Nome de Guerra: Tania
Teixeira
Onde e quando nasceu?
Nasci em 5 de junho de 1951,
no Rio de Janeiro, Botafogo.
Onde estudou?
Estudei no Colégio Bennett,
Rio de Janeiro e fiz Faculdade de Letras Neolatinas na USP - Universidade de
São Paulo.
Onde
passou a infância e juventude?
Morei no Rio de Janeiro até os
dez anos de idade. Depois, até os dezesseis em Praia de Cabeçudas, Itajaí,
Santa Catarina. Dos dezesseis até aos dezenove anos em Santos, Estado de São
Paulo.
Voltei para o Rio com dezenove
anos, quando entrei na Varig uma semana antes de fazer vinte anos.
Qual (ou quais)
acontecimento marcou a sua infância e juventude?
Ver minha mãe ir ao velório do
presidente da República, Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, no Rio de
Janeiro, quando eu era pequenina. As filas eram intermináveis.
A minha família é da mesma
linhagem de outro presidente do Brasil, Floriano Peixoto.
Outro acontecimento
importante: a mudança da capital da República para Brasília. Quando eu era
pequena a capital era a minha cidade natal, Rio de Janeiro.
Quando
começou a trabalhar?
Em junho de 1971, na Varig.
Então, foi o seu primeiro
emprego?
Sim, a Varig foi o meu
primeiro emprego.
Saí da faculdade direto para o
voo.
O que a levou à Varig?
Quando fazia faculdade
acompanhei uma amiga que queria ser comissária de bordo. Fomos à Pan American, British
Caledonian, atualmente British Airways, e Varig. Ela não passou em nenhuma, mas
me foi oferecido o emprego por todas as três companhias, porque eu já era
fluente em inglês, italiano e espanhol e tinha os atributos requeridos pelas
três companhias: 1m77 de altura e 58 quilos.
Tive, porém, que esperar mais
um ano, pois tinha somente 18 anos e era necessário ter 19.
Quando completei 19, me
chamaram de novo, e entre as três escolhi a Varig por ser do meu país.
Na
sua opinião, qual o atributo que pesou mais: 1m77 de altura ou os idiomas? 😉
Hahaha!
Claro que os idiomas! Só
mencionei a altura e o peso porque na época eram muito rígidos com a aparência
pessoal.
Nesta profissão, julgo que
deveriam continuar a ser “rígidos com a aparência”, de homens e mulheres.
Concorda ou discorda?
Concordo que as companhias
deveriam continuar com a preocupação com a aparência pessoal de seus
comissários, como peso e dentes, por exemplo.
Porém, não tão rígidas como
eram no meu tempo. Pessoas de menos de 1m60 não foram admitidas em minha turma,
que acabou sendo uma turma pequena de vinte e oito pessoas.
Existem
outros fatores que são também importantes para a profissão, como saber e querer
lidar com o público em geral.
Muita gente boa acaba não
conseguindo por não ser alta e não ser o que se chama erroneamente de bonito.
Espero terem me entendido!
Sim, entendido.
Você se achava (erroneamente)
bonita? 😊
Me julgava e ainda julgo uma
pessoa normal. A beleza, na minha opinião, está nos olhos de quem a vê.
Lembra do seu primeiro voo?
Sim, para Belo Horizonte, de
Avro, comandante Mello e instrutora Gervásio.
Depois dos primeiros voos,
você achou que era isso mesmo o que queria?
Sim, gostei muito do contato
com os passageiros, me senti útil, e como adoro conversar...
Acho que os japoneses têm
razão quando dizem que servir é uma honra!
Voava também a Ponte Aérea?
Em 1971 as pontes aéreas eram
feitas de Avro, com dois comissários, e de Electra com três. Também de um avião
de asa alta, do qual só me lembro o apelido, Boko Moko, este levava só um
comissário. Todos da rede Nacional faziam ponte aérea e conexões Rio-São Paulo
para os voos internacionais.
Quando é promovida?
A promoção em 1971 passava
primeiro pela etapa de ir do Electra para o Boeing 727, chamado Boeinguinho
pelos comissários.
