off) na
notícia da tvi24 relata os factos:
«O escândalo dos vistos
dourados abalou o edifício estatal; deu a imagem de um Estado corrupto. Mas a
alegada venda de direitos de residência em Portugal ainda não está reflectida
no ranking que mede a corrupção no Mundo. Porque se o fizesse Portugal estaria
pior colocado.»
Vejamos:
O autor do texto abre a
notícia com factos que, como ele próprio logo admite, nada têm a ver com a
verdadeira notícia. Se o fez para situar ou localizar a notícia, fez mal,
porque a classificação de Portugal num índice mundial é localização e situação
bastante. E quando o facto com que se procura situar ou localizar nada tem a
ver com o assunto o artifício resulta ainda pior. Se tivesse sido este o motivo
do contorcido texto teríamos que concluir que o autor é burro (além de escrever
mau português).
Mas talvez o autor
não seja burro. Talvez seja distraído. É que, tendo-lhe ocorrido um caso
de suspeita de corrupção que nada tem a ver com a notícia, o Índice de
2014, esqueceu-se de outro caso um pouco mais grave que está exactamente
no mesmo estádio (indícios, seguidos de prisão preventiva). Ou seja, o
facto de a notícia se socorrer de uma inexplicável lembrança (os alhos dos
vistos dourados que nada têm a ver com os bugalhos do Índice) torna mais inexplicável
o esquecimento em que incorreu do caso de um antigo primeiro-ministro suspeito
de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro durante o seu mandato. Ora
este estranhíssimo esquecimento poderia fazer supor que o autor do texto se
colocou sob as ordens de António Costa para esquecer o elefante na sala, o
elefante no país. E, então, teríamos que concluir que não é jornalista, que é
só um pau mandado sem brio e faz o que do largo do Rato lhe mandam
fazer. Mas talvez não seja isso. Talvez o autor padeça apenas de alguma forma
de amnésia selectiva.
E será, então, por
amnésia selectiva que o autor do texto se esqueceu de escrever que Portugal
melhorou um lugar em 2012, mais um em 2013, e mais um no Índice de Percepção de
Corrupção de 2014.
De qualquer forma, é pena não
sabermos o nome do autor. Isso nos permitiria, da próxima vez
que tivessemos a infelicidade de deparar com um texto noticioso seu,
dar-lhe o grande e necessário desconto que justificam as
suas insuficiências e limitações.
Título e Texto: José Mendonça da Cruz, Corta-fitas,
3-12-2014
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