José Carlos Bolognese
Considerando o que passamos
até agora, não foi pequeno o alívio que senti quando finalmente publicou-se
oficialmente que iremos receber parte do que nos é devido. Momentaneamente
cessam as angústias de não poder atender as prioridades da vida que, devido ao
seu crônico – e cruel – adiamento perderam de certo modo para mim, o
significado de caráter indispensável que essa palavra, prioridade, traz à
mente. Naturalmente, como essa solução temporária não é o que esperávamos nem
merecíamos, o enfrentamento dessas necessidades terá de passar pelas mesmas
apertadíssimas escolhas que fizemos nos últimos nove anos. Ironicamente, penso
que nesta parte o governo não nos faltou, posto que foi um treinador talentoso
e muito dedicado na arte de nos transformar em campeões em viver com cada vez
menos recursos e em paralelo a um envelhecimento inexorável.
Passada a euforia é
inescapável voltar às considerações do porquê sofremos um calote desse naipe e
por tanto tempo. É impossível não pensar no atropelamento perfeito, não um
simples arranhão, desses que um band-aid da vida cura em poucas horas. Também
não é possível parar de pensar – embora com nojo – nas personagens que
permitiram esse golpe em nossos direitos. O que se passa no Brasil de hoje não
classifica o caso Aerus/Varig como exceção – é própria regra. Os escândalos se
sucedem e as mentiras em que se apoiam, idem. Tudo é passível de ser aparelhado
e o que não cede à pressão perece. O poder atual não tolera o que não fica sob
seu controle e aí, pode-se imaginar se a Varig sobreviveria num cenário
perverso como este.
A natureza do ser humano
abomina a submissão. Queremos estar no controle, ainda que numa sociedade
moderna e complexa, esse controle tenha de estar em permanente negociação face
às mudanças