Jornal norte-americano faz relato equilibrado e fiel das investidas contra a liberdade de expressão no Brasil
O The Wall Street Journal (WSJ), em reportagem assinada por sua correspondente Mary Anastasia O’Grady, publicou a seguinte análise sobre o Brasil às vésperas do segundo turno das eleições — um dos raríssimos relatos equilibrados, precisos e fiéis aos fatos que foi publicado na imprensa internacional durante a campanha eleitoral brasileira:
“O segundo turno das eleições
presidenciais do Brasil — marcado para 30 de outubro — entre o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), está
próximo.
Quão próximo se reflete nos
movimentos recentes do Tribunal Eleitoral brasileiro de sete membros, ou TSE.
Liderado por um juiz notoriamente anti-Bolsonaro, Alexandre de Moraes, o TSE
conquistou poderes extraordinários e os está usando para amordaçar os críticos
de Lula.
A Constituição do Brasil
proíbe a censura, e a repressão descarada do tribunal à liberdade de expressão
alarmou a nação. Mas Moraes, que também é presidente do STF, não dá sinais de
recuar. Se a democracia do Brasil está em risco, não está, como alegam as
classes tagarelas, por causa do Bolsonaro.
O presidente ficou em segundo
lugar no primeiro turno de 2 de outubro, com 43,2% dos votos. Lula recebeu
48,4%, cerca de 6,2 milhões de votos a mais que Bolsonaro. Outros 8,5 milhões
de votos foram para Simone Tebet (MDB), que terminou em terceiro, e Ciro Gomes
(PDT), que terminou em quarto. Seus partidos endossaram Lula, mas a base pode
não concordar.
Simone Tebet é do Estado de Mato Grosso do Sul, no qual Bolsonaro venceu facilmente no primeiro turno. Ciro Gomes e seu partido têm um rancor de longa data contra Lula. Cerca de 34 milhões de eleitores que não votaram no primeiro turno podem comparecer no domingo.
Lula e o Partido dos
Trabalhadores anunciam o socialismo como uma cura para a miséria econômica.
Seus principais eleitores são os muito pobres, a elite, os ambientalistas e
os woke. Os sociais-democratas moderados têm temido Lula há muito
tempo, mas estão se unindo a ele porque detestam Bolsonaro.
O apoio do presidente vem das
classes trabalhadora e média, empresários iniciantes que atuam na economia
real, conservadores sociais, proprietários de terras e agroindústria. Políticos
populares de centro-direita, como Romeu Zema (Novo), governador do Estado de
Minas Gerais, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), no segundo turno ao governo
de São Paulo, estão em campanha por ele.
Canais de notícias e opinião
com fins lucrativos que fornecem conteúdo não oferecido pela mídia de esquerda
também estão desempenhando um papel importante. O negócio cresceu, e Lula não
gosta.
O ex-presidente é
particularmente sensível sobre sua condenação por corrupção em 2017. Ela foi
derrubada por um detalhe técnico em 2021 e ele foi libertado. Mas quando os
brasileiros são lembrados do que o mandou para a prisão, eles podem se lembrar
dos enormes escândalos de suborno e corrupção que surgiram durante os 14 anos —
2003 a 2016 — em que seu Partido dos Trabalhadores ocupou a presidência. Lula
pediu ajuda a Moraes.
Por lei, o tribunal deve
julgar “fatos sabidamente falsos” durante a campanha e censurar os infratores.
Por exemplo, censurou legalmente a campanha de Lula por suas alegações de que
Bolsonaro pratica canibalismo.
Não tem, no entanto,
autoridade para aprovar ou desaprovar a opinião pública. Apesar disso, em 13 de
outubro, respondendo a uma denúncia da campanha de Lula, o tribunal decidiu que
a empresa Brasil Paralelo tinha de remover conteúdo que discutia sua condenação
por conter “desinformação, alterando a realidade de eventos relacionados à
corrupção, afetando o governo de Lula honra e imagem.”
O magistrado do TSE designado
para informar sobre os processos judiciais — junto com outros dois magistrados
— discordou. Ele destacou que o material em questão foi “baseado em matérias
jornalísticas com fatos declarados no período em que Lula esteve à frente do
Executivo, ‘portanto, não há justificativa plausível para sua retirada’”,
segundo o TSE local na rede Internet.
Em 18 de outubro, o tribunal
foi mais longe, determinando ao YouTube que demonetizasse quatro canais
brasileiros, incluindo a Brasil Paralelo, alegando que eles contêm notícias
falsas. Na quinta-feira 20 veio a resolução do TSE. Como explicou o jornalista
brasileiro Diego Escosteguy no site de notícias O Bastidor na
semana passada, o TSE se concedeu o poder “de arbitrar o que é verdadeiro ou
falso no debate político” e de “suspender contas, perfis e canais” e banir
brasileiros de “todos as plataformas.”
Na semana passada, o tribunal
censurou o ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, porque ele ousou dizer
que Lula nunca foi absolvido. A afirmação é verdadeira mesmo que faça Lula
encrespar.
Para demonstrar quão longe das
normas brasileiras de liberdade de expressão o comportamento do TSE está,
Escosteguy citou o próprio ministro Moraes, escrevendo da bancada do STF em
2018: “O direito fundamental à liberdade de expressão não visa apenas a proteger
opiniões que supostamente são verdadeiros, admiráveis ou convencionais, mas
também os duvidosos, exagerados, repreensíveis, satíricos, humorísticos, bem
como os não partilhados pela maioria. Deve-se notar que mesmo declarações
errôneas estão sob a proteção dessa garantia constitucional.”
Agora o Tribunal Eleitoral
quer dispensar essas liberdades civis. Isso nos faz pensar como será o Brasil
se Lula vencer.”
Título e Texto: Redação,
Revista Oeste, 24-10-2022, 10h27
Meia Hora com Motta - 24 de outubro de 2022
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