A esquerda sectária nunca abandonou o radicalismo. Nós é que nos fomos habituando a conviver com ele. Se uns são hipócritas, outros preferem ser apenas sonsos. Eu não padeço de nenhum desses males
Suzana Garcia [foto]
Durante as últimas semanas tenho sentido muito apoio nesta caminhada rumo à presidência da Câmara Municipal da Amadora. Tenho recebido inúmeras declarações de incentivo, e tenho testemunhado a confiança na mudança por parte de muitos amadorenses.
E são os amadorenses que me
interessam. Porque são eles os únicos destinatários da minha candidatura e é
com eles que pretendo estabelecer um projeto político transformador num
concelho que não está fatalmente condenado a perpetuar décadas de estagnação,
onde as pessoas têm o direito inalienável a emancipar-se da condição inferior
de suburbanos e a serem tratados como portugueses de primeira.
Esta candidatura, este
assunto, é entre mim e a população da Amadora.
Mas existe um problema
profundo na paisagem política portuguesa.
E esse problema chama-se hipocrisia
moral.
Durante estes dias caiu quase
o Carmo e a Trindade porque utilizei oralmente a palavra “extermínio” associada
ao meu desejo do fim do Bloco de Esquerda (a que igualmente juntei o partido
Chega). Com efeito entendo que estes partidos são hoje expressão partidária de
dois espectros políticos extremados e perniciosos na democracia portuguesa.
Mas o fim pelo qual eu pugno
enquanto cidadã é também o único fim admissível em democracia: o fim decretado
pelo povo nas urnas de voto, livremente expresso em eleições.
Volto, pois, a afirmar o que
sempre propalei: a subsistência das extremas é um sintoma de doença das
democracias.
Filósofos como Daniel
Innerarity têm alertado consistentemente para o problema da regressão
democrática. E um dos factores desta regressão é precisamente o da
desconstrução metódica e permanente do consenso liberal democrático que
permitiu o florescimento do único espaço de liberdade e de prosperidade que a
Humanidade conheceu desde o neolítico: o espaço das democracias ocidentais
capitalistas.
Por isso todas as forças
políticas que visam, expressa ou dissimuladamente, demolir o sistema económico
do mercado livre, deslegitimar a propriedade privada, minar a aliança das
democracias consubstanciada na NATO, descredibilizar a confiança popular nas
democracias representativas, e destruir o projeto integrador europeu, são forças
políticas indesejáveis em democracia.
Não o admitir é um problema de hipocrisia moral.
Aliás a verdadeira medida
desta hipocrisia está na comoção da superestrutura do comentariado político
perante a expressão de um legítimo desejo de derrota eleitoral de uma força
política da extrema-esquerda, cujo programa político real consiste na
substituição do modelo democrático liberal representativo, ocidental e
capitalista, por um modelo socialista de carácter experimentalista e
terceiro-mundista.
É bom relembrar a história.
O Bloco de Esquerda é a
expressão partidária sucessora de três forças políticas radicais
pequeno-burguesas de fachada socialista: a velha UDP (marxista-leninista de
feição albanesa, por sua vez resultante da união de três antigos grupúsculos
marxistas-leninistas), o antigo PSR (trotskista, resultado da fusão da antiga
Liga Comunista Internacionalista com o Partido Revolucionário dos
Trabalhadores) e a Política XXI (organização de dissidentes do PCP e de órfãos
do histórico MDP/CDE). A estas agremiações juntaram-se ainda algumas
personalidades referentes do extremismo esquerdista em Portugal, como o Prof.
Fernando Rosas (que foi um dos fundadores do MRPP).
Mais de vinte anos de
normalização da extrema-esquerda feita destes micro-componentes, não podem, no
entanto, fazer esquecer a história. Até porque parte importante do património
histórico e político desta vanguarda radical urbano-agressiva nunca foi
repudiada pelo Bloco de Esquerda. Quando muito este património é apenas
dissimulado, escondido, agora sob as roupagens mais modernaças da New Left.
Mas não nos iludamos! Este é o
partido cujas respectivas dirigentes ainda o ano passado marchavam em plena Avenida da Liberdade a pedir a morte do
presidente brasileiro. Este é o partido que nas últimas eleições
autárquicas apresentou como sua número 2 à Câmara de Lisboa a líder militante
de um movimento de ocupas, que se dedica a defender a ocupação ilegal de casas.
Este é um partido que apresenta uma face institucional – com direito a presença
no Conselho de Estado, no Conselho Consultivo do Banco de Portugal, e com
espaço de monólogo televisivo em horário nobre – mas que tem uma outra face,
anarco-populista, onde vale tudo, desde a ocupação de casas, ao insulto brutal
a governantes estrangeiros, à organização de acampamentos onde são eliminadas
as casas de banho para homens e mulheres, impondo a miúdos e miúdas casas de
banho “não binárias”, até à invasão e destruição de terrenos agrícolas onde se
cultiva milho (transgénico). Este é o partido que teve como assessor um sujeito
que qualificou as polícias portuguesas como “bosta” e mais declarou ser
imperioso “matar o homem branco”.
