Rui A.
O pessoal político próximo de
José Sócrates tem utilizado a estratégia de intoxicação subtil da opinião
pública e de diminuição do Ministério Público e do Juiz de Instrução
manifestando estranheza e incómodo por, meses passados sobre a detenção
preventiva do antigo líder, não haver ainda uma acusação. Com isto insinua-se
que José Sócrates está ilegalmente detido e que o MP anda aos papéis, sem saber
como o acusar, por falta de provas. Esta versão do que se está a passar é
desonesta e indigna de pessoas que exerceram e pretendem voltar a exercer
funções de responsabilidade política, como o augusto Augusto Santos Silva, que
ainda ontem considerou «todo o processo muito peculiar», porque, «cerca de meio
ano depois, ainda não há acusação».
A desonestidade disto é
evidente, porque se pretende confundir a prisão preventiva de um arguido, que
tem regras, requisitos e prazos previstos na lei, com a acusação desse mesmo
arguido, fase processual para a qual a lei estabelece também prazos e
requisitos, que não são, nem uns nem os outros, os mesmos da prisão preventiva.
No caso, o MP pediu a prisão preventiva de Sócrates por considerar que se
verificavam, neste arguido, dois dos requisitos que a lei considera suficientes
para a decretar: perigo de fuga e de perturbação do inquérito (não apenas
«destruição de prova», como insidiosamente se deixa cair nos comentários) e o
juiz de instrução considerou-os válidos, assim como as instâncias superiores
para as quais os advogados de defesa recorreram destas decisões; e está, o MP,
a preparar a acusação, reunindo as provas que entender necessárias para a
fundamentar, no prazo que a lei lhe concede e que não está ainda vencido.
Mas existe uma outra
desonestidade destas personagens, desde logo do augusto Augusto Santos Silva,
que raia o cinismo e a ignomínia: é que eles tiveram, têm e pretendem voltar a
ter responsabilidades políticas, e nunca se lhes foi vista qualquer preocupação
com o estado em que se encontram as muitas centenas (milhares?) de presos
preventivos que estão nas cadeias portuguesas, sobre a sua posição processual,
desde logo, sobre o cumprimento dos prazos acusatórios, e até de alguns, os
mais desvalidos e desprotegidos, entregues a advogados oficiosos ou pouco
escrupulosos, que não acompanham os prazos da prisão preventiva e muitas vezes
os deixam passar sem requererem a libertação dos seus clientes, que continuam
pelas cadeias até que alguém note que eles já cá deveriam estar fora.
Qualquer pessoa que estivesse,
de boa-fé, na posição do augusto Augusto Santos Silva aproveitaria a sua condição
de responsável político, de ex e de putativo futuro ministro, para suscitar ao
Ministério da Justiça, aos Serviços Prisionais ou seja a quem for com
responsabilidades nesta área, uma auditoria à situação dos presos preventivos
nas cadeias portuguesas, de modo a apurar, caso a caso, a situação de cada um
deles e manifestar os mesmos horrores que manifestam agora sobre a detenção
preventiva do seu antigo chefe. Menos do que isto é abusar da ignorância das
pessoas, para manipular a justiça. A tal de quem eles sempre dizem que deverá
seguir o seu curso sem pressões.
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