Hermes Rodrigues Nery
O Documento Final do Sínodo
Pan-Amazônico é muito, mas muito mais grave do que imaginamos. Para quem sabe
do contexto, entende a gravidade. É a Igreja de Leonardo Boff que ele quis
(desde quando escreveu “E a Igreja se fez Povo”, em 1985), estruturada para
aplicar o projeto de poder global, ancorado nas premissas da Carta da Terra,
com postulados anticristãos. Eles se utilizam da retórica e dos eufemismos para
enganar os desavisados, propõem que todas as estruturas da Igreja sejam
obrigadas a acatar esse projeto, criando inclusive um fundo global para isso.
Gravíssimo! O rosto amazônico é eufemismo para aplicação de uma agenda
ecológica global, que desvia o verdadeiro sentido da evangelização. É rosto
boffiano mesmo. É só ler o livro dele “E a Igreja se fez Povo”. Está tudo lá o
que está contido no Documento Final.
O termo que mais aparece no
texto é a urgência de CONVERSÃO cultural e ecológica. Conversão é o termo
calculado para promover a reengenharia social dentro da própria Igreja, para
que os católicos assimilem a agenda do ambientalismo global gestado pela ONU,
sem protestos, e acatem docilmente as novas éticas (dos valores relativos, do
desenvolvimento sustentável), como se fossem princípios da doutrina social da
Igreja. O termo “conversão” tem o seu significado pervertido e se torna assim
um eufemismo para um desvio de propósitos.
Cabe lembrar os objetivos do
Relatório Kissinger (1974): alterar os padrões culturais e crenças
religiosas. Daí a perversão do sentido original, que passa agora a ser
CONVERSÃO cultural e ecológica, com sentido inclusive revolucionário. E há
também o PECADO ECOLÓGICO que querem introduzir, para os mesmos fins. O
Documento Final é marcado pelo ”NOVO PARADIGMA” da ecologia integral, do
cuidado da ‘casa comum’ e da defesa da Amazônia, defesa esta a partir de tais
interesses. O Documento Final recorre a muitas retóricas: defender a vida,
defender a terra, defender a cultura dos povos indígenas etc. O problema são as
premissas, o diagnóstico feito e as soluções propostas. É o que diz Juan
Cláudio Sanahuja: “Defender uma realidade com argumentos e razões que não são
corretos e adequados é a melhor maneira de deixar esta realidade completamente
indefesa, e que afirmá-la com base errônea é a maneira mais direta de deixá-la
sem apoio”. Com o Documento Final, a Igreja torna-se vulnerável à areia
movediça do ambientalismo global. Pastorais ecológicas serão difundidas em
paróquias, universidades e espaços eclesiais do mundo todo. E ainda a criação
de uma “Universidade Católica Amazônica, com material didático que priorize a
cultura indígena”. Todos em uníssono defendendo a agenda ecológica da ONU.
E quem não estiver afinado com a agenda, cometerá “pecado
ecológico”. Haverá treinamento (inclusive on line) para os padres
assumirem o rosto boffiano de Igreja, com as seguintes disciplinas acadêmicas:
“ecologia integral, eco-teologia, teologia da criação, teologias indianas,
espiritualidade ecológica, a história da Igreja na Amazônia e antropologia
cultural da Amazônia”. (DF, 108) Enfim, uma overdose de ecologia integral na
formação dos padres.
Ban Ki-moon e Jeffrey Sachs
estão satisfeitíssimos. Nunca foi tão fácil agir por dentro da Igreja como
agentes da subversão da fé, com uma agenda e um projeto de poder contra os pobres,
com a retórica de defesa dos pobres, instrumentalizando a Igreja para tais
fins. Para Vaclav Klaus, a economia verde, na verdade, é insustentável, e
visa impedir os pobres de saírem da pobreza. Por isso, a decisão política de
Jorge Mário Bergoglio em fazer do ambientalismo global a prioridade do seu
pontificado seja talvez o seu maior equívoco.