Por isso, e muito mais, o
exercício de vitimização dos dirigentes do Bloco de Esquerda é um exercício de
pura hipocrisia. Estes radicais defenderam sempre os terroristas da ETA. Os
terroristas das FARC. E ainda em 2017, nas últimas eleições autárquicas, o
Bloco candidatou à presidência da Câmara de Grândola um antigo dirigente e
operacional das FP-25 de Abril, condenado a uma pena de prisão de 12 anos,
confirmada pelo Tribunal da Relação e pelo Supremo Tribunal de Justiça, e
posteriormente amnistiado. O mesmo homem que ainda hoje, em 2020 e 2021,
continua a proclamar nas redes sociais a legitimidade da violência armada, a
vangloriar os seus feitos do passado e até a pedir umas novas FP-25.
A esquerda sectária nunca
abandonou o radicalismo. Nós é que nos fomos habituando a conviver com ele. E
também a reverenciar figuras como a Dra. Isabel do Carmo, ou como o Coronel
Otelo Saraiva de Carvalho, ou como o Major Mário Tomé, hoje considerados como
respeitáveis anciãos.
Se uns são hipócritas, outros
preferem ser apenas sonsos. Eu não padeço de nenhum desses males.
E nem o facto de o Bloco ter muito poder nas redacções, onde a sua
elite determina o jornalismo opinativo, fará com que assolem a minha liberdade
de expressão.
A verdade é que o Bloco é um partido com vocação totalitária,
política e cultural. E como tal terá de ser combatido sem paninhos quentes.
Denunciado. E exterminado através do voto.
Mas a hipocrisia tem mais
responsáveis.
Entre nós o Partido Socialista
assume cada vez mais uma vocação hegemónica e encara-se a si mesmo com o
partido dono do regime. E por isso não convive bem com o regular funcionamento
do principal partido da oposição, o PSD.
Mas as razões deste mau
convívio são ainda mais fundas do que a apetência vampírica do PS pelo poder
total no país. Essas razões terão de ser perscrutadas na contaminação do PS
pelo radicalismo geracional urbano-esquerdista do Bloco. Com efeito o PS
esquerdizante do Dr. António Costa já não é o mesmo PS moderado do Dr. Mário
Soares, que combateu o comunismo em 1975, na Fonte Luminosa.
Desta vez o Dr. António Costa,
cada vez mais rasteiro, veio meter-se comigo. Lembrou-se agora da Amadora, um
concelho que ele sempre desprezou. Mas vale a pena dizer-lhe umas verdades.
O Dr. António Costa é
Primeiro-Ministro de Portugal há 5 anos, 5 meses e 8 dias. São já 284 semanas
de exercício de poder com as chaves do Orçamento de Estado numa mão e com a
caneta na outra para referendar leis e assinar decisões. E, contudo, este
tempo tem-se traduzido apenas em estagnação e em vazio e para os amadorenses.
Um hospital a rebentar pelas
costuras, a encerrar constantemente serviços essenciais, com falta de médicos,
enfermeiros e auxiliares, com falta de recursos materiais, com frequentes
rutura de stocks. Um hospital que durante a primeira fase da pandemia até teve
ruturas no abastecimento de oxigénio, num cenário verdadeiramente
terceiro-mundista. Atrasos insuportáveis para consultas e cirurgias. Um
hospital que foi construído pelo governo do Prof. Aníbal Cavaco Silva nos anos
90, originalmente para servir 200 mil pessoas, e que atualmente serve uma
população de 600 mil.
Durante a pandemia o
Primeiro-Ministro desprezou totalmente a Amadora. A OMS recomendava a
existência de 1 profissional rastreador para cada 4.000 habitantes. Na Amadora
existia apenas 1 para cada 36 mil habitantes. Assim, durante os piores momentos
da pandemia mais de 500 casos positivos por dia não eram rastreados.
Os centros de saúde no
concelho não dão respostas decentes às necessidades de cuidados primários. Uma
parte funciona em velhos edifícios de habitação, dos anos 70 e 80, mal
adaptados para o efeito. Já se verificaram casos reportados de médicos a
atender doentes na rua. No centro de saúde da Amadora, que o Ministério da
Saúde designa formalmente como Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados da
Amadora, mas que funciona num prédio adaptado dos anos 70, no Largo Dr. Dário
Gandra Nunes, as pessoas esperam na rua, mesmo no centro da cidade. No centro
de saúde da Brandoa, a que o Ministério também chama Unidade de Cuidados de
Saúde Personalizados, chove mesmo lá dentro. Basta ir até lá e tirar uma
fotografia à porta.
