Fernando Henrique Cardoso
Poucas vezes o refrão de
estarmos numa encruzilhada terá sido tão verdadeiro. Neste domingo os eleitores
carregam para a votação o peso de uma responsabilidade histórica. E o mais
grave é que, dadas as condições do debate eleitoral e as formas prevalecentes
de manipulação da opinião pública, boa parte do eleitorado nem atina qual seja
a bifurcação diante da qual o País está.
Numa das mais mistificadoras
campanhas dos últimos tempos, a máquina publicitária e corruptora do PT e
aliados espalhou boatos de que Aécio Neves acabaria com os programas sociais
(em grande parte criados pelo próprio PSDB!) e Marina Silva seria a expressão
dos interesses dos banqueiros, tendo nas mãos, com a independência do Banco
Central, a bomba atômica para devastar os interesses populares. Por mais
ridículas, falsas e primárias que sejam as imagens criadas (também eram
simplificadoras as imagens do regime nazista ou do stalinista para definir os
"inimigos"), elas fizeram estragos no campo opositor.
A guerra de acusações
descabidas escondeu o tempo todo o que a candidata à reeleição deixou claro nos
últimos dias: suas distorções ideológicas. Fugindo aos scripts dos
marqueteiros, que a pintam como uma risonha e bonachona mãe de família, e do
PAC, a presidenta vem reafirmando arrogantemente que tudo o que fez foi certo;
se algo deu errado, foi, como diria Leonel Brizola, por conta das "perdas
internacionais". Mais ainda, disse com convicção espantosa ser melhor
dialogar com os degoladores de cabeças inocentes do que fazer-lhes a guerra,
coisa que só os "bárbaros" ocidentais pensam ser necessária.
E o que é isso: socialismo?
Populismo? Não, capitalismo de Estado, sob controle de um partido (ou do chefe
do Estado). Um governo regulamentador, soberbo diante da sociedade, descrente
do papel da opinião pública ("não é função da imprensa investigar",
outra pérola dita recentemente por Dilma), com apetite para cooptar o que seja
necessário, desde empresários "campeões nacionais" até partidos
sedentos de um lugar no coração do governo. Algo parecido com o que o lema do
velho PRI mexicano expressava: fora do orçamento, não há salvação; nem para as
empresas, nem para os partidos, nem para os sindicatos, para ninguém. Crony
capitalism, dizem os americanos. Capitalismo para a companheirada, diríamos
nós.
E sempre com certo ar de
grandeza, herdado do antecessor: nunca antes como agora. Para provar os
acertos, vale tudo: fazer citações sem respeito ao contexto, escamotear as
contas públicas ou até mesmo, para se justificar, dizer: "Nunca ninguém
puniu tanto os corruptos como este governo!". Como se as instituições de
Estado (Polícia Federal, Ministério Público, tribunais, etc.) fossem mera
extensão dos governantes.
Criou-se um clima de ilusão e
embuste usando uma retórica baseada no exagero e na propaganda. Será isso
democracia? Estamos, pouco a pouco, apesar de mantidas as formas democráticas,
afastando-nos de seu real significado. Como em alguns outros países da América
Latina. Com jeitinho brasileiro, mas com iguais consequências perversas. O modo
de governar (democraticamente ou não) é tão importante para mostrar as
diferenças entre os partidos quanto as divergências de orientação nas políticas
econômicas ou sociais.
Por mais que a propaganda
petista mistifique, as políticas sociais têm o rumo definido desde a
Constituição de 1988. Executadas com maior ou menor perícia por parte de quem
governa, com maior ou menor disponibilidade de recursos, o caminho dessas
políticas está traçado: mais e melhor educação, mais e melhor saúde, mais e
melhor amparo a quem necessita (bolsas, aposentadorias, etc.). Já a política
econômica perdeu o rumo e destrói pouco a pouco as bases institucionais que
permitiram consolidar a estabilidade e favorecer o crescimento da economia.
No conjunto de sua obra, o
governo atual rompeu o equilíbrio alcançado entre Estado, mercado e sociedade e
dá passos na direção de um modelo à Ernesto Geisel. Tal modelo é incompatível
com a democracia e com a economia moderna. Não poderão sobreviver os três ao mesmo
tempo.
É esse o fantasma que nos
ronda. Reeleita a candidata, a assombração vira ameaça real. Ameaça à economia
e ao regime político, pelo menos quanto ao modo de entender o que seja
democracia. Não é preciso que nos ensinem que democracia requer inclusão social
e alargamento da participação política. Essa foi a luta do meu governo, desde o
primeiro dia, em condições muito mais adversas. É este governo que necessita
aprender que a inclusão e a participação verdadeiramente democráticas requerem
defesa vigilante das liberdades fundamentais (especialmente de imprensa),
autonomia da sociedade civil, separação entre partido, governo e Estado. Como o
governo mostra dificuldade em aprender, só há um caminho: votar na oposição.
Mas em qual oposição? Com o
devido respeito às demais forças oposicionistas, que deverão estar juntas
conosco no segundo turno, há um candidato e um partido que já demonstraram na
prática que obedecem aos valores da democracia, da inclusão social e da
modernização do País. Já mostraram também que sabem governar. O PSDB e seus
aliados lançaram as bases sociais e econômicas do Brasil contemporâneo. Aécio é
a expressão deste Brasil. Governando Minas Gerais, fez seu Estado avançar (o
Estado tem hoje o melhor Ideb do País no ensino fundamental) e marcou a sua
administração por inovações na forma de estabelecer e cobrar resultados. Não
foi o único governador a se destacar no período recente, mas esteve sempre
entre os melhores.
Meu voto, portanto, será dado
a Aécio. Não só por ele, mas pelo que ele representa, como uma saída para a
encruzilhada em que nos encontramos.
Melhor que o seu voto dado ao Aécio Neves, que será apenas mais um voto secreto, seria vossa excelência ajudá-lo na sua caminhada rumo a presidência, o que não será nada fácil. Participe ativamente da sua campanha, copiando o que o Lula irá fazer, que não cansa de dizer que fará o diabo para reeleger a sua pupila. Ajude o candidato Aécio e principalmente ao seu próprio partido, que ficará trucidado se sofrer a terceira derrota consecutiva para o PT. Revistam-se de brios e não tenha o preconceito de declarar que alguma coisa de boa será feita a favor do aposentado brasileiro, a categoria mais prejudicada e esquecida dos poderes públicos, cujo início desta indisfarçada discriminação, começou justamente no seu próprio governo.
ResponderExcluirAlmir Papalardo.