Nome de Guerra: Nercy
Onde e quando nasceu?
Eu nasci em São Paulo, em 30
de setembro de 1944.
Onde estudou?
Grupo Escolar Orville Derby,
onde fiz o antigo curso primário, Vila Formosa, São Paulo.
Ginásio Estadual José Marques
da Cruz, curso ginasial, Vila Formosa, São Paulo.
Grupo Impacto, onde fiz o
Supletivo do Segundo Grau, Bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, graduação em Serviço Social.
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Mestrado em Serviço Social.
Fundação Oswaldo Cruz, Escola
Nacional de Saúde pública, curso de saúde pública e medicina social e curso de educação
em saúde.
Onde passou a infância e
juventude?
Eu passei a infância e
adolescência na Vila Formosa, em São Paulo, bairro situado numa colina, lugar
muito aprazível, onde minha família foi uma das pioneiras no loteamento que deu
início ao bairro.
Hoje é um dos lugares mais
chiques da zona leste de São Paulo, onde está situado o Shopping Anália Franco,
um dos maiores de São Paulo. Na Igreja do Sagrado Coração, fiz a primeira
Comunhão e frequentava muito na infância e adolescência.
Quem foi Anália Franco?
Anália Franco foi professora,
jornalista, poetisa, escritora e filantropa. Nasceu em 1853 na cidade de
Resende, no Rio de Janeiro e faleceu em 1919, de gripe espanhola, aos 65 anos.
Em 1861 mudou-se para São
Paulo formando-se professora em 1875. Em 1901 funda a Associação Femenina
Beneficiente e Instrutiva de São Paulo,
Em 1911 a associação fixa-se
na Chácara Paraiso, na Vila Formosa, até ser vendida em 1965. Atualmente é a
Universidade Cruzeiro do Sul. A instituição fundada por ela teve enorme
importância na formação da Vila Formosa e após a morte dela passou a chamar-se
Lar Anália Franco.
Qual (ou quais)
acontecimento marcou a sua infância e juventude?
A minha infância na Vila
Formosa foi muito bucólica, pois o bairro oriundo do Loteamento da Companhia de
Melhoramentos do Brás e registrada em sua documentação como empreendimento Vila
Formosa, era um local com poucas casas, ruas sem asfalto, muito verde, sem água
encanada e luz elétrica que só chegaram anos depois.
Havia uma região de mata
fechada junto a Chácara Paraiso, onde ficava o Lar Anália Franco que nós
chamávamos de Matão. Minha família, avós paternos e tios se estabeleceram no
local em 1945.
Meus país, eu e meu irmão
morávamos com meus avós, em 1952 nasceu lá meu irmão Pedrinho, falecido em
1957, as brincadeiras de criança eram pular corda, esconde-esconde, de roda,
passa anel na qual tínhamos que adivinhar com quem estava o mesmo, jogar bola e
muitas outras da época.
Na Associação de Moradores
assistia a filmes e shows com pessoas do próprio bairro que tocavam algum
instrumento musical e gostavam de cantar.
Na adolescência havia os
bailes e carnaval na mesma associação do bairro e na casa dos amigos.
Eu morei na Vila Formosa com
meus pais até 1964, quando tive que mudar para o Rio de Janeiro por conta do
baseamento da Varig.
Em 1964 você ingressa na
Varig, é isso?
Eu entrei na Varig aos dezoito
anos e cinco meses, em 1963, na base São Paulo, e no final do ano de 1964 fui
para a Base Rio.
Passei o restante do tempo no
Rio, até sair no início de 1966.
A Varig não foi meu primeiro
emprego, trabalhava desde os dezesseis anos na antiga Companhia Telefônica
Brasileira, como telefonista, sim, naquela época existiam!
Lembra do seu primeiro voo?
Sim, lembro-me bem do meu
primeiro voo, numa ponte aérea do Rio para São Paulo, num Convair 240 [foto]. A
tripulação da cabine era composta por dois comissários, o outro comissário era
de uma turma anterior à minha, mas já estava mais entrosado no serviço e
fizemos um ótimo voo.
Foram três anos na RG,
certo? O que guarda dessa época?
Foram três anos de Varig muito bem vividos, voei o DC 3, Curtis C46, DC6, Super Constellation, Electra II... foi um tempo de muitas emoções, conheci o Brasil todo, fazia o voo da amizade para Lisboa, fui muito feliz.
