quinta-feira, 6 de maio de 2021

Um extermínio mais do que desejável

A esquerda sectária nunca abandonou o radicalismo. Nós é que nos fomos habituando a conviver com ele. Se uns são hipócritas, outros preferem ser apenas sonsos. Eu não padeço de nenhum desses males

Suzana Garcia [foto]

Durante as últimas semanas tenho sentido muito apoio nesta caminhada rumo à presidência da Câmara Municipal da Amadora. Tenho recebido inúmeras declarações de incentivo, e tenho testemunhado a confiança na mudança por parte de muitos amadorenses.

E são os amadorenses que me interessam. Porque são eles os únicos destinatários da minha candidatura e é com eles que pretendo estabelecer um projeto político transformador num concelho que não está fatalmente condenado a perpetuar décadas de estagnação, onde as pessoas têm o direito inalienável a emancipar-se da condição inferior de suburbanos e a serem tratados como portugueses de primeira.

Esta candidatura, este assunto, é entre mim e a população da Amadora.

Mas existe um problema profundo na paisagem política portuguesa.

E esse problema chama-se hipocrisia moral.

Durante estes dias caiu quase o Carmo e a Trindade porque utilizei oralmente a palavra “extermínio” associada ao meu desejo do fim do Bloco de Esquerda (a que igualmente juntei o partido Chega). Com efeito entendo que estes partidos são hoje expressão partidária de dois espectros políticos extremados e perniciosos na democracia portuguesa.

Mas o fim pelo qual eu pugno enquanto cidadã é também o único fim admissível em democracia: o fim decretado pelo povo nas urnas de voto, livremente expresso em eleições.

Volto, pois, a afirmar o que sempre propalei: a subsistência das extremas é um sintoma de doença das democracias.

Filósofos como Daniel Innerarity têm alertado consistentemente para o problema da regressão democrática. E um dos factores desta regressão é precisamente o da desconstrução metódica e permanente do consenso liberal democrático que permitiu o florescimento do único espaço de liberdade e de prosperidade que a Humanidade conheceu desde o neolítico: o espaço das democracias ocidentais capitalistas.

Por isso todas as forças políticas que visam, expressa ou dissimuladamente, demolir o sistema económico do mercado livre, deslegitimar a propriedade privada, minar a aliança das democracias consubstanciada na NATO, descredibilizar a confiança popular nas democracias representativas, e destruir o projeto integrador europeu, são forças políticas indesejáveis em democracia.

Não o admitir é um problema de hipocrisia moral.

Aliás a verdadeira medida desta hipocrisia está na comoção da superestrutura do comentariado político perante a expressão de um legítimo desejo de derrota eleitoral de uma força política da extrema-esquerda, cujo programa político real consiste na substituição do modelo democrático liberal representativo, ocidental e capitalista, por um modelo socialista de carácter experimentalista e terceiro-mundista.

É bom relembrar a história.

O Bloco de Esquerda é a expressão partidária sucessora de três forças políticas radicais pequeno-burguesas de fachada socialista: a velha UDP (marxista-leninista de feição albanesa, por sua vez resultante da união de três antigos grupúsculos marxistas-leninistas), o antigo PSR (trotskista, resultado da fusão da antiga Liga Comunista Internacionalista com o Partido Revolucionário dos Trabalhadores) e a Política XXI (organização de dissidentes do PCP e de órfãos do histórico MDP/CDE). A estas agremiações juntaram-se ainda algumas personalidades referentes do extremismo esquerdista em Portugal, como o Prof. Fernando Rosas (que foi um dos fundadores do MRPP).

Mais de vinte anos de normalização da extrema-esquerda feita destes micro-componentes, não podem, no entanto, fazer esquecer a história. Até porque parte importante do património histórico e político desta vanguarda radical urbano-agressiva nunca foi repudiada pelo Bloco de Esquerda. Quando muito este património é apenas dissimulado, escondido, agora sob as roupagens mais modernaças da New Left.

Mas não nos iludamos! Este é o partido cujas respectivas dirigentes ainda o ano passado marchavam em plena Avenida da Liberdade a pedir a morte do presidente brasileiro. Este é o partido que nas últimas eleições autárquicas apresentou como sua número 2 à Câmara de Lisboa a líder militante de um movimento de ocupas, que se dedica a defender a ocupação ilegal de casas. Este é um partido que apresenta uma face institucional – com direito a presença no Conselho de Estado, no Conselho Consultivo do Banco de Portugal, e com espaço de monólogo televisivo em horário nobre – mas que tem uma outra face, anarco-populista, onde vale tudo, desde a ocupação de casas, ao insulto brutal a governantes estrangeiros, à organização de acampamentos onde são eliminadas as casas de banho para homens e mulheres, impondo a miúdos e miúdas casas de banho “não binárias”, até à invasão e destruição de terrenos agrícolas onde se cultiva milho (transgénico). Este é o partido que teve como assessor um sujeito que qualificou as polícias portuguesas como “bosta” e mais declarou ser imperioso “matar o homem branco”.

