Rodrigo Constantino
Morando fora do Brasil por um
tempo, toda crítica tem que ser feita com cautela redobrada. Alguns podem ficar
com a impressão (errada) de que estou cuspindo em minha “cidade maravilhosa”
pois não vivo mais nela, o que seria falso. Eu já cuspia antes! Na verdade, não
era bem um cuspe, e sim uma onda de desabafos, de ataques desesperados, mas
construtivos, como um pai faria com seu filho no caminho errado das drogas. O
Rio virou uma droga!
Não vou dizer que a violência,
a degeneração moral, o vandalismo e tudo mais são coisas novas. Não são! Não
caio na falácia dos saudosistas, de idealizar um passado inexistente. Mas as
coisas estão piorando sim, e fechar os olhos para elas não vai resolver o
problema. Ao contrário: vai agravá-los. Vejamos um caso “isolado”, porém
sintomático, que consta hoje na coluna de Ancelmo Gois:
Gangue não é coisa nova, e
havia briga entre elas desde os tempos do meu pai, senão antes. Mas de
adolescentes com 12 anos? Da Barra e do Recreio, ou seja, de classe média ou
alta? Creio que há uma deterioração aqui, fruto de uma mentalidade cada vez mais
distorcida, falta de valores, limites, e com um péssimo exemplo vindo de cima.
Se o país colocou na presidência da República, por quatro vezes, o PT corrupto,
então como educar os filhos sobre o certo e o errado? Fica mais complicado.
Aqui na Flórida tenho
conversado com alguns brasileiros, e todos eles citam essa questão moral como
fator importante, quiçá decisivo, para a escolha de “abandonar” família, amigos
e pátria para buscar mais civilização. A violência é fundamental nessa decisão,
pois quem não deseja oferecer mais segurança para os filhos? Mas não é “apenas”
isso, o direito básico de ir e vir, de parar num sinal de trânsito tranquilo.
É, também, o ambiente intelectual intoxicado do Brasil em geral e do Rio em
particular, capital nacional da esquerda caviar.
Essas pessoas não aguentavam
mais ver artistas e “intelectuais” passando a mão na cabeça de marginais como
se fossem vítimas da sociedade. Não aguentavam mais ver as letras chulas de
funk serem retratadas como “alta cultura” pela mídia. Não suportavam mais ver
os próprios filhos pedindo para tocar essas “músicas” nas festas, ou indo a
festas que tocam essas “músicas”. Não tinham mais paciência para “professores”
que eram, na verdade, militantes disfarçados, enfiando socialismo goela abaixo
das crianças indefesas. (Grifo deste Editor)
Em artigo publicado hoje no GLOBO, o jornalista Roberto
Muggiati desabafa sobre o Rio que viu mudar ao longo de 50 anos de vida na
cidade:
Ia-se à praia impunemente,
colhia-se tatuí para comer frito com caipirinha. À meia-noite do réveillon,
alguns gatos-pingados iam tranquilamente à orla de roupa branca celebrar
Iemanjá. Arrastão era um tipo de pesca, canção de festival ou meia feminina. Todo
esse mundo ruiu estrepitosamente algumas décadas atrás no “verão do arrastão”.
Aconteceu de repente, num rutilante domingo de sol, céu azul e quarenta graus à
sombra, com hordas de assaltantes ferindo impiedosamente velhos, crianças e
grávidas.
A partir daí, a violência
só fez crescer na cidade. Frequentador do Theatro Municipal, joia arquitetônica
e templo da música, hoje vejo os elegantes cultores das sinfônicas europeias e
dos solos de piano de Lang Lang e Keith Jarrett, saírem correndo antes do bis e
disputar à tapa o táxi que os leve ao teto salvador. Pouco tempo atrás, até que
era chique ir ao Municipal de metrô. Os recentes arrastões noturnos em estações
da Zona Sul, com os passageiros à completa mercê dos bandidos, desfizeram esse
sonho de primeiro mundo.
Em artigo bem ao lado, o sociólogo Carlos Alberto Rabaça fala
da cultura da transgressão no país, que é bastante presente na vida dos
cariocas também:
Uma sociedade que, em seus
altos círculos e em seus níveis médios, é composta de uma rede de quadrilhas
não produz homens de sentido moral acentuado. Uma sociedade que é apenas
superficial em seu exercício democrático não produz homens de consciência. Uma
sociedade que limita o sentido do “êxito” ao dinheiro grosso e que eleva os
recursos públicos ao plano de um valor particular, produzirá o negocista
impiedoso e o negócio escuso. É claro que pode haver homens corruptos em
instituições honestas, mas quando as instituições também corrompem muitos
homens que vivem e trabalham nelas, então são necessariamente corruptas.
O esgarçamento moral do nosso
país é a coisa mais triste que vemos atualmente. A corrupção, a violência, o
vandalismo, os adolescentes “rebeldes”, tudo isso já existia. Mas as coisas
estão piorando. Ao menos é essa a sensação de boa parte da
população. E isso é mortal, pois retira a esperança num futuro melhor. Algo
muito preocupante…
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, veja,
15-6-2015
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