Governo quer passar os pobres
para a classe média na marra, nem que seja por decreto
Carlos Newton
Para o governo, a melhor
definição de estatística é esta – a arte de torturar os números, até que eles
confessem o que pretendemos ouvir. É o que está acontecendo com as estatísticas
mostrando que os pobres já passaram para a classe média.
Segundo o governo, cerca de 54% da população brasileira já formariam a chamada classe média. Motivo: a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) passou a
considerar que pertenceriam à classe média todas as famílias com renda per capita
entre R$ 300 e R$ 1.000.
A definição foi aprovada
terça-feira, após reunião do ministro da SAE, Moreira Franco, e o subsecretário
de Ações Estratégicas da pasta, Ricardo Paes de Barros, com uma comissão de
especialistas para avaliação dos critérios de identificação deste novo segmento
da população.
Segundo a secretaria, em 2009
essa classe representava 34% da população e, com a tendência de crescimento,
hoje ela representa mais da metade dos brasileiros. Dentro dela, foram
definidos três subgrupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita
entre R$ 300 e R$ 440; a média, com renda familiar per capita de R$ R$440 a R$
640; e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 640 e
R$ 1.020.
Caramba! A família brasileira
tem em média 4 membros. Então, o governo acha que uma família de quatro
membros, com renda total de R$ 1,2 mil por mês, seria classe média? E uma
família de quatro membros, com renda total de R$ 2,56 por mês, seria da alta
classe média?
Os “especialistas” e
integrantes do governo declaram essas barbaridades estatísticas, e ninguém
reclama? Onde é que nos estamos? Que país é esse, Francelino Pereira?
![]() |
Ferrari P4/5 by Pininfarina
|
DELÍRIO TOTAL
O pior é que os
“especialistas” e integrantes do governo parecem falar a sério. Não percebem os
disparates que alardeiam. Vivem como o professor Pangloss, personagem de
Voltaire que, no meio da miséria absoluta, se achava “no melhor dos mundos”.
Segundo o subsecretário
Ricardo Paes de Barros, a nova classe média precisa viver com menos incertezas
e estar instrumentalizada para aproveitar rapidamente as oportunidades que se
abrem. Para ele, a preocupação é tornar a classe média o mais produtiva
possível.
“Temos que intrumentalizar
essa classe média pra que ela seja a primeira no mundo a aproveitar as
oportunidades que o mundo globalizado tem pra oferecer. Isso envolve dar a eles
crédito, informação, formação, defesa legal de forma que eles possam aproveitar
essas oprotunidades”, disse Barros, sem ter medo do ridículo.
E o ministro Moreira Franco,
também falando sério, afirmava que “será criado um instrumento interno de
pesquisa, para seguir estudando mais profundamente esse extrato social”, ou
seja, a milagrosa classe média que existe na teoria, mas na prática continua
passando as maiores necessidades aqui debaixo do Equador, que é o melhor dos
mundos. Mas só na teoria, é claro.
Texto: Carlos Newton, Tribuna da Imprensa
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-