Durante minha vida como Comissário de Voo, por obrigação e/ou para meu próprio
proveito, aprendi outras línguas. Umas, eu aprendi mais, outras, menos.
Apesar do fascínio que eu tinha e ainda tenho pela minha já passada
atividade laboral; de certa forma, todos nós que voávamos na Varig, por
necessidade profissional ou curiosidade, fomos motivados e impelidos a falar e a
entender outras linguagens, mas naquela época o que eu não consegui entender
completamente e falar com fluência foi o tal de economês.
Aprendi como a grande maioria dos incautos aprende: mais pelos erros do
que pelos acertos.
Ah!... como eu errei! Ah!... mas como
eu aprendi! E ainda assim, por força das circunstâncias, relativamente só
aprendi duas palavrinhas que se vertem desse complicado idioma: receitas e
despesas. Quanto a Títulos, Debêntures, Superávit, Déficit, Portfólios, entendo
muitíssimo pouco. Das Receitas e Despesas, eu não sabia da analogia delas e
tampouco que elas “andavam juntas”, discutindo o tempo todo a relação
“conjugal” que levam até hoje.
Nos áureos bons tempos, era comum escutar sobre receitas, mas nos momentos tristes de rua-da-amargura, aquela que
se exibia despudoradamente, geralmente e invariavelmente, era a antagônica despesa, trazendo no seu bojo os
dissabores e uma série de contrariedades de difíceis soluções. Era comum se
escutar até mesmo nos pensamentos dos arrependidos, aqui e ali, a célebre
frase: - Ah... se eu tivesse economizado!
O tempo passou, mas a lição foi entendida. E por sabermos que a
aposentadoria também significaria adversidade,
sabíamos sem exagero, que as despesas seriam maiores do que a irrisória
receita de aposentado pelo RGPS. O que era plural passaria a ser singular, no
caso a renda, e o que era singular, a despesa, multiplicar-se-ia
e se tornaria consumição de gastos crescentes e contínuos, gerados pelas
carências da velhice. Por isso, a adesão ao Fundo de Pensão AERUS foi inequivocamente considerado
acertado por aqueles que pretendiam dar continuidade à qualidade de vida que
tinham enquanto funcionários das empresas aéreas participantes, supondo que as
aplicações em tal fundo, que eram vultosos valores com descontos mensais em
folha de pagamento, resultariam na complementação
dos nossos parcos haveres de aposentados.
Em 1987, a Varig assina com o Aerus o primeiro contrato de uma série de vinte repactuações
de retenção das contribuições
dos participantes e o não repasse das
contribuições patronais com a autorização da Secretaria de Previdência
Complementar-SPC, hoje Previc.
Com o congelamento de tarifas, imposto pelo Governo visando deter a
inflação, a Varig, que tinha seus custos relacionados ao dólar, já sentindo
profundamente os efeitos perversos do aumento do valor cambial dessa moeda,
impetrou na Justiça, em 1993, a Ação da DEFASAGEM TARIFÁRIA contra a União.
No último contrato, no
ano de 2003, a VARIG entregou como garantia os créditos oriundos dessa ação de defasagem tarifária até o
limite que saldasse o valor devido ao AERUS.
Sem mais delongas, com as falências das empresas patrocinadoras e a
saída de outras, o fundo entrou em colapso e desde 12 de Abril de 2006 está sob
intervenção federal.
Quem pagou essa conta? Fomos todos nós, trabalhadores participantes
ativos ou assistidos do fundo de pensão Aerus, sendo que nós, os já aposentados
e muitos dos ativos que ainda aguardavam poucos dias ou meses para se
aposentar, fomos os mais intensamente prejudicados por termos idade não mais
“compatível” com o mercado de trabalho.
Vinte e um anos depois de longas batalhas judiciais, em 12 de Março de
2014 é obtida no STF, a vitória da Defasagem Tarifária da Varig. Ainda assim, faltava a publicação
de um burocrático Acórdão, que na minha singela opinião é uma excrescência
jurídica.
Foi mais um sofrimento que muitos de nós exibimos em nossos roucos
gritos nas manifestações durante algum tempo no Aeroporto Santos Dumont e até na Fifa Fan Fest em
Copacabana, exigindo nossos direitos, sempre respaldados pela APRUS, nossa representante legal, cujas
intervenções junto ao Aerus e à Justiça, culminaram na publicação
em 18 de Setembro passado do tão esperado ACÓRDÃO.
É chegado o momento de um ACORDO e para isso temos de impressionar e pressionar
o Governo a celebrá-lo, pois é inegável a urgência. Mais cedo ou mais tarde, a
União terá de saldar essa dívida e o próprio Governo reconhece que é muito mais
vantajoso e econômico um acordo.
Voltando aos idiomas, há uma
máxima criada por uma pessoa pela qual tenho grande admiração, respeito e
apreço que dizia que “papagaio velho não aprende a falar”. Permito-me discordar,
pois o ser humano é o mais adaptável dos animais. Para atender às suas mais
importantes premências é capaz de muitas façanhas. Na ficção que beira a
realidade dos nossos dias, Lima Barreto define muito bem essa tal “capacidade”,
na obra “O homem que sabia javanês” publicado em 1911. Ouso dizer que papagaio
velho aprende a falar sim, desde
que tenha vontade de suprir suas mais urgentes necessidades.
(A própria AFA, em arremedo, dizia que fulano foi
para um baseamento no exterior e voltou mudo pois não aprendeu a língua
do local e esqueceu a língua mater.)
Agora, torcendo para que um acordo seja efetuado brevemente, surge no ar
um estranho comentário sobre SECURITIZAÇÃO. Eu não entendi a palavra. Deve ser
de outro idioma, posto que soa como a linguagem das lobas insaciáveis.
By security
(tradução: por segurança) e incontinente, peguei meu notebook movido a carvão e
abri na página mais atualizada na Internet para tentar decifrar esse idioma tão
difícil para esse papagaio velho. Pelo que entendi, esse idioma securitês não é fácil de se entender e
então... todo cuidado é pouco para não se cometer o mesmo erro dos aldeões que
acreditaram num possível acordo, que estava sendo intermediado por uma boa senhora,
conforme se apresenta em um texto que escrevi com o título de “A FÁBULA DE PASÁRGADA”
em que descrevo uma boa senhora que
queria ajudar os aldeões e que era amiga do Rei, porém, ela, de fato, não intercedeu
em favor dos aldeões e nada de bom aconteceu, pois continuaram somente com
alguns gravetos e com o Galpão, que era para o abrigo da lenha para ser usado
no inverno da velhice, quase todo destruído, lembram-se? Se não
lembram, basta acessar o blog “O CÃO QUE FUMA” onde foi publicado
em 03-12-2013.
Traduzindo SECURITIZAÇÃO de forma mais palatável, é uma atitude
financeira que visa retirar de valores devidos
por uns a outrem (no nosso caso o dim-dim do Aerus), uma fração pecuniária
como se fosse um seguro a ser descontado no recebimento. Uma atitude do
tipo “lobo que está de olho na postura da
galinha dos ovos de ouro, hein?”
Quanto ao que os lobos e as lobas do Chapeuzinho Vermelho estão tramando… mesmo nessa linguagem disfarçada em
securitês com forte sotaque de “embromês”, reafirmo que as nossas avós já
morreram portanto... tenho a certeza que perderão o jantar.
Gracinhas à parte, recomendo cautela e aprendam de uma vez que somente
quem pode intermediar qualquer ACORDO
com a União é o AERUS, com o conhecimento e apoio da nossa fiel escudeira que é
a nossa legal representante, a APRUS.
Título e Texto: Jonathas Filho, ainda estuda português, claro! 22-9-2014
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Muito bom, como sempre o seu alerta contra mais essa rapinêz que começa a nos assombrar.
ResponderExcluirJunte-se a nós neste cordão de isolamento que vamos fazer contra qualquer tentativa de interferência no Aerus.
José Manuel