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Dom Odilo Scherer [foto], cardeal arcebispo de São Paulo, publicou um artigo em “O Estado de São Paulo” no último sábado, dia 13; o mesmo artigo foi publicado no site da arquidiocese de São Paulo, mas o site da arquidiocese está fora do ar.
O artigo divide-se basicamente
em duas partes, que talvez pudessem ser intituladas “primeiro turno” e “segundo
turno”.
Na primeira parte, ele critica
a polarização ente “candidato a” e “candidato b”… Deixaria ele ao leitor a
conclusão de que seria interessante considerar-se a chamada “terceira via”, a
mesma que seria encabeçada por Moro, depois por Dória e, por fim, por Tebet e
Gabrilli?… É interessante notar que a hipótese de uma ascensão da “terceira
via” não está fora de cogitação, especialmente com a possibilidade de que um
dos candidatos que perdesse numa projeção confiável viesse a renunciar à
eleição, alegando, por exemplo, motivos de saúde ou idade avançada.
Dom Odilo também chama a
atenção para o fato de que a eleição é exageradamente concentrada sobre o poder
executivo, deixando-se o legislativo meio de que lado. Bem… digamos que o
problema não seja propriamente atual. Parece que o eminentíssimo está um tanto
chovendo no molhado.
De fato, esses eclesiásticos que não querem polemizar para não verem a sua carreira de nenhum modo manchada, para darem sempre a impressão de que são equilibrados e estão por cima das contradições e dos jogos de interesses, vivem a falar e a escrever obviedades, “lugares comuns”, chavões compartilháveis por qualquer pipoqueiro da esquina, desprovidos de qualquer relevância.
Contudo, a coisa continua. O
arcebispo de São Paulo começa a criticar o que ele mesmo chama de “crise social
brasileira”. Aqui, começaria, a nosso ver, a segunda parte do artigo.
Ele menciona o preço dos
produtos, de comidas a remédios, o desemprego, a fome, o aumento dos moradores
de rua, a crise ambiental (aquela bajuladinha bergogliana não poderia faltar,
não é mesmo?…). Ele também menciona o crescimento da violência, falsificando o
fato de que, nos últimos anos de governo, esta caiu consideravelmente, coisa
que se vê pela gigantesca diminuição do número de assassinatos.
Mas, o mais interessante, é
que, neste momento, o eminentíssimo faz aquela pausa poética para uma pergunta
retórica cheia de ironia tosca (sim, porque, às vezes, a malícia só não excede
a enormidade enciclopédica da inépcia): “Tudo culpa da pandemia de covid-19? Da
guerra na Ucrânia?”
Ora, cardeal, mas será que
vossa eminência ignora o fato de que vivemos uma crise internacional de
dimensões impressionantes? A pandemia quebrou a economia da maior parte dos
países, até a inflação americana está altíssima, o que impacta diretamente a
economia de todas as nações, há alta no preço dos combustíveis por todo lado,
e, depois dessa catástrofe sanitária, a calamidade de uma guerra está abalando
todos mercados do mundo. Que coisa feia justamente um cardeal fazer-se de bobo
e ignorar que, de fato, estamos num momento delicadíssimo política e
economicamente, que tudo isso tende a se agravar com a crise entre Taiwan e
China, que pode eclodir proximamente, e que não podemos ficar imunes a nada
disso… É verdade que ele afirma “não se desconhece nem se subestima a
influência de tais fatores circunstanciais, mas nosso problema não é novo e a
atual crise social brasileira é mais velha que esses fatores”, mas qualquer
criança sabe que tais “fatores circunstanciais” dificultam ainda mais o
solucionamento dessas crises. Não é necessária muita inteligência para perceber
que este discurso é tão somente uma retórica que esconde outras presumíveis
intenções. Prossigamos.
Logo na sequência, ele ainda
se ressente: “Que pena, estamos desperdiçando energias na reafirmação da confiabilidade
das urnas eletrônicas”? Mas, por que, eminência? Será que a infalibilidade das
urnas eletrônicas é um novo dogma de fé, a ser professado por todos os
católicos? Se o Brasil tivesse inventado um sistema imune a fraudes, que são
problemas ocorrentes em todas as democracias do mundo, a esta altura, todos os
países estariam importando essa tecnologia que, além daqui, existe apenas no
Butão e em Bangladesh… Não parece óbvio?
No entanto, pior do que as
pautas que o cardeal releva são aquelas que ele silencia. Sim, porque há
omissões que denunciam mais que comissões e silêncios que gritam mais do que
verdadeiros brados…
Ele releva com exclusividade
as pautas da esquerda que são concentradas sobre a política social, enquanto
finge não ver as demais pautas, aquelas que confrontam diretamente os
interesses do eleitor católico: o aborto, a ideologia de gênero, o movimento
homossexual, a legalização das drogas, o controle das mídias sociais, a
regulação da imprensa, a intolerância religiosa – temas que são os mais
importantes, sobretudo quando estamos a viver uma perseguição contra os
católicos na Nicarágua. Dom Odilo faz parte da presidência do CELAM. Onde está
uma condenação ao totalitarismo de Ortega, que fechou rádios católicas e
prendeu um bispo? Onde está a preocupação do purpurado com o apoio que Lula deu
ao regime nicaraguense no ano passado, na sua entrevista ao El País?
Esses temas serão solenemente
ignorados pela maior parte dos bispos brasileiros. Evita-se tratar do assunto
porque a pauta seria facilmente sequestrada pela direita. É sobre isso:
trata-se de reconduzir Lula ao poder, ainda que se disfarçando de “terceira
via”.
O cardeal volta à sopa das
mazelas da “crise social brasileira” para, de improviso, sair com uma cutucada:
“Populismos messiânicos, de qualquer matiz, já se mostraram danosos e
ineficazes para resolver os problemas dos povos”. Aqui, ele falta dar nome e
cpf do criticado.
Infelizmente, Dom Odilo se
comporta exatamente como o estereótipo do “bispo melancia”: verde por fora,
vermelho por dentro. É uma pena! Triste saber que um eclesiástico deste porte
um dia foi considerado de confiança por ninguém menos que o Papa Bento XVI. Só
que nada disso é uma surpresa… Quem não se lembrará das manifestações de amor
devoto com a qual Dom Odilo falava de Lula em 2018, no evento comemorativo do
acordo Brasil-Santa Sé?
Título e Texto: FratresInUnum.com,
15-8-2022
Por estes e outros, a começar pelo argentino lá em Roma, muitos católicos estão migrando para outras crenças/religiões... alguns continuam católicos, mas dedicam seu desprezo a esses homens, como este escriba.
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