A minha ida para o 727 foi em
1972, menos de um ano de Electra. As comissárias ainda não ocupavam cargos, só
os homens.
Ressalto um fato que talvez o
interesse: em maio de 1972, fazendo um voo para Porto Alegre com escalas, meu
avião foi sequestrado e ficamos treze horas dentro do avião lotado (oitenta e
nove passageiros), no trecho São Paulo-Curitiba.
Este fato me rendeu a Medalha
Ordem do Mérito Santos Dumont, que recebi junto com toda a tripulação do voo,
em solenidade muito bonita e emocionante na Base Aérea da Aeronáutica em
Cumbica.
Esta medalha é dada por
serviços prestados à Aeronáutica Brasileira e por bravura, o que faz a gente
sentir muito orgulho de ser comissária de bordo!
Claro que nos interessa!
Conte mais, por favor.
Onde, exatamente, se deu o sequestro?
Quantos sequestradores?
Conte mais, por favor.
Onde, exatamente, se deu o sequestro?
Quantos sequestradores?
Não tenho autorização para
falar do sequestro. A FAB, na época, nos fez vários briefings.
Doze horas no solo em
Congonhas, após o sequestrador requisitar três paraquedas e um milhão, na moeda
corrente da época, colocar as instruções no painel de controle do avião e tirar
todas as pessoas da primeira cabine e as colocar no lounge do Electra.
O voo era para Porto Alegre,
no Electra PP-VJN.
Peço que procure nos anais da
Varig.
Me é difícil falar sobre isso,
por favor, entenda!
Tenho a certeza de que
encontrará tudo na mídia do ano de 1972.
(Leia
aqui a história do sequestro do Electra II, em 30 de maio de
1972)
Tripulação: Comte. Celso Caldeira, 1º Oficial, Edimar, Mecânicos de
Voo, Pegrucci e J. Gonçalves, e Comissários Raposo, Viesti, Tania Teixeira e
Maria.
Ficou
alguma sequela/trauma?
Não, nenhuma sequela ou
trauma, apenas recordações de um incidente não bem-vindo.
Então, menos de um ano
depois, você é promovida para o B-727...
Exatamente, e nove meses
depois para a rede Internacional, na época Boeing 707. Mais adiante, quando chegou
o DC 10, fui promovida de novo para as primeiras tripulações do avião novo que
começou a voar em junho de 1974.
Desde 1973 era comissária da
primeira classe. Essa rapidez das promoções femininas era devida aos idiomas e
principalmente porque só com a vinda do DC 10 é que começaram a se dar cargos
de comando às mulheres. No caso, primeira comissária, voando na classe
executiva e recebendo como um chefe de cabine.
Quais os pernoites que mais
gostava?
Roma ou Milão e Londres.
Como ocupava o seu tempo
nos pernoites?
Visitando locais históricos e
museus.
Museu
do Prado (Madrid), Louvre (Paris), Metropolitan Museum of Art (Nova Iorque),
Museo di Roma... qual o seu preferido?
Sem sombra de dúvida, Prado, em
Madrid. Sou estudiosa amadora de história antiga. Me formei na faculdade também
em Literatura Grega e morei em Madrid por um ano baseada com a Varig de 1977 a 1978.
Não gosto muito de arte
moderna, o que me atrai é o período antigo e medieval.
Então, deve ter visitado
Toledo mais de uma vez, para admirar o senhor Doménikos...
Sim, fui muito a Toledo 😃🥴
Quais os
seus pintores e escultores favoritos?
Rodin, Bernini, como escultores.
Pintores, Rembrandt, para mim o maior deles, El Greco e Goya, sem deixar de
lado Michelangelo e Da Vinci.
O Enterro do Conde de Orgaz, óleo
sobre tela, El Greco, 1586–1588, na igreja de São Tomé, Toledo, Espanha
|
Sim, várias, como todos nós passamos: bomba
a bordo, ameaça de bomba e bomba realmente encontrada, evacuação de um 727
lotado indo para o Uruguai e tendo que fazer pouso de emergência em Porto
Alegre, fogo na turbina de um DC-10, tendo que alijar combustível, e outras
mais brandas.