Foram três anos de Varig muito bem vividos, voei o DC 3, Curtis C46, DC6, Super Constellation, Electra II... foi um tempo de muitas emoções, conheci o Brasil todo, fazia o voo da amizade para Lisboa, fui muito feliz.
Eu fiquei somente três anos
porque me casei e meu ex-marido não queria que eu continuasse voando, tive que
mudar de vida, tive minhas duas filhas e voltei a estudar. Ficamos casados por
quinze anos.
E aí
foi estudar Serviço Social?
Eu tinha somente o curso
ginasial que terminei em 1959, tive que fazer o supletivo do segundo grau e depois
fazer o vestibular para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade
de Serviço Social.
A minha mãe me ajudou muito,
eu tinha duas filhas pequenas e sem ela teria sido impossível.
O que é Serviço Social?
O serviço social atua, principalmente,
na elaboração, planejamento, execução, implementação de políticas sociais,
atuando nas diferentes expressões das questões sociais como direitos à saúde,
educação, habitação, trabalho, segurança, saneamento básico, transportes, urbanização,
lazer e outras demandas.
Concluída a faculdade você
foi trabalhar nessa área?
Eu trabalhei na Arquidiocese
do Rio de Janeiro, Banco da Providência, Unidade Engenho Novo, entidade
beneficente ligada à igreja católica.
Fiz trabalhos para a
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Morro do Salgueiro, da Matriz, entre
outros.
A maior parte do tempo, no
entanto, trabalhei no Ministério da Saúde por vinte e cinco anos.
No Rio ou em Brasília?
Eu trabalhei no MS lotada no
Rio de Janeiro, no Posto de Assistência Médica de Del Castilho, pertencente ao
Instituto de Assistência Médica da Previdência Social, o extinto INAMPS. Com a
universalização do atendimento, a unidade de saúde foi entregue a Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro e mudou de nome, passou a chamar-se Policlínica
Rodolpho Rocco.
Eu continuei atuando no local
até à aposentadoria, como funcionária federal, emprestada ao município.
Tem saudades dessa época?
Eu sinto saudades, sim, dessa
época, vinte e cinco anos é uma vida. Nós estabelecemos laços de amizade com
colegas de trabalho, usuários dos serviços de saúde e com as comunidades
servidas pelo Posto.
Morei perto no início da
década de 70, em Higienópolis...
Você mora no Rio?
Sim, moro no Rio de Janeiro
desde 1969. Morei no Grajaú, Lins de Vasconcelos, Méier e agora em Laranjeiras.
Como está o Rio de Janeiro?
Melhor ou pior?
Eu penso que o Rio de Janeiro
piorou muito. Antigamente íamos às comunidades e sabíamos que existiam problemas,
como tráfico de drogas, mas era tudo muito discreto. Hoje é tudo ostensivo, com
pessoas fortemente armadas circulando pelo local.
Atualmente a situação é
agravada pelas milícias, grupos que dominam as comunidades disputando-as com o
tráfico.
O posto de saúde onde eu
trabalhava está abandonado, atualmente administrado por uma organização social,
serviço terceirizado, não é mais gerido por funcionários concursados como
antigamente. O estacionamento foi tomado pelo mato e nos bueiros encontraram
até caramujos africanos. As equipes estão incompletas e várias especialidades
não funcionam mais.
Feira da Previdência, ainda
existe?
A feira da providência existe
desde 1961, está prevista para 2019 no Riocentro, no final do ano.
Nem o prefeito da cidade,
nem o governador do Estado do Rio de Janeiro, parece, não conseguiram melhorar
a qualidade de vida dos cariocas e dos fluminenses...
A cidade vem sofrendo muito
com a gestão do prefeito Crivella que não vem tendo um bom desempenho. O
governador, está há sete meses, mas parece um pouco mais confiável.
E o Brasil, como vai?
O Brasil está polarizado. De
um lado, os adoradores do presidiário de Curitiba, eles não aceitam que um
condenado em três instâncias por crime de corrupção e lavagem de dinheiro seja culpado,
considerando que ainda existem outros processos contra ele que ainda não foram
julgados. O ex-juiz e agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, teve uma atuação
impecável na operação lava jato, mas é execrado pelos adoradores do condenado,
numa flagrante inversão de valores, eu penso que ele apenas cumpriu o dever
dele.
A situação no Brasil está
difícil, diante de anos de uma gestão temerária, onde a corrupção andou fazendo
estragos que levará anos até que comece a melhorar.
