Quem não dançar conforme a música, que é controlada pela esquerda radical, será carta fora do baralho
Rodrigo Constantino
Como tantos outros projetos anteriores, salvar o mundo — dos combustíveis fósseis, do patriarcado, da homofobia, do capitalismo — exige que as pessoas sejam excluídas do processo. A “canalha” é simplesmente muito incivilizada, muito pouco sofisticada, muito inconsciente de seus reais interesses e precisa de um “empurrãozinho” para fazer as mudanças necessárias. Em toda utopia, o obstáculo costuma ser sempre o mesmo: a natureza humana, ou seja, o próprio homem. Se ao menos fosse possível criar um homem…
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Foto: Montagem de fotos Shutterstock |
Não é diferente com o
capitalismo lacrador. É o que sustenta Stephen Soukup em The
Dictatorship of Woke Capital: How Political Correctness Captured Big Business.
Ao concordar em mudar o foco público de sua missão para as “partes
interessadas” (stakeholders), em vez de acionistas (shareholders),
os membros da Mesa Redonda de Negócios esperavam ter maior liberdade para fazer
o que quisessem, para perseguir seus próprios interesses e suas próprias
predileções políticas e poder chamar isso por um nome nobre: capitalismo das
partes interessadas!
Mas, como alguns desses CEOs
já aprenderam, e como os outros aprenderão com o tempo, não é assim que a coisa
funciona. Acionistas ativistas — a maioria dos quais busca fins politizados e
se preocupa menos com a lucratividade de uma empresa e mais com seu alinhamento
com sua postura política — são como tubarões. Eles vivem para se alimentar, não
o contrário. É a tese que Soukup sustenta no livro, buscando na revolução
cultural da década de 1960 a fonte para tais mudanças. Esses ativistas, tais
como tubarões, estão sempre à espreita para farejar a menor gota de sangue e
agir, atacar. Eles percebem a fraqueza nas empresas e avançam.
O que muitos já descobriram foi uma vasta rede de organizações, algumas religiosas, algumas políticas, algumas orientadas para o investimento, mas todas dedicadas ao mesmo propósito: usar a estrutura dos mercados de capitais para substituir a vontade democrática do povo para fazer avançar políticas progressistas que seriam politicamente inviáveis. Incapazes de persuadir a população — inculta e ignorante demais —, esses ativistas dominam as empresas e, utilizando-as como instrumentos, impõem sua visão de mundo aos demais.
Soukup mostra como isso
aconteceu gradualmente, com uma mistura de boas intenções, práticas
administrativas revolucionárias e estratégia deliberada de esquerdistas. A
partir da década de 1990, Wall Street deu uma guinada à esquerda. Com Obama
isso ficou visível. Funcionários do Goldman Sachs e outras instituições
semelhantes foram os maiores doadores de sua campanha. Eles simplesmente amavam
o “liberalismo social” de Obama. Como foi que isso aconteceu?
Para o autor, o fracasso da
esquerda em entregar sua Utopia igualitária fez com que muitos abandonassem o
marxismo e passassem a flertar com o ceticismo epistemológico de Nietzsche. Em
resposta às desilusões com o socialismo, a esquerda abandonou a razão
“científica”, deixou para trás a própria realidade e mergulhou de cabeça no
relativismo. Se o marxismo era tido como científico e consequência do próprio
Iluminismo, agora a esquerda se voltava contra a razão, a lógica, o Iluminismo,
e passava a questionar a própria possibilidade de conhecer a verdade.
Munida desse niilismo e
convencida de que libertinagem era liberdade, a Nova Esquerda partiu então para
a sua revolução cultural, subvertendo as instituições, avançando sobre a
cultura, a começar pela academia, transformada numa fábrica de doutrinação da
jovem elite universitária. Era a “longa marcha” para destruir os pilares da
civilização judaico-cristã, implodir as tradições, desestabilizar as famílias.
O socialismo podia ter fracassado miseravelmente, mas o capitalismo não era
muito melhor. Se não foi possível criar o Novo Mundo, então era necessário
destruir o Velho.
A transformação de Wall Street
não foi acidental, segundo Soukup. Foi o produto de um processo longo e
cuidadoso, uma marcha por várias outras instituições, virando-as de cabeça para
baixo até que os titãs do “capitalismo” estivessem totalmente convencidos de
que sua rendição à cultura não era apenas inevitável, mas constituía o único
caminho moralmente legítimo.
Premissa fundamental nessa
transição era o desprezo pelo povão. Esse foi o legado progressista. Desde os
progressistas, como Richard Ely e seu pupilo Woodrow Wilson, inspirados nas
experiências alemães de Bismarck, os “liberais” democratas passaram a enxergar
numa elite “científica” o papel preponderante na administração pública.
Desprovidos de paixões humanas, essa burocracia técnica saberia como liderar a
nação, com base em decisões de gestores “profissionais” mais racionais do que
as massas.
No começo, muitas empresas
aderiram, sinalizando falsa virtude para agradar à patota
A ideia de que as pessoas são
muito ignorantes e egoístas para votar naquilo que é de seus próprios
interesses, ou os melhores interesses da sociedade como um todo, foi
estabelecida como um princípio definidor da gestão pública americana. Os experts ou
especialistas, sem votos e sem accountability, concentrariam o
poder para guiar os demais.
A fusão dessas duas
características — o relativismo moral da Nova Esquerda e a mentalidade elitista
e arrogante dos progressistas — pariu a revolução nos negócios americanos, com
ênfase cada vez maior nas pautas ideológicas determinadas pela esquerda. Agora,
apenas uma coisa impedia o surgimento do “Novo Homem Americano”: o Velho
Americano. O Velho Americano estava, na maior parte do tempo, muito feliz,
empregado, curtindo sua família e seu lazer. Claro, havia problemas, mas a
Utopia não existe, como o Velho Americano sabia, mas o Novo Americano se
recusava a acreditar.
O “capitalismo das partes
interessadas” surgiu como uma ferramenta analítica: empresários e acadêmicos
buscando entender como as partes envolvidas em seus negócios impactavam ou eram
impactados por eles. Isso era do interesse dos próprios acionistas, claro, para
maximizar seus retornos e compreender melhor o ambiente de seus negócios. Com o
passar do tempo, trocou-se a análise pelo julgamento de valor, e não era mais o
caso de conhecer o entorno, mas de desejar mudá-lo com base em uma visão
preconcebida de mundo, ou seja, uma ideologia.
Cada empresa teria de
demonstrar sua visão “consciente”, seja com o meio ambiente, seja com as
minorias. Cada grupo de interesse pressionaria numa direção. Já que não importa
tanto o retorno dos acionistas, mas sim a subjetiva aprovação dos stakeholders,
as empresas teriam de se submeter aos ditames dos grupos mais organizados e
estridentes. No começo, muitas empresas aderiram de olho num nicho de mercado,
sinalizando falsa virtude para agradar à patota. Mas como já ficou claro para a
maioria agora, o monstro, bem alimentado, cresceu, a ponto de devorar quem não
se submeter às novas regras do jogo.
Chegamos, assim, a essa
ditadura do capitalismo lacrador: quem não dançar conforme a música, que é
controlada pela esquerda radical, será carta fora do baralho.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, revista OESTE, nº 74, 20-8-2021h
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