Repito, todos nós passamos por essas
coisas.
Quando os dois primeiros
DC-10 chegaram, foi adotado o sistema de tripulação fixa. Lembra da sua
primeira tripulação?
Sim, fiz o curso com o Chefe
de Equipe, Imperatore, em maio de 1974 quando o primeiro DC 10 chegou.
Depois, quando fomos voar para
Frankfurt no dia 2 de julho as tripulações haviam sofrido mudanças, e a minha
foi então por seis meses a do C/E De Sousa, (Pássaro
Preto), Tâmara, na primeira classe: Andipa na galley, Geyer e Tania
Teixeira no corredor; Chefes de Cabine: Enelruy e Lourival Dias.
Na executiva: comissária Jo e Da Rocha
Na turista: chefe de cabine
Moura, comissárias Tania Maria, depois conhecida como Tania Milan, e Myrian
Machado, comissário Tietzmann e mais um comissário que agora me falta a
lembrança do nome. Eram cinco na turista quando o DC 10 chegou.
Tania, acho que o Enelruy
foi promovido a Chefe de Cabine quando chegaram os outros dois aviões...
Não, querido, o Enelruy já era
chefe de cabine quando eu comecei a voar com o Pássaro, lembro bem do primeiro
voo para Frankfurt em 2 de julho num dos primeiros DC-10 que chegaram.
Lembro bem porque eu voava com a Geyer que depois virou Gladys Geyer, e ela era bem séria e ficou com o chefe de cabine mais gentil, e eu com o Lourival que era mais nervoso, mas comigo era um amigo querido e nos dávamos muito bem.
Lembro bem porque eu voava com a Geyer que depois virou Gladys Geyer, e ela era bem séria e ficou com o chefe de cabine mais gentil, e eu com o Lourival que era mais nervoso, mas comigo era um amigo querido e nos dávamos muito bem.
Lembra que no começo o serviço
era feito em dois pares nos dois corredores do DC10 na primeira classe?
Tenho fotos dessa tripulação
só não sei onde estão... saudades imensas desse tempo!
Essa aviação não volta mais...
Hoje, você voltaria a ser Comissária de Voo?
Sem sombra de dúvida, sim.
Sem sombra de dúvida, sim.
Quando chegaram esses outros dois (novembro/dezembro de 1974) este ‘locutor’ foi promovido para o DC-10. Justamente para a tripulação do Pássaro... voamos juntos?
Em novembro mudou a tripulação
e eu fui para outra, não me lembro direito se voamos juntos.
Você se aposentou?
Sim, em 1996 por tempo de
serviço, 25 anos de voo. E depois em 2005 pelo Aerus, total de voo: 34 anos.
Esclarecendo que aposentei
pelo Aerus em 2005 fazendo acordo com a Varig porque tinha 53 anos e meio, só
faria 54 em junho, e aposentei em fevereiro, acordo esse que eu não recebi
totalmente. A Varig ainda me deve muitas promissórias.
Tem saudades da RG?
Muita! Demais! Foi o melhor
tempo da minha vida, e o meu maior orgulho é ter sido comissária de bordo da
Varig.
E sobre o Aerus, qual é a
sua avaliação?
Espero que façam um acordo com todos os que têm direito, aposentados e ativos.
Espero que façam um acordo com todos os que têm direito, aposentados e ativos.
Fiquei por muitos anos com
minha aposentadoria reduzida e sei a falta que faz.
Depois de aposentada
abraçou outra atividade?
Não, não trabalho mais desde a
aposentadoria.
Mora no Rio ou em São
Paulo?
Moro no Rio de Janeiro e passo
de três a quatro meses por ano em Londres na casa de minha filha.
Já tem netos?
Sim, tenho uma, Beatrice, de 13 anos, mora em Londres com
minha filha Melissa, nasceu lá.
Como vai o Rio de Janeiro?
