quinta-feira, 1 de setembro de 2022

[Daqui e Dali] O intelectual tem de ser solitário?

Humberto Pinho da Silva

Disse escritor argentino, cujo nome varreu-se completamente – a idade não perdoa –: "Que de longe tudo parece pequeno, menos o intelectual".

Na verdade, a excessiva familiaridade, diminui o escritor, articulista, poeta ou o professor.

Já São Tomás recomendava o apartamento do seu público.

O próprio conjugue e filhos, apesar de se orgulharem do sucesso, devido ao frequente convívio e conhecerem perfeitamente hábitos, costumes e até vícios, raras vezes lhe dão o devido valor, chegando a considerá-lo lunático.

Casos há, que se desinteressam, considerando-o excêntrico solitário.

Muitos, nunca lhe deram o devido valor, nem o escutaram com atenção.

Em entrevista ao semanário "SETE", a grande fadista Amália Rodrigues, declarou ao perguntarem:

"Costuma ler com frequência?”

"Eu? Já nem leio. Houve uma altura em que eu acreditava que as pessoas que escreviam aquilo que eu lia, eram realmente pessoas maravilhosas.

Depois conheci essas pessoas. E tive muitas desilusões. Agora já quase nem leio. Tive uma temporada em que para adormecer, lia histórias de  Cow-boys" (Num aparte: Não escreva isso, que é uma vergonha, mas não tenho vergonha nenhuma...) Agora já nem isso. Tenho outra "chucha" para adormecer: ouço cassetes, chega ao fim e volto ao princípio. Mas leio pouco, infelizmente, porque gostava de ler. Mas por um lado é bom, porque me evita esse desencanto de que lhe falei, se calhar é melhor assim. - "SETE" (1-11-83)

Foi o desencanto que Clarissa sentiu ao conhecer o poeta Paulo Madrigal. "Música ao Longe", de Érico Veríssimo.

É o desencanto de todos nós, após conhecer o artista plástico, o escritor ou o jornalista da moda.

O escritor, o intelectual, tem de ser um mito para o leitor ou aluno, como se vivesse, permanentemente, no Olímpico, acompanhado de coorte, que sem cessar, proclamem na tv, rádio, imprensa e redes sociais:  "É grande! É mestre! É Mestre entre os Mestres!..."

Então o Zé-povinho, extasiado, repete entusiasmado:

"Sim: a prosa, os quadros, são magníficos, perfeitos, divinais!..."

Mesmo que não goste, não aprecie e jamais terá coragem de discordar ou de o criticar em público, porque não quer passar por néscio...

É a velha e revelha história do Rei Vai Nu.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, agosto de 2022

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