Maria João Marques
Faz por estes dias 10 anos que
estava em Miami. Vivia-se o rescaldo do tsunami do Índico e as notícias estavam
cheias disso. A ajuda internacional americana tinha dois rostos, que se
juntaram e dispuseram a trabalhar juntos para socorrer as populações afetadas:
Bill Clinton e George Bush (o pai). Vi-os em vários programas televisivos e
impressionou-me a cumplicidade, o respeito, o apreço e até a amizade entre
aqueles dois homens que as ideias políticas dividiam e que haviam disputado
eleições amargas. Não havia azedume, não deixavam recados insinuados, não
espetavam farpas; simplesmente consideravam-se iguais e trabalhavam juntos em
algo que evidentemente era mais importante do que divergências políticas. O
respeito que eu tenho por ambos veio sobretudo desses dias. São dois homens
grandes acima de querelas partidárias.
Isto é nos Estados Unidos. Por
cá os ex-presidentes são criaturas tão pequenas e imersas nas tricas
partidárias que só nos fazem sentir vergonha pelas figuras alheias. Ramalho
Eanes [foto] é o único que se porta decentemente como convém a um ex-PR. Sampaio é a
nulidade política que sempre foi. E Soares – que confessa à enlevada Clara
Ferreira Alves ser um cidadão ‘especial’ – não pára de se embaraçar (isto se
conhecesse o conceito) nem de mostrar que se julga acima das responsabilidades
exigidas ao comum cidadão – quando deveria ser ainda mais escrupuloso no seu
cumprimento – ou proprietário das instituições.
Publicamente e sem qualquer
vergonha condiciona uma investigação criminal – como fez na primeira visita a
Sócrates – e agora vem exigir (quem é Soares?!) ao PR que se pronuncie sobre
uma investigação judicial em curso. Que tanta gente se babe com Soares só
revela como estamos mais perto de Cuba do que do Estados Unidos.
Título e Texto: Maria João Marques, O Insurgente, 4-1-2015
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