Sempre bonito, sempre a Cidade
Maravilhosa. Porém, infelizmente, muito perigo nas ruas com assaltos. Não está
tão bom para viver como sempre foi.
E o Brasil, está melhor ou
pior do que o Rio?
Vou sempre para Santa Catarina
no mês de outubro, por duas semanas, e posso ver que por lá as coisas estão
diferentes, mais calmas e menos perigosas, mas a nossa situação política está
deixando a todos de cabelo em pé 🦶.
Por quê?
Porque morei lá por seis anos
na Praia de Cabeçudas, bairro de Itajaí e tenho muitos amigos lá, é o meu lugar
preferido do Brasil!
Tania, perguntei por que a
situação política está ‘deixando todos de cabelo em pé’?... 😊
Acho que as pessoas estão
bastante preocupadas com a situação política, pelo que posso ver pelo Facebook
e por WhatsApps que recebo.
E você, também está
preocupada?
Eu estou torcendo para que as
coisas deem certo. Não gosto de política e nem falo muito sobre isso.
Sou católica praticante e
tenho fé, isso me conforta. Não gosto de multidão e não vou a demonstração
política.
Tenho minha opinião a respeito
do assunto, mas respeito a dos outros se a tiverem diferente da minha.
Tania, que coincidência! A
minha próxima pergunta seria “Você acredita em Deus?”. Mas você já respondeu...
Lê
autores cristãos contemporâneos, como C.S. Lewis, Tim Keller, John Piper...?
Não muito, prefiro ler autores
antigos, de preferência ingleses ou irlandeses, Byron, James Joyce, Keats, Yeats,
e contemporâneos destes.
E o Mundo, está melhor ou pior?
Está mudando, muitas coisas
para melhor e outras parecem que regredimos. A cada dia vemos uma mudança, mas
os resultados serão sentidos conforme o tempo passa.
A derradeira mensagem:
Minha mensagem seria uma frase
que gosto muito.
A diferença entre as palavras reclamar
e gratidão.
Quando você reclama, está
chamando para si outra vez a mesma coisa: re-clamar; chamar de novo.
Quando você agradece, o está
fazendo pelo que já veio a você de bom e pelo que está por vir ainda.
Então, eu diria a todos: agradeçamos
e nunca reclamemos! Paz e Bem 🙏🏻
Obrigado, Tania!
Conversas anteriores:
Daniel Torres: “O enfermeiro atua em todo o ciclo de vida desde o nascimento até à morte, é aquela pessoa que está sempre lá. E é isso que me quero tornar...”
Que bom ver você por aqui. Foi ótimo ler sua entrevista e relembrar tantas coisas da aviação. Um grande abraço, Tania.
ResponderExcluirAngela Arend
Tania ainda é uma linda mulher. Uma das mais belas aeromoças da Varig. Pessoa muito querida.
ResponderExcluirParabéns pela Entrevista ! Muito bom relembrar nossa vivência na Varig, as pessoas citadas, com muita saudade de todas elas, desejo a todos muita Saúde e Alegrias, um forte Abraço Tânia !
ResponderExcluirExcelente entrevista!
ResponderExcluirA Tania entrou na Varig quase um ano depois de mim , e aposentou-se no mesmo ano em que me aposentei ; temos preferências semelhantes e um "modus vivendi" muito parecido. A VARIG só aceitava ( contratava) pessoas que se adequassem à rigidez , quase igual a uma força armada ... ah ah ah.
Mas assim fomos moldados em um trabalho gratificante , familiar e que fez de cada um de nós pessoas mais profissionais, humanas, solidárias e de grande bom senso e intelectualidade !
Parabéns à entrevistada, com votos de grande prosperidade e vida longa para poder contar ainda a muitos , as magníficas histórias da aviação.
PS : Adoramos Santa Catarina . Faz uma semana estivemos passando dias maravilhosos em Pomerode - A cidade mais alemã do Brasil !
Grande abraço do amigo,
Sidnei Oliveira
Assistido AERUS
Ex GIGKK Rio de janeiro.