Helena Matos
Carlos do Carmo não
reconciliou o fado com a democracia. Terá reconciliado, sim, aquela esquerda
preconceituosa e ignorante das “gaivotas que voavam” com o fado.
Como aquele senhor que era de
esquerda e cantava fado eles acharam que então podiam gostar de fado. Não era o
fado que precisava de se reconciliar com a democracia, era sim um grupo de
pessoas que precisava de autorização para gostar de fado.
Carlos do Carmo foi um dos que
cumpriu esse papel junto dessas pessoas que, coitadas, condicionam os seus
gostos a uma certificação ideológica. Para se desculparem a si mesmos de terem
menosprezado o fado repetem o chavão da apropriação
do fado por parte do Estado Novo, justificando assim que não ouviam
fado porque ele estava apropriado pelo Estado Novo. Deixem-se de tretas, não
ouviam porque não gostavam e estavam no seu legítimo direito de não gostar. Ou
porque achavam que parecia mal gostar.
O Estado Novo e o Carlos do
Carmo são as justificações que arranjaram para explicarem a sua mediocridade e
nunca terem sido capazes de se comover com esta voz, também ela da família
Carmo.
Título e Texto: Helena Matos, Blasfémias,
4-1-2021
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