Humberto Pinho da Silva
Acabo de saber que minha neta Margarida, recebeu lindo diploma, por ter concluído o "curso", no Jardim-de-infância.
Teve direito a tudo: chapéu de formada e passeio
de finalista, por dois longos dias.
O ensino está tão divulgado – e ainda bem – que
até as menininhas imitam os que concluem licenciatura.
Dizia Marden, e com razão: "Dá-se mais
importância ao diploma, que representa sabedoria fictícia, do que à verdadeira
sabedoria sem garantia do diploma." (1)
Se no tempo de Marden era assim, agora é pior.
Quem não possui "canudo", dificilmente consegue singrar em qualquer
profissão.
E para que todos possam obter diploma criam-se
Faculdades e Escolas, sobre tudo e nada.
Certa ocasião, o jornalista da RTP, João Adelino,
foi indicado para moderar debate. O seu assessor informou-o que um dos
intervenientes recusava-se a entrar no estúdio, porque o moderador não o
tratava por "Doutor". (2)
A ideia piramidal de transformar a universidade em
fábrica de licenciados, tornou, segundo Karl R. Popper, o estudo
desinteressante. Numa conferência realizada em Zurique, em 1958, disse: "Para
os estudantes da minha geração, sem recursos, a luta pelo saber constituía uma
aventura, que exigia pesados sacrifícios, o que conferia aos conhecimentos
obtidos, valor singular." (3)
Como se sabe, tudo que se obtêm sem sacrifício
nunca é devidamente apreciado.
A facilidade, no ensino, torna, em regra, abundância de licenciaturas, mas nem sempre abundância de bons profissionais.
Os diplomas, são “Hábitos", como disse Diogo
Couto, na carta que dirigiu a El-Rei:
"Não peço a S. Majestade que me faça
fidalgo nem que me dê o hábito de Cristo, porque o mundo está tão cheio deles,
que ainda hei de ser conhecido por homem que não tem hábito (4)
E na mesma obra, declara: "(...) Homem
que não é fidalgo não é chamado para nada".
É o que acontece nos nossos dias em concursos
públicos (e não só) que, em regra, requerem licenciaturas para quase tudo.
Por isso é que todos andam atarefados para
alcançar o almejado diploma, seja em que for, e da forma que for. Até ilustres
autodidatas, tiram licenciaturas, para que lhes reconheçam os conhecimentos,
pelo diploma...
E o Estado, conhecedor dessa ambição e
necessidade, vai facilitando o ensino.
Ter diploma dá prestígio, e satisfaz a vaidade...
e algumas vezes até dinheiro...
Bem disse Mário Soares: "Em Portugal, o
doutor é qualquer coisa de extraordinário, quase um título de nobreza."
(5)
*
1 - "
Poder da Vontade" - Livraria Figueirinhas
2 - "
Jornal de Notícias" - 14/4/12
3 - Em Buscar
de um Mundo Melhor" - Editora Fragmentos
4 - Prólogo do
" Soldado Prático" - Livraria Sá da Costa
5 - " O Primeiro de Janeiro" - 21/7/92
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva
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Como se fundou o convento do "Bom Pastor", e o que fez a Irmã Maria por ele
Vou tocar em mais um assunto para ser escrachado.
ResponderExcluirDoutor é o título ou grau acadêmico mais elevado na maioria dos sistemas de ensino, é adquirido através do doutorado, e comprova a capacidade de desenvolver investigação ou docência num determinado campo da ciência.
É importante ressaltar que doutor não configura forma de tratamento oficial, pois inicialmente é título acadêmico.
"Costuma-se designar por doutor a quem possui somente a graduação, especialmente os graduados em direito e em medicina, mas o tratamento "Senhor" confere a desejada formalidade às comunicações."
No convívio, no costume Bolsonaro é senhor presidente da república e não pode ser chamado de candidato.
Poucos médicos podem ser chamados de DOUTOR.
Porque devo chamar um juiz, deputado ou senador de EXCELÊNCIA?
Característica do que é excelente, de teor elevadíssimo; primazia, perfeição.
Grau máximo de bondade, qualidade ou perfeição: a excelência de um remédio.
[Gramática] Forma de tratamento conferida a quem pertence ao mais alto nível de uma hierarquia social, que ocupa posições ou funções de nível nobre, político, diplomático, eclesiástico ou profissional relevantes; abreviada por Ex.ª.
QUAL EXCELÊNCIA TEM ALGUMAS AUTORIDADES BRASILEIRAS?
Uma imensa parte é excrecência.
Apesar de vários anos de voo, de experimentados companheiros profissionais de gabarito, o único excelente comandante que convivi na VARIG foi um suicida na vida particular e uma excelência em pilotagem.
Pousamos 0/0, quase em emergência de combustível em JFK.
Seu nome era BENITEZ.
Pena que somente eu o lembre.