quinta-feira, 13 de outubro de 2022

[Daqui e Dali] O exemplo de um grande filósofo

Humberto Pinho da Silva

Dizer quem foi o filósofo e ensaísta Jean Guitton [foto], parece-me desnecessário, pois é sobejamente conhecido.

Escreveu vários livros, obras dedicadas a "católicos inteligentes", entre elas: "O Livro da Sabedoria e das Virtudes Reencontradas", editado pela Editorial Noticias, e o "Trabalho Intelectual", Coleção Universitária, da "Logos".

Foi o único leigo a participar no Concílio Vaticano II. Era professor da Sorbonne e membro da Academia de França.

Poderia escrever muito mais sobre este Homem da cultura, amigo de François Mitterrand e de vários Papas. Mas, o que pretendo levar ao conhecimento do leitor amigo é o que se passou, quando foi incorporado no exército.

O jovem Guitton, que possuía incomensurável fé, perguntou a conhecido sacerdote, se durante o tempo de militar deveria rezar, de joelhos, ao lado da cama, como era seu costume.

O padre respondeu-lhe deste modo: "É dever do crente, não se envergonhar da sua fé, e praticá-la em público; mas, compreendo a sua posição..."

Jean Guitton, animado de fé invulgar, indiferente aos camaradas presentes na caserna, ajoelhou-se e orou, perante o respeito e admiração de todos.

Passaram-se longos vinte anos. Guitton, já notável professor, soube que camarada de camarata tinha falecido. Apareceu no funeral.

O pai do companheiro de caserna, professor universitário, diretor da Faculdade de Ciência, logo reconheceu Guitton. Agradeceu a presença e confidenciou-lhe: que o filho, que era ateu como ele, falava-lhe muito de Guitton, e admirava-lhe a sua extraordinária cultura, mas, principalmente, o que mais o surpreendera foi a coragem, o exemplo, que deu, como crente, ao ajoelhar-se na caserna, para rezar.

Jean Guitton, desde jovem, não se coagia, como católico, de se afirmar como crente, nos cargos que ocupava, assim como nas numerosas entrevistas e conferências, que concedeu.

Bem diferente de muitos, que são crentes duplos: católicos no templo, agnósticos, na vida quotidiana – na política, na empresa, na sociedade – receando que a fé que professam possa prejudicar-lhes a careira profissional que iniciaram.

Jean Guitton, faleceu a 21 de março de 1999, com 98 anos, “confiante na misericórdia divina, pois receava não ter posto todos os dons que recebera, ao serviço de Deus e da Igreja”, declarou numa entrevista concedida a revista francesa.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, outubro de 2022

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