sábado, 13 de junho de 2020

[As danações de Carina] No dia dos namorados, a celebração maior: o dia do amor

Carina Bratt

Ontem, mais um doze de junho passou por aqui.  Com ele, a tiracolo, o dia dos namorados. E eu pergunto às minhas caras amigas e leitoras: vocês saberiam definir o que é dia dos namorados? O dia dos namorados, nada mais é que um dia como outro qualquer, tipo dia dos pais, dia das mães, dia das crianças... Iguais a estes, o dia dos namorados não passa de uma invenção popular e marota da mídia devoradora para arrancar a grana suada das nossas bolsas e carteiras.


O dia dos namorados é um dia normal no nosso viver corriqueiro, como cotidianamente mambembe para os comerciantes, com a variante que essas criaturas (neste dia) procurarão vender um pouco mais para aumentarem seus lucros. O dia dos namorados, na verdade, satisfaz o ego dos que visam encher os bolsos, enquanto os nossos se esvaziam. O que ainda salva o dia dos namorados, é o amor. Se não existisse o amor, não teria razão para o falsificado e mascarado dia dos namorados sobreviver.

Para eu não destruir a ilusão das pessoas que acreditam em cinderelas e histórias da carochinha, afinal, não é, e nunca foi a minha intenção, vamos supor, hipoteticamente, que o dia dos namorados, de fato, “existisse” com boa índole e empenho. Nada melhor, pois, se comemorássemos este dia, falando desta quadra boa da vida, o amor. O amor, até onde sei, é a maior celebração do fato de estarmos vivas!

Foi por ele, o amor, que João Doria, um espertalhão, nos idos de 1940, surgiu com essa cilada do dia dos namorados visando alavancar as vendas de uma loja que tinha por nome Exposição Cliper. Doria levou em conta, que um dia depois, ou seja, dia 13 (portanto hoje), se comemoraria, como aliás, se comemora, o dia de Santo Antonio. Santo Antônio foi um santo português nascido em Lisboa, no ano de 1195 e canonizado em 1232. É imputado a esse simpático santo, a tradição de ser casamenteiro.   



Neste pé, Doria aproveitando a deixa da ocasião, e levando em conta a oportunidade ímpar desse evento, montado no enorme carrossel da felicidade que emana deste dia lindo e maravilhoso, eu pergunto a todas que me leem: vamos esquecer o Doria. Afinal, em consideração ao dia dos namorados, ou melhor, ao feito-matriz que deu causa a ele, o amor... O que venha ser o tal do amor?

Camões asseverava que “é um fogo que arde sem se ver”. Na minha concepção pessoal, o amor é a arte que nunca conseguimos aprender ou entender o seu verdadeiro sentido. No amor não nos formarmos. Tampouco recebemos um diploma de conclusão de curso. No amor não nos graduamos, não fazemos mestrado, ou estágio. Partimos direito para a parte prática.

Talvez seja por este motivo, a prática (sem prática), que geralmente a gente se dá mal. Quem sabe, em face desta rotina é que ele, o amor, por nos envolver de forma tão drástica caímos feito patinhas, na esparrela e apanhamos como éguas fujonas, que tomamos tapas e porradas; safanões e bordoadas. Em nome dele, o amor, sempre o amor, nos descabelamos e, às vezes, perdemos a vida. No amor, caras amigas, a gente vive em perigo constante e iminente vinte e quatro horas.

Em iguais passos, andamos às cegas, e jamais chegamos à lugar nenhum. No amor, nos embaraçamos num labirinto de círculos os mais diversos, e, como cegas, seguimos às apalpadelas, sem termos um ponto fixo, um fim base, um porto seguro, onde possamos parar, dar um tempo e nos refugiarmos. O amor não traz amarras, a não ser aquelas seviciosas que prendem nossos desejos em um engastalhado de sacrifícios e privações, que nos deixam mulambadas e em frangalhos e pior, à beira de um buraco de profundidade imensurável.

Thomas Fuller chegou à conclusão que “quando a pobreza entrava pela porta, o amor saia pela janela”. Discordo dele veementemente. Penso que, muitas de vocês, igualmente, seguirão a minha linha de raciocínio. Entendam. Quando a pobreza entra pela porta, o verdadeiro amor (vejam bem, o verdadeiro amor, não o amor de mentirinha), o verdadeiro amor se faz mais forte, se mostra membrudo, premente, robusto e logicamente, mais coeso e indestrutível.

Sendo, pois, reforçado, taludo e fornido, fecha imediatamente todas as portas e janelas. Cerra na mesma proporção, com correntes e cadeados, todas as saídas por onde ele possa pensar em fugir. O amor genuíno, perdura, não morre, vivifica, não derruba. O amor é uma espécie de paixão avassaladora, que nos leva aos píncaros da loucura. O amor é como um beijo que um maluco qualquer nos roubou no meio da rua, ou no centro da praça.

Apesar disso, para que dure, se faz necessário que outras apropriações “não esperadas” aconteçam. O amor é algo como uma ponte inimaginável que a gente atravessa por sobre um rio de corredeiras mortais e, quando chegamos do outro lado da margem, descobrimos que o cruzamento se fez em vão. Acabou inútil, falho e frustratório. É nesta hora amarga que acordamos para a realidade e vemos, diante dos nossos olhos chorosos, que não há nenhuma possibilidade de volta.

O amor é o silêncio terno que renova o coração. A canção maviosa que o poeta deixou de escrever. O amor, é ainda aquela flor mimosa que a gente colheu de dentro do jardim da nossa alma em festa e a entregamos, de mãos beijadas, a outro. Esse “outro” pode ser qualquer ladrão desconhecido que se ponha em nosso caminho. Um estranho, uma paixão, um ser desprezível que infelizmente a destruirá. Marcel Jouhandeau, romancista francês, escreveu, com muita propriedade, em seu livro Chronique d’une passion que “saber amar não é amar. Amar é não saber”.

E, por não sabermos... Amar é fugir levando as quimeras de contrapeso. É a gente se soltar e saltar, voar no vazio sem medo, pular de um prédio muito alto desconhecendo como a calçada de cimento, lá embaixo, nos recepcionará no final do baque. O amor é o interruptor que quando a gente toca nele, faz explodir à claridade da lâmpada. O amor é o fogo que dá vida à tocha, a pira que mantém o lampião aceso. Por tudo o que eu disse aqui, caras amigas, o dia dos namorados, deveria acabar. De vez, pra sempre. No lugar dele, a gente careceria celebrar, proclamar, exaltar, louvar, sobretudo festejar, o DIA DO AMOR. E viva Santo Antonio.
Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo. 13-6-2020

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