segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Aquilo que se diz quando não se sabe do que se fala

Helena Matos

O primeiro-ministro, António Costa, lembrou hoje a “cumplicidade política” que se tornou “numa bela amizade” com Carlos do Carmo e considerou que o artista foi decisivo para libertar o fado e reconciliá-lo com a democracia. “Foi fundamental para reconciliar o fado com a nossa democracia e libertá-lo da ideia tão errada da tentativa de apropriação por parte do Estado Novo. Foi decisivo para essa libertação”, disse António Costa à agência Lusa.

Carlos do Carmo não reconciliou o fado com a democracia. Terá reconciliado, sim, aquela esquerda preconceituosa e ignorante das “gaivotas que voavam” com o fado.

Como aquele senhor que era de esquerda e cantava fado eles acharam que então podiam gostar de fado. Não era o fado que precisava de se reconciliar com a democracia, era sim um grupo de pessoas que precisava de autorização para gostar de fado.

Carlos do Carmo foi um dos que cumpriu esse papel junto dessas pessoas que, coitadas, condicionam os seus gostos a uma certificação ideológica. Para se desculparem a si mesmos de terem menosprezado o fado repetem o chavão da apropriação do fado por parte do Estado Novo, justificando assim que não ouviam fado porque ele estava apropriado pelo Estado Novo. Deixem-se de tretas, não ouviam porque não gostavam e estavam no seu legítimo direito de não gostar. Ou porque achavam que parecia mal gostar.

O Estado Novo e o Carlos do Carmo são as justificações que arranjaram para explicarem a sua mediocridade e nunca terem sido capazes de se comover com esta voz, também ela da família Carmo.

Título e Texto: Helena Matos, Blasfémias, 4-1-2021

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