quinta-feira, 26 de maio de 2022

[Daqui e Dali] O complexo de inferioridade do português

Humberto Pinho da Silva

Na nossa terra, neste bonito jardinzinho plantado junto ao Atlântico, varanda florida sobre o mar azul, o povo é hospitaleiro e subserviente, acocorando-se diante de quem vem de fora, mormente de carteira recheada.

Quando faleceu Rebelo da Silva, Ramalho, referindo-se ao seu Portugal, escreveu:

"(...) Sabes agora ó pátria qual é a diferença característica que te distingue de todos os países do mundo, e que vivamente te retrata na tua inépcia? É que se um homem que deixasse em Madrid, em Paris, em Londres, em Florença, em Berlim ou em Bruxelas, lá vinte mil homens a pé, levando no coração o luto nacional, o teriam acompanhado à derradeira morada. Tu mandaste um coche da Casa Real!" – "As Farpas”

Era assim como a nação respeitava os ilustres. E agora?

Em 2 de Abril de 2003, "O Público", publicou longa entrevista a António José Saraiva, onde este analisou o âmago do sentimento nacional:

"Os portugueses são acomodativos. Perdem facilmente o sentimento... Por exemplo, os filhos de portugueses, em Paris, quase todos decidem ser franceses. Uma coisa que me entristece... Um português acha sempre que o estrangeiro é melhor. Tem razão para achar, quando olha para um país desenvolvido. Mas a gente vê um país, como o basco, a lutar pela sua personalidade e percebe o que é nacionalismo, o que é o patriotismo."

Na mesma entrevista acrescenta:

"Um castelhano só fala castelhano em qualquer parte do mundo. A gente ouve, mesmo em Paris, e apercebe logo que ele é castelhano. Não fala francês direito. O português, coitadinho, adapta-se, fala português pretendendo falar francês, e quando chega, vem cheio de ‘pirres’, ‘à gouche’..."

Assim continua na década vinte, no nosso século, a mentalidade de muitos. Nos últimos anos, inesperadamente surgiu onda saudosista dos descendentes de portugueses, que mal conhecem a língua de Camões, desconhecem a História e muitos, os usos e costumes, garantindo, todavia, a sua verdadeira nacionalidade... obtendo assim as regalias – não os deveres – dos cidadãos europeus...

Afortunadamente, o atual Presidente da República tudo tem feito para inverter o complexo que tantos políticos, desportistas, artistas e figuras públicas, sofrem, considerando que é seu dever exprimirem-se no idioma do país que visitam.

Estando em Foz de Iguaçu, visitei a Argentina, num grupo de brasileiros. Todos ou quase todos, falavam castelhano apalhaçado. Apenas eu falei português. Fui compreendido perfeitamente e até louvado!

Dizia Eça que no seu tempo os casquilhos falavam francês, agora fala-se inglês. É bonito, é chique, e dá status.

E os bacocos nacionais, escancaram a boca de espanto, e pensam estupefactos: Como é culto!... Como é inteligente!...

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, maio de 2022

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2 comentários:

  1. Pois aqui no Brasil é a mesma coisa ou pior. Aqui o complexo é de vira-lata. A única diferença é que pela geo localização, por essas bandas os heróis são os Coca-americanos, do norte é claroi. Os coca-colas do sul sequer sabem que também são americanos, mas falam delivery e on-line como se tivessem nascido com essas palavras na boca. Então os sacoleiros de pindorama praticam as mesmas vergonhas, senão pior que os nossos descobridores, cuja data do descobrimento, sequer é cultuada, mas datas americanas do norte, é claro, são por aqui festejadas, fora o Halloween e outras bizarrices viralaticas.
    JOSE MANUEL

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  2. O complexo de vira lata vem ao acaso por causa de perder a copa de 1950 pra o Uruguai. Eu chamo de complexo de Nelson Rodrigues. Morei em Lisboa na época de Salazar, quando Portugal importava até vasos de WC. Naquela época nós não entendíamos a linguagem dos portugueses nem eles a nossa. Certa vez vindo de Londres o controlador pediu que ABORREGÁSSEMOS, depois do pouso o comandante falou aborregamos. O sentimento antilusitano nasceu por causa de Dom Pedro I. O Marques de Barbacena utilizou o " GABINETE SECRETO OU DE ÓDIO " então acusou-o de corrupção. Tal e qual o ódio por alemães na segunda guerra foi o ódio por lusitanos nessa época. Adoro meu país, minhas tradições e minha língua. Me lembro de Maputo onde vi as favelas de chão batido mais limpas que banheiros públicos, onde o povo massacrado pelo comunismo dormia nas filas esperando o mercados abrirem. Meu melhor amigo no Rio foi MERCEANO DE OLIVA LEMOS DE ALMEIDA, um verdadeiro lusitano do interior de Bragança. DETESTO O CARNAVAL, GESTA DOS TRAFICANTES BRASILEIROS COM DINHEIRO PÚBLICO. VAMOS FELICITAR NOSSO POVO INVÉS DE DEGRADÁ- LOS.

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