O atual presidente Bolsonaro,
eleito democraticamente, está com uma boa equipe e encontra resistências dos
parlamentares e militantes dos partidos de esquerda que torcem para que tudo dê
errado.
O futuro e a história dirão
quem vencerá!
E você, de que lado está?
Eu vou ser franca, nas
eleições eu e minha família refletimos muito sobre a tentativa do PT de nos
impor um candidato ficha suja e posteriormente presidiário, apesar dos roubos
na Petrobrás e do mensalão, quando se comprava votos dos parlamentares para
aprovar as propostas do governo.
O argumento era que o processo
do apartamento de cobertura, no Guarujá, pago como propina, não continha provas
suficientes, o que nós não aceitamos, ainda mais quando o TRF 4 de Porto Alegre
manteve a condenação em segunda instância e até aumentou a pena.
Na minha família só eu votei
em Bolsonaro no primeiro turno, achei que era único capaz de extirpar este
câncer que era o PT. No segundo turno todos, na família, decidiram votar nele,
era a única saída.
O presidente tem o estilo dele,
fala o que pensa e não mede as palavras, mas como disse o ministro Paulo
Guedes, o que adianta uma pessoa, aparentemente, fina, educada e sem
princípios.
Ele tem princípios, em
delações ele foi citado como o único parlamentar que não aceitava propinas.
Trata-se de uma pessoa simples e fala a linguagem do povo.
Eu não acho que ele fará
milagres, a situação do Brasil é grave, certas pessoas, em vez de lutar pelo
país, preferem lutar por ideologias. É preciso reconhecer que ele foi eleito
democraticamente e agora é presidente de todo o povo brasileiro, o momento é de
união para salvar o país e não de polarização.
Hummm... ‘união’?
Impossível. A esquerda e a extrema-esquerda só ‘descansam’ quando no poder...
É verdade, é muito difícil
lidar com extremistas, tenho amigos petistas mais moderados que reconhecem que
as diferenças de ideias é que podem construir um senso comum.
No próximo domingo, 25 de
agosto, estão previstas manifestações em favor da Lava Jato, Pacote anticrime,
Reformas... você vai participar?
Eu gostaria de estar presente
nas manifestações, mas tenho artrose e problemas de equilíbrio, é
desaconselhável ficar em aglomerações de pessoas.
Você e sua filha estiveram
presentes num dos Encontrões Europeus de ex-Trabalhadores da Varig?
Eu e minha filha Lívia, fomos
no 2° Encontrão em Sintra, adoramos, temos muitas saudades da Varig e também
queria rever Lisboa que adoro.
Lisboa, 15 de junho de 2017 |
Nos tempos em que voava, fazia
o voo da amizade e era habitué dessa linda cidade.
A derradeira mensagem:
Quero agradecer a deferência,
esta oportunidade de expressar através desta conversa, as minhas opiniões,
sentimentos, relembrar os fatos do passado e, de alguma forma, contribuir na
troca de ideias, abordar assuntos interessantes sobre a situação que vivemos.
Muito obrigado, Nercy!
Conversas anteriores:
Boa , a entrevista com a Nercy ! Tenho alguma lembrança daquele rosto , em algum momento durante o período em que trabalhei na Varig. A última foto, a de Lisboa em junho de 2017 ficou ótima; aparece até o meu amigo Santandreu ...
ResponderExcluirdestacamos os seguintes trechos da entrevista:
"A cidade vem sofrendo muito com a gestão do prefeito Crivella" e
" é muito difícil lidar com extremistas..."
Duas afirmações cobertas de razão. O prefeito decepciona cada vez mais, e quem sofre são os cariocas! Quanto a lidar com extremistas, os brasileiros( do bem e com capacidade de discernimento) não conseguem entender o processo de alienação cognitiva que transformou centenas de seguidores do lulopetismo em verdadeiros autômatos programados!
Aos poucos, isso parece estar se transformando; mas 4 anos de governo Bolsonaro ainda não serão suficientes para botar o Brasil nos trilhos.
Entretanto, temos que admitir e observar que muitas ações de desenvolvimento e progresso vem sendo tomadas a bem do povo e da Pátria.
Sidnei Oliveira
Varig - Rio
Assistido AERUS
Muito agradecida Sidnei! Fiquei feliz que tenha gostado, quem sabe nós voamos juntos nos aos 60! Abraços!
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