O Documento Final defende o
direito dos indígenas às suas práticas religiosas ancestrais, e a Igreja é quem
deve aprender com eles. Também exige que não se faça proselitismo. Os
indígenas, com suas práticas religiosas ancestrais (práticas pagãs) é quem tem
prioridade. Os padres devem estar lá em estado de escuta. Nesse sentido, o
Documento Final cria vários obstáculos à evangelização, facilitando assim a
disseminação do paganismo. É óbvio que facilita, e torna o padre vítima e refém
disso. A pergunta que se faz: como os padres irão evangelizar com essa ”camisa
de força” cultural que o Documento Final quer colocar? O texto dos bispos
sinodais é claro: nada de proselitismo. A catequese deve estar à escuta das
práticas dos indígenas. Aprender com eles. Tem que haver uma teologia
inculturada. Nada de colonização ideológica, de arbitrariedades, de imposições,
numa leitura anacrônica da realidade. Alguém consegue explicar como isso pode
funcionar, na prática? Por exemplo: numa cultura polígama, ou até mesmo a que
aceita o infanticídio, o incesto etc. Como evangelizar, se o Documento Final
diz que eles é quem tem a prioridade? Alguém em sã consciência pode explicar
isso? Na prática, isso vai funcionar? O fato é – como destaca Sanahuja:
“Pretender que os indígenas retornem às suas práticas religiosas ancestrais é
uma maneira de apagar e impedir a evangelização”. É disso que se trata.
O Documento Final retoma o que
já havia causado estranhamento no Instrumentum Laboris, reconhecendo que há
“sementes do Verbo” nas culturas pagãs”:
“O mundo indígena, com seus
mitos, narrativas, ritos, canções, dança e expressões espirituais, enriquece o
encontro intercultural. Puebla já reconhece que ‘as culturas não são terras
vazias, sem valores autênticos. A evangelização da Igreja não é um processo de
destruição, mas de consolidação e fortalecimento desses valores; uma
contribuição para o crescimento dos ‘germes do verbo’ (DP 401, cf. GS 57)
presente em culturas”. (DF, 54) E mais: “rejeitamos uma evangelização
no estilo colonialista. Anunciar as Boas Novas de Jesus implica reconhecer os
germes da Palavra presentes nas culturas” (DF 55). Nesse sentido, para o
Documento, evangelização é aquela que aceita e promove a cultura indígena, a
cultura pagã.
E o Documento Final avança
ainda mais: “Devemos dar uma resposta verdadeiramente católica ao pedido das
comunidades amazônicas para ADAPTAR A LITURGIA, valorizando a visão de mundo,
tradições, símbolos e ritos originais que incluem dimensões transcendentes,
comunitárias e ecológicas”. (DF, 116). Será elaborado também “um rito
amazônico que expressa a herança litúrgica, teológica, disciplinar e espiritual
da Amazônia” (DF, 119). Agora entendo porque muitos bispos não estavam nem aí
para os nossos pleitos de preservação da identidade católica. Há muito tempo que
o próprio clero vem trabalhando, com afinco, para esvaziar a Igreja de sua
identidade católica, em nome de uma inculturação que debilita a cada dia, o
vigor da fé católica, em sua riqueza civilizacional.
O projeto que eles apresentam
no Documento Final destoa do realismo cristão. Ecoa Rousseau por toda a
parte. Leonardo Boff e Frei Betto estão em festa. É a Revolução Francesa
sonhada por Carlo Maria Martini, dentro da Igreja, enfim, realizada. Foram anos
de espera, de luta, de astúcia. Fizeram questão de renovar o pacto das
catacumbas. Foi o que quis Frei Betto: “Faremos um papa latino-americano e
imporemos a revolução de cima para baixo”. Os bispos sinodais não tiveram a
decência de divulgar os seus nomes, de como cada um votou. O que importa foram
os resultados: aprovou-se o fim gradual do celibato, com o pedido para que haja
padres casados, solicitou-se ainda para avançar nos estudos para o diaconato feminino
etc. No item 111, eles disseram que alguns pediram o fim gradual do celibato
não apenas na Amazônia, mas disseram que “alguns defenderam uma abordagem
universal ao problema”.
E ainda: Além da carne, querem
restringir até o consumo de peixes. E muito mais. Prevalece o tom no DF de que
o “bom selvagem” (como sonhou Rousseau) é que sabe viver, com suas culturas
pagãs ancestrais. Repito: É uma visão que destoa do realismo
cristão. Aprovada a brecha para o fim gradual do celibato, Boff se
vangloria, se acha um gênio da estratégia. Queriam que Helder Câmara estivesse
vivo para ver os avanços que fizeram. Se acham o máximo por serem demolidores.
Festejam por serem demolidores.
O Documento Final
instrumentaliza a Igreja para dar apoio político aos indígenas em seus direitos
de autodeterminação, fomentando a balcanização da região, dificultando a ação
do Estado brasileiro em investir para promover o desenvolvimento responsável na
região, e criando todas as condições políticas para uma futura
internacionalização da Amazônia. “É urgente superar as fronteiras impostas
pela geografia” (DF 112), com isso propõe a criação de uma a rede eclesial
panamazônica (até mesmo uma conferência episcopal própria), antecipando assim a
sua internacionalização.
Os itens 46 e 47 são claros em
relação a isso. Dá apoio total à resolução 169 da OIT que garante as enormes
reservas indígenas, criando territórios autônomos e subdesenvolvidos. Há
estados na Amazônia em que metade são reservas indígenas que favorecem as ONGs
que lá estão etc. Tudo isso é uma séria ameaça à soberania nacional e à
integridade territorial brasileira. Os movimentos sociais populares (quase
todos de esquerda) utilizarão ainda mais a Igreja para seus fins, contrários ao
desenvolvimento responsável da região. O Documento Final, com isso, agudiza a
tensão na região, agravando ainda mais a instabilidade, a insegurança e os
conflitos na Amazônia. As iniciativas propostas pelo Documento Final é uma
declaração de guerra ao Brasil. Coloca em risco a nossa soberania
nacional. No item 73, temos a afirmação: “Queremos sustentar uma cultura
de paz e respeito – não violência e abuso”. Mas as propostas que apresentam vão
no sentido contrário.
A confusão que eles irão criar
na Amazônia quando começarem a pôr em execução o projeto apresentado no
Documento Final é temerária. Eles irão agravar a tensão social, há risco
inclusive de guerra. Infelizmente, como católico apostólico romano, tenho que
reconhecer que as propostas rousseunianas que eles propõem não conduzem à
“cultura da paz” que eles apregoam. É um equívoco o rosto boffiano que eles
propõem. A estratégia deles é criar um departamento na cúria romana para
“obrigar” as outras dioceses do mundo a assumirem o rosto boffiano de Igreja,
impondo de cima para baixo, essa igreja circular e horizontal. Prevalece o
espírito da insurgência, da rebelião contra a identidade católica, contra até
mesmo a instituição do papado, por defenderem a descentralização, para
horizontalizar tudo, na igreja circular, na igreja mosaico, que dialoga e
interage com o paganismo etc.
Não é à toa que Boff é
admirador de Lutero. No livro “E a Igreja se fez Povo” ele dedica um capítulo
inteiro para falar de Lutero, que para ele, foi um libertador. Ele próprio se
sente um Lutero, o libertador. A estratégia dos Teólogos da Libertação em
fazer um “laboratório” da Igreja deles na Amazônia pode colocar em risco a
credibilidade da Igreja no mundo todo. É uma aventura com consequências
imprevisíveis, com contradições e incoerências inaceitáveis. Aquilo que D.
Lorenzo Baldisseri falou no início do Sínodo, de que “mesmo que se refira a uma
área geográfica específica, é sempre um Sínodo que se refere à Igreja
universal”, expressa o afã de estender o rosto boffiano para toda a Igreja.
*
Hoje é um dia de lágrimas e de
dor. A impressão que fica é de que foi tudo em vão o que lutamos esses anos
todos. Mas me conforta o que disse Nosso Senhor Jesus Cristo: “Bem-Aventurados
os que choram, porque serão consolados”. Espero, no dia Juízo, dizer ao Senhor:
“Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser fiel a Vós!”
Título, Imagem e Texto: Hermes
Rodrigues Nery, Fratres In Unum.com, 1-11-2019
Hermes Rodrigues Nery é
Coordenador do Movimento Legislação e Vida. E-mail: prof.hermesnery@gmail.com
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