Por isso, e muito mais, o exercício de vitimização dos dirigentes do Bloco de Esquerda é um exercício de pura hipocrisia. Estes radicais defenderam sempre os terroristas da ETA. Os terroristas das FARC. E ainda em 2017, nas últimas eleições autárquicas, o Bloco candidatou à presidência da Câmara de Grândola um antigo dirigente e operacional das FP-25 de Abril, condenado a uma pena de prisão de 12 anos, confirmada pelo Tribunal da Relação e pelo Supremo Tribunal de Justiça, e posteriormente amnistiado. O mesmo homem que ainda hoje, em 2020 e 2021, continua a proclamar nas redes sociais a legitimidade da violência armada, a vangloriar os seus feitos do passado e até a pedir umas novas FP-25.

A esquerda sectária nunca abandonou o radicalismo. Nós é que nos fomos habituando a conviver com ele. E também a reverenciar figuras como a Dra. Isabel do Carmo, ou como o Coronel Otelo Saraiva de Carvalho, ou como o Major Mário Tomé, hoje considerados como respeitáveis anciãos.

Se uns são hipócritas, outros preferem ser apenas sonsos. Eu não padeço de nenhum desses males.

E nem o facto de o Bloco ter muito poder nas redacções, onde a sua elite determina o jornalismo opinativo, fará com que assolem a minha liberdade de expressão.

A verdade é que o Bloco é um partido com vocação totalitária, política e cultural. E como tal terá de ser combatido sem paninhos quentes. Denunciado. E exterminado através do voto.

Mas a hipocrisia tem mais responsáveis.

Entre nós o Partido Socialista assume cada vez mais uma vocação hegemónica e encara-se a si mesmo com o partido dono do regime. E por isso não convive bem com o regular funcionamento do principal partido da oposição, o PSD.

Mas as razões deste mau convívio são ainda mais fundas do que a apetência vampírica do PS pelo poder total no país. Essas razões terão de ser perscrutadas na contaminação do PS pelo radicalismo geracional urbano-esquerdista do Bloco. Com efeito o PS esquerdizante do Dr. António Costa já não é o mesmo PS moderado do Dr. Mário Soares, que combateu o comunismo em 1975, na Fonte Luminosa.

Desta vez o Dr. António Costa, cada vez mais rasteiro, veio meter-se comigo. Lembrou-se agora da Amadora, um concelho que ele sempre desprezou. Mas vale a pena dizer-lhe umas verdades.

O Dr. António Costa é Primeiro-Ministro de Portugal há 5 anos, 5 meses e 8 dias. São já 284 semanas de exercício de poder com as chaves do Orçamento de Estado numa mão e com a caneta na outra para referendar leis e assinar decisões.  E, contudo, este tempo tem-se traduzido apenas em estagnação e em vazio e para os amadorenses.

Um hospital a rebentar pelas costuras, a encerrar constantemente serviços essenciais, com falta de médicos, enfermeiros e auxiliares, com falta de recursos materiais, com frequentes rutura de stocks. Um hospital que durante a primeira fase da pandemia até teve ruturas no abastecimento de oxigénio, num cenário verdadeiramente terceiro-mundista. Atrasos insuportáveis para consultas e cirurgias. Um hospital que foi construído pelo governo do Prof. Aníbal Cavaco Silva nos anos 90, originalmente para servir 200 mil pessoas, e que atualmente serve uma população de 600 mil.

Durante a pandemia o Primeiro-Ministro desprezou totalmente a Amadora. A OMS recomendava a existência de 1 profissional rastreador para cada 4.000 habitantes. Na Amadora existia apenas 1 para cada 36 mil habitantes. Assim, durante os piores momentos da pandemia mais de 500 casos positivos por dia não eram rastreados.

Os centros de saúde no concelho não dão respostas decentes às necessidades de cuidados primários. Uma parte funciona em velhos edifícios de habitação, dos anos 70 e 80, mal adaptados para o efeito. Já se verificaram casos reportados de médicos a atender doentes na rua. No centro de saúde da Amadora, que o Ministério da Saúde designa formalmente como Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados da Amadora, mas que funciona num prédio adaptado dos anos 70, no Largo Dr. Dário Gandra Nunes, as pessoas esperam na rua, mesmo no centro da cidade. No centro de saúde da Brandoa, a que o Ministério também chama Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados, chove mesmo lá dentro. Basta ir até lá e tirar uma fotografia à porta.