Mais de metade da população da
Amadora não tem médico de família. E como o descaramento do governo não parece
ter limites, este teve mesmo de ser desmentido por um dos serviços
jornalísticos de polígrafo: o governo mentiu no portal de saúde, exagerando em
50 o número de médicos que (não) contratou, quando afinal o reforço de médicos
para uma população de 182 mil pessoas foi de apenas 6. O governo foi mesmo
obrigado a reconhecer e corrigir a sua mentira (um “lapso”). Notável: seis
médicos de família contratados para uma população de 182 mil pessoas! É esta a
consideração que os amadorenses merecem do PS e do Dr. António Costa.
Na Amadora as esquadras estão
em mau estado. Faltam polícias. Faltam meios e recursos para os nossos homens e
mulheres de uniforme, nomeadamente armas, coletes e viaturas.
Os comboios da linha de Sintra
são sucata a cair aos bocados, com atrasos, com supressões, inclusive com
supressão de horários em horas de ponta, comboios com más condições de higiene,
com escadas rolantes e elevadores de acesso às plataformas constantemente
avariados.
Na Estação Ferroviária de
Santa Cruz-Damaia a entrada superior, que dá acesso ao bairro da Cova da Moura,
está encerrada por questões de segurança há dez anos. Permanece abandonada e
vandalizada. Uma população de cerca de 5 000 pessoas sem acesso próximo ao
comboio. Muitos trabalhadores e residentes do bairro ignorados há dez anos.
Pessoas trabalhadoras, que se levantam de madrugada cedo, e estudantes que
chegam de Lisboa já tarde, pessoas com mobilidade condicionada, obrigadas a
percorrer, por uma encosta íngreme, uma distância física de cerca de 2 kms.
Tudo isto enquanto têm uma entrada cancelada junto ao seu bairro.
De facto, a Cova da Moura é
muito saudada por alguma elite urbana da capital como um exemplo (exótico) de
multiculturalidade vibrante. Mas a verdade é que nenhum desses influentes
alguma vez lá tentou ir de comboio. Ou de autocarro. Sequer, a pé.
E chegamos assim à mais
improvável das conclusões: O investimento público na Amadora foi superior no
tempo do governo de Pedro Passos Coelho, mesmo durante a troika, do que tem
sido neste tempo fácil do governo do PS e do Dr. António Costa, apoiado pelos
seus parceiros da extrema-esquerda.
Foi o governo de Pedro Passos
Coelho que procedeu ao fecho da CRIL (o acesso do IC16 ao Centro Comercial
Colombo). Foi o governo de Pedro Passos Coelho que procedeu ao prolongamento da
Linha Azul do Metropolitano de Lisboa, desde a Estação de Amadora-Este até à
Reboleira, permitindo o interface com a CP (linha de Sintra). Tudo
investimentos realizados com recurso exclusivo a dinheiros públicos do
Orçamento de Estado, num tempo de resgate financeiro, e sem qualquer
comparticipação europeia.
Infelizmente, muito pelo
contrário, o Dr. António Costa é um tiranete para a Amadora.
Não só não tem efetuado
qualquer investimento público relevante para os amadorenses, como ainda se permitiu
desviar verbas de projetos que estavam alocados à Amadora. Cancelou a prevista
expansão da Linha Azul até ao Hospital Amadora-Sintra, cuja população tem como
lhe aceder apenas por carreiras da Vimeca, ou por táxi, ou viatura particular.
Mas em vez deste investimento
tão premente, tão necessário para cerca de 600 000 pessoas, o Dr. António
Costa preferiu proceder ao despejo de dinheiro na futura Linha Circular do
centro de Lisboa, não servindo nem os amadorenses nem os lisboetas que mais
precisam de transporte, optando ao invés por colocar um dispendioso carrossel
para turistas no centro de Lisboa, servindo apenas a zona mais afluente da
capital e os grandes projetos imobiliários aprovados por Manuel Salgado, que se
projetam com expectativa ao longo do seu percurso.
Esta é a realidade: o Dr.
António Costa tira aos suburbanos para dar aos privilegiados do Chiado.
Aliás em matéria de
transportes a ação do Dr. António Costa tem sido deplorável para este concelho.
Não são só os comboios ronceiros e podres. Não é só o metropolitano adiado. São
também as carreiras da Carris que foram suprimidas no território da Amadora,
assim que o Dr. António Costa entregou a gestão da Carris ao seu herdeiro
Fernando Medina.
A verdade é que para o Dr.
António Costa e o PS os votos da população da Amadora parecem ser favas
contadas. Por isso o seu tom rasteiro e o seu desprezo altaneiro pelos outros.
Mas desta vez engana-se.
A sua arrogância terá um fim.
Será também um extermínio (eleitoral) mais do que desejável.
Título e Texto: Suzana
Garcia, Advogada, candidata do PSD à Câmara Municipal da Amadora, Observador,
5-5-2021
Relacionado:
Custaria muito escrever: Suzana Garcia espera que BE e Chega sejam “exterminados”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-