quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Macroscópio – Regresso a uma boa notícia

José Manuel Fernandes
Temos andado, por estes dias, muito focados em notícias negativas, preocupantes, mesmo inquietantes. Vou por isso focar-me hoje numa notícia positiva: a de que Portugal subiu 15 lugares no ‘ranking’ da competitividade organizado pelo Fórum Económico Mundial.

O tema foi na imprensa de ontem, e o Observador também lhe dedicou a atenção devida. Nessa notícia sublinhava-se que Portugal está agora no 36º lugar do ‘ranking’, “invertendo a tendência de queda que se verificava desde 2005, quando o país alcançou o 22.º lugar. O país caiu na tabela durante vários anos, à exceção de 2011, quando subiu uma posição, e no relatório divulgado no ano passado ocupou o 51º lugar”. O relatório saudava “o ambicioso programa de reformas adotado pelo país, que parece começar a dar bons resultados”, pois Portugal conseguiu ultrapassar países como a República Checa, a Polónia, Malta e Itália, países que competem diretamente conosco pela captação de investimento.

Antes de passar aos comentários que esta notícia suscitou, queria começar por recomendar uma visita ao site do Fórum Económico Mundial para perceber melhor o que está em causa quando falamos deste tipo de ‘rankings’. Neste blogue podemos encontrar alguns artigos interessantes, nomeadamente: The world’s top 10 most competitive economies; The top 10 most competitive economies in Europe; What makes Switzerland so competitive?; Global competitiveness in 11 graphics ou ainda 10 ways countries can improve their competitiveness.

A parte do relatório relativa a Portugal pode ser vista aqui, sendo de notar que os nossos melhores pontos são os relativos à educação básica, ao sistema de saúde; à qualidade das infraestruturas e às aptidões tecnológicas. O pior ponto é o relativo ao ambiente macroeconómico.

Estes relatórios são sempre lidos com muita atenção em todo o mundo, e quando um país não avança ou recua isso é visto com preocupação. É o que agora aconteceu com Espanha, como se nota neste artigo do El Pais. Como lá se escreve, “el programa de reformas emprendido por España empieza a dar sus frutos, pero quedan todavía tareas pendientes para que la competitividad del país escale posiciones a nivel global”.


A importância deste tipo de índices foi, há tempos, estudada por André Azevedo Alves, colaborador do Observador, num pequeno ensaio publicado na revista XXI, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, ensaio esse onde analisa a evolução da posição do nosso país em dois indicadores diferentes do agora divulgado mas igualmente importantes: o Index of Economic Freedom (IEF) e o Economic Free- dom of the World Index (EFWI). E conclui o seguinte:

Os países com mais liberdade económica tendem a ser aqueles quemais se desenvolvem e também os que crescem com mais equilíbriosocial e bem-estar. Portugal evoluiu muito positivamente nos índices de liberdade económica entre 1985 e 1995, mas depois começou a recuar.Mais: a estagnação económica da última década coincidiu com uma rápida deterioração da nossa posição relativa nos rankings da liberdade económica.

No que respeita a comentários, estes resultados justificaram um editorial no Diário de Notícias – “O salto em frente” – e dois artigos no Diário Económico. A subdirectora Helena Cristina Coelho defendeu que “a verdade é que, apesar de tudo o que ainda corre mal, o país começa a reconstruir a sua economia e a recuperar pontos na competitividade”. Este texto tem um lado curioso: de certa forma procura fazer justiça a Álvaro Santos Pereira e à sua alegoria, tão ridicularizada na altura, dos pastéis de nata.

Já o director do DE, António Costa, é de opinião que este “é um barómetro de sensibilidade, do que foi feito em Portugal e do que os outros países fizeram ou não”, um barómetro que nos benificia:
Os trabalhos feitos na área do mercado de trabalho e de produto foram essenciais para mudar a percepção que os investidores têm do País. E, claro, o encerramento do programa da 'troika' com sucesso, leia-se com a recuperação da capacidade do Estado de se financiar no mercado, fizeram o resto. Na verdade, Portugal é mais bem visto no estrangeiro do que no próprio país, e isso é da responsabilidade do Governo, pelo que fez nos primeiros três anos de governação, pelos sinais que está agora a dar.  

Antes de terminar gostaria de mudar de assunto para vos referir um texto de opinião de um autor que os leitores do Macroscópio sabem que aprecio: Francisco Assis. É que ele veio hoje defender algo que parece, como ele mesmo nota, contra-intuitivo:

O problema das nossas democracias (…) não reside numa insuficiência de transparência, num excessivo distanciamento no interior dos mecanismos de representação, num défice de sufrágio e de fiscalização públicos. Essa é a conversa dos demagogos. O problema é precisamente o contrário. Assistimos a um recuo da dimensão política, enquanto esfera autónoma da socialização humana, com dramáticas consequências. Em nome da proximidade e da transparência tem-se observado uma progressiva castração do discurso e da acção políticos, remetidos para um estatuto menor diante dos novos e velhos poderes fácticos que determinam em grande parte a vida das nossas sociedades.

Vale a pena conhecer o argumento em todo o seu detalhe – mesmo não concordando com alguns dos exemplos – porque este é um debete que terá, obrigatoriamente, de ser tido nos próximos tempos.

Por hoje é tudo. Boas leituras!
Título e Texto: José Manuel Fernandes, 04-09-2014

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