Mais de metade da população da Amadora não tem médico de família. E como o descaramento do governo não parece ter limites, este teve mesmo de ser desmentido por um dos serviços jornalísticos de polígrafo: o governo mentiu no portal de saúde, exagerando em 50 o número de médicos que (não) contratou, quando afinal o reforço de médicos para uma população de 182 mil pessoas foi de apenas 6. O governo foi mesmo obrigado a reconhecer e corrigir a sua mentira (um “lapso”). Notável: seis médicos de família contratados para uma população de 182 mil pessoas! É esta a consideração que os amadorenses merecem do PS e do Dr. António Costa.

Na Amadora as esquadras estão em mau estado. Faltam polícias. Faltam meios e recursos para os nossos homens e mulheres de uniforme, nomeadamente armas, coletes e viaturas.

Os comboios da linha de Sintra são sucata a cair aos bocados, com atrasos, com supressões, inclusive com supressão de horários em horas de ponta, comboios com más condições de higiene, com escadas rolantes e elevadores de acesso às plataformas constantemente avariados.

Na Estação Ferroviária de Santa Cruz-Damaia a entrada superior, que dá acesso ao bairro da Cova da Moura, está encerrada por questões de segurança há dez anos. Permanece abandonada e vandalizada. Uma população de cerca de 5 000 pessoas sem acesso próximo ao comboio. Muitos trabalhadores e residentes do bairro ignorados há dez anos. Pessoas trabalhadoras, que se levantam de madrugada cedo, e estudantes que chegam de Lisboa já tarde, pessoas com mobilidade condicionada, obrigadas a percorrer, por uma encosta íngreme, uma distância física de cerca de 2 kms. Tudo isto enquanto têm uma entrada cancelada junto ao seu bairro.

De facto, a Cova da Moura é muito saudada por alguma elite urbana da capital como um exemplo (exótico) de multiculturalidade vibrante. Mas a verdade é que nenhum desses influentes alguma vez lá tentou ir de comboio. Ou de autocarro.  Sequer, a pé.

E chegamos assim à mais improvável das conclusões: O investimento público na Amadora foi superior no tempo do governo de Pedro Passos Coelho, mesmo durante a troika, do que tem sido neste tempo fácil do governo do PS e do Dr. António Costa, apoiado pelos seus parceiros da extrema-esquerda.

Foi o governo de Pedro Passos Coelho que procedeu ao fecho da CRIL (o acesso do IC16 ao Centro Comercial Colombo). Foi o governo de Pedro Passos Coelho que procedeu ao prolongamento da Linha Azul do Metropolitano de Lisboa, desde a Estação de Amadora-Este até à Reboleira, permitindo o interface com a CP (linha de Sintra). Tudo investimentos realizados com recurso exclusivo a dinheiros públicos do Orçamento de Estado, num tempo de resgate financeiro, e sem qualquer comparticipação europeia.

Infelizmente, muito pelo contrário, o Dr. António Costa é um tiranete para a Amadora.

Não só não tem efetuado qualquer investimento público relevante para os amadorenses, como ainda se permitiu desviar verbas de projetos que estavam alocados à Amadora. Cancelou a prevista expansão da Linha Azul até ao Hospital Amadora-Sintra, cuja população tem como lhe aceder apenas por carreiras da Vimeca, ou por táxi, ou viatura particular.

Mas em vez deste investimento tão premente, tão necessário para cerca de 600 000 pessoas, o Dr. António Costa preferiu proceder ao despejo de dinheiro na futura Linha Circular do centro de Lisboa, não servindo nem os amadorenses nem os lisboetas que mais precisam de transporte, optando ao invés por colocar um dispendioso carrossel para turistas no centro de Lisboa, servindo apenas a zona mais afluente da capital e os grandes projetos imobiliários aprovados por Manuel Salgado, que se projetam com expectativa ao longo do seu percurso.

Esta é a realidade: o Dr. António Costa tira aos suburbanos para dar aos privilegiados do Chiado.

Aliás em matéria de transportes a ação do Dr. António Costa tem sido deplorável para este concelho. Não são só os comboios ronceiros e podres. Não é só o metropolitano adiado. São também as carreiras da Carris que foram suprimidas no território da Amadora, assim que o Dr. António Costa entregou a gestão da Carris ao seu herdeiro Fernando Medina.

A verdade é que para o Dr. António Costa e o PS os votos da população da Amadora parecem ser favas contadas. Por isso o seu tom rasteiro e o seu desprezo altaneiro pelos outros.

Mas desta vez engana-se.

A sua arrogância terá um fim. Será também um extermínio (eleitoral) mais do que desejável.

Título e Texto: Suzana Garcia, Advogada, candidata do PSD à Câmara Municipal da Amadora, Observador, 5-5-2021

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