Carina Bratt
Às vezes, na minha saudade, e
já na casa dos trinta, eu tenho a impressão de que vou explodir por dentro.
Detonar por inteira, como se uma bomba de efeito devastador, me colocasse a
pique. Que no mesmo espocar, me rebentarei em face de uma dor que não me larga,
que não desgruda que não dá uma folga e só faz crescer a sua presença infamante
em mim me deixando cada vez mais para baixo e sem aquela visão benfazeja de um
novo futuro.
Tento me distrair de mil
maneiras. Sair por aí, dar uma volta, ir ao shopping, espiar vitrines, olhar
pessoas, assistir a um filme, tomar uma cerveja. Todavia parece que nessas
fugas de última hora, o problema vai junto, de roldão, e se torna ainda mais
pesado, mais denso, mais desumano e complexo. Às vezes penso em sumir. Mudar de
cidade, recomeçar em outro lugar, em outro estado... Porém, ralho com meus
botões: “aqui tenho meu emprego, ganho bem, comprei meu apê, meu carro, minhas
contas estão em dia, não devo nada a filho de Deus nenhum, meu patrão me ama
(são dez anos, quase onze, trabalhando juntos lado a lado...)”.
Apesar de esse fato ser
concreto, definido dentro de mim, algo insólito me perturba. Desnivela a mente,
me tira do sério, me sufoca, me arrasa. Não é engraçado? Chega a ser cômico.
Tenho tudo o que uma jovem na minha idade almeja. E apesar disso, nada consegue
arrancar a dor que está me matando aos poucos, me definhando, me cozinhando
numa agonia banho-maria infinitamente desgastante e lenta. Essa agonia machuca,
fere, desgasta, amofina, tira o meu espaço-chão, me rouba a liberdade de
escolha, e me prende com fortes correntes a um confinamento pior que o de uma
cela de presídio.
Confesso, nunca estive em uma
cela de presídio, a não ser com o Aparecido, em visita a alguém enrolado. Fico
me questionando o motivo dessas coisas...
Indagando de meu coração aflito o que aconteceu e não obtenho uma
resposta à altura de meus percalços e pesadelos. Olho em volta e no espelho do
meu banheiro vejo minha vida passada. Toda ela. Meus momentos, meus sonhos,
minhas brigas comigo mesma. Percebo sinais de rusgas, ouço gritos, capto
olhares encolerizados.
Revejo, no mesmo perfil desse
espelho, o meu sorriso... Não, não é o meu sorriso. É o dele condensado num
rosto entristecido. Entristecido e vazio como o meu... Acho que a sua vontade
de mudar algo em mim o faz sofrer. O tempo, o nosso tempo às vezes passa tão
rápido, tão ligeiro, tão sem graça e explicação, como um sonho bonito que se
sonha acordado e, de repente, se acorda de verdade para uma realidade oposta,
fria, lúgubre, intransigente. Não podemos reter o tempo... O tempo não nos
concede esse tempo.
Por conta disso, uma realidade
que não estamos esperando surge do nada. Uma realidade que não queremos ou não
desejamos. Não há volta. Sei que não há volta. Regresso previsto, previsível,
se fez imprevisível. Os nossos caminhos não retrocederão. A vida desse homem
vai seguir em frente, a minha, idem. Contudo, comigo ficará (ficou) aqueles
momentos perenes, sagrados, guardados numa caixinha especial, uma caixinha que
se quedará inerte, esquecida em algum lugar dentro da alma frangalhada.
Com ela, a esperança viva de
um amanhã melhor. Existira um amanhã melhor?! Melhor no sentido de pintar um
amor que chegará arrasando, abrilhantando espaços que foram meus. Meus, ou
nossos?! Não sei! Meros devaneios, com certeza, alheamentos e leseiras de uma
moça envelhecida... Enquanto esse porvir não chegar, não aportar não se fizer
real, eu continuarei aqui. Sozinha, parada, quieta, insatisfeita, sem
bússola... Sem porto seguro ao léu de um horizonte que não se mostra.
Mas espere. Uau! Quem sabe na
próxima viagem que fizermos para algum lugar qualquer, Brasil ou mundo afora,
ele não se declare? A esperança é a derradeira tábua de sobrevivência que vai
para as cucuias: “Carina, eu te amo! Apesar de você ser meu braço direito...
Minha flor mais mimosa, maviosa, mais linda no jardim dos meus olhos... Dos
nossos olhos...”. Então nesse momento, nesse instante mágico e surreal, eu me
entregarei de corpo inteiro, inteira, endoidecida, louca, apaixonada, e na hora
do gozo final, explodirei mil vezes dentro da sua (dentro da nossa...) dentro
da nossa paixão e, sobretudo, dentro de um amor que se fez que se faz e se fará
indefinidamente SEM LIMITES.
Título e Texto: Carina
Bratt, de São Paulo, Capital. 6-10-2019
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