quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Amarrado ao tosco banco...

Jonathas Filho
Outra noite, em e-mail enviado ao grande amigo José Manuel, escrevi que a cada dia, dezenas de fios embranquecidos têm vindo “enfeitar” meu couro cabeludo, desvalorizando a minha imagem de remador de galés. Não seria para menos, afinal, começo a entrar na sétima década e também devido às circunstâncias que nos foram impingidas, acerca de nossos haveres no nosso fundo de pensão.

Confidenciei-lhe que me sentia já cansado, viajando dentro de muitos problemas, não podendo, como gostaria, de surfar nas linhas e nas entrelinhas na criação de textos mais interessantes e alegres. Literalmente, escrevi que a sensação era um “viajar” amarrado sentado num tosco banco de madeira, tendo um pesado remo nas mãos, intimidado pelo estalar do chicote do”mestre” do convés dos remos.


De fato, essa situação que atinge a milhares de famílias de ex-trabalhadores de empresas aéreas brasileiras que, em função da criação do fundo de pensão Aerus, foram induzidos a pagar vultosas quantias para ter, nas respectivas aposentadorias, as complementações desses valores para uma velhice digna. Isto nos coloca, como citei, numa infindável viagem de dores e sacrifícios, como as que foram daqueles miseráveis remadores das galés. À guisa de ilustração, para os mais curiosos, cito numa breve história... como era na época das galés.

Os fenícios, oito séculos antes de Cristo, foram os construtores das primeiras galés (ou galeras) e foram os melhores navegadores daqueles tempos. Difundiram técnicas que foram adotadas posteriormente por gregos e romanos. Estes navios tinham pintado na proa dois olhos como se fossem para ver por onde singravam e para aterrorizar os inimigos. Cada galé tinha muitos remos que eram acionados por condenados ou escravos em condições impiedosas, sob a opressão do chicote e outras torturas. A cadência das remadas era assinalada pelos toques de uma baqueta num tambor e quanto mais rápida era a batida, maior era a velocidade da nau.

Estas embarcações atravessaram séculos e Luís XIV, o Rei Sol, aumentou em muito a sua frota que já era grande. Dizia-se que o Conselheiro do Rei garantia que isso caracterizava a grandeza do Rei de França. O preço dessa grandeza era o sofrimento desumano de muitas centenas de remadores que viviam e trabalhavam incessantemente nas galés, com fome, com a pele destroçada pela salinidade do ar e sob a crueldade das chicotadas, até que a morte os libertassem dessas viagens.

É certo que não somos escravos, mas fomos injustamente condenados, sim, desde abril de 2006, a surfar nessa onda de sofrimento que já destroçou e abreviou a vida de mais de mil e cinquenta participantes do Aerus.

Ontem, fui informado que o tão esperado ACÓRDÃO da Defasagem Tarifária da Varig foi assinado e publicado no D.O.U., situação essa que revigora a minha esperança de que seja, de fato, elaborado e concretizado um ACORDO que nos retire as amarras dos assentos e nos liberte dessas galés antes da morte.

Com certeza, se a minha natureza permitir, voltarei a escrever sobre outros assuntos mais interessantes e alegres... provavelmente sentado confortavelmente numa poltrona de onde, conforme citei, surfarei nas linhas e nas entrelinhas com palavras de boa lavra.
Título e Texto: Jonathas Filho, 18-09-2014

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