Nos países de baixa instrução,
o smartphone é usado (perto de) 5% para assuntos úteis e 95% para amenidades (e
metade delas de mau gosto).
Para governantes que assumem
cargos com pouco entusiasmo para trabalhar (projetar, executar e fiscalizar) em
prol do povo (mesmo os que não votaram nele) e arrecadar “por fora” uma quantia
dez ou vinte vezes maior que seu salário, este é o cenário que eles apreciam e
desejam que seja mantido por dezenas de anos (já visando atender seus
sucessores mais chegados).
Por isto estes governantes
produzem factoides semanais para alimentar este perfil popular. Patrocinam
eventos onde artistas e cantores se encarregarão de distrair a “boiada” (eles
chamam de “massa”).
Eventualmente alguma obra mal
gerenciada (95% delas) geram problemas antes do previsto. Eles tentam e torcem
para que qualquer fatalidade só se apresente depois de uns dez anos após ser
entregue como “legado”.
Em surgindo as falhas
(grotescas) antes da hora (tipo queda de ciclovia montada para durar até três
anos depois das “olimpiadas” de 2016), eles vão criando atalhos de fuga, tipo
colocar a culpa em alguma entidade: gestor anterior, São Pedro, tremores no
Chile, falta de cuidados da população, dilatação acima da média por culpa do
“El Ninho”. Ah, ah, ah.
E o povo já domesticado, sem
saber como usar corretamente a arma que possui nas mãos, fica resmungando com
seu smart enquanto a novela da tv não começa.
Para ilustrar melhor esta
tese, faremos uma comparação grotesca usando um fato que HOJE ainda está na
“moda”: a qualidade da água servida (com vestígios de fezes) pela CEDAE (RJ).
CENA 1 (num país que
valoriza seus impostos).
Milhares de usuários (da água
e do smart) combinariam uma vigília diante das casas dos responsáveis com
faixas de protestos e garrafas de água contaminada derramadas nas portas destas
casas. A vigília seria permanente. A cada seis horas, centenas de eleitores
trocariam de “turno” para manter o incômodo aos governantes. Devidamente
filmado e exposto em todos os jornais e tvs do país e vizinhos do continente. Em
menos de três dias o plano de restabelecimento da normalidade é exibido e
acionado. A fatura virá com desconto pelos dias do mau serviço prestado. Em dez
dias tudo se normaliza. O Diretor de águas pede desculpas e sabe que no próximo
“acidente” será expurgado da vida pública.
CENA 2 (exatamente no RJ).
Menos de vinte pessoas exibem
suas torneiras e vasilhas contaminadas e fazem uma “passeata” no quarteirão do
bairro. Talvez queimem quatro ou seis pneus velhos para atrapalhar a vida de
quem está passando na área no momento. A “passeata” dispersa rapidamente quando
um vizinho grita da janela:
- A cantora Juquete vai tirar
o biquíni na praia diante da TV!
Um rapaz sentado na mesa do
boteco improvisa um sambinha com o refrão:
“A CEDAE nos dava água pura no
tempo do Lacerda;
Hoje ela entra na caixa,
trazendo boa merda!”.
O repórter que cobria o evento
sobre a contaminação da água é trocado pelo que cobre o ensaio da escola de
samba do bairro. E o povão na quadra de ensaio sorve copos da cerveja achando
que está livre da “desenteria” que transita no bebedouro da escola de seus
filhos.
Título e Texto: Haroldo
Barboza, 12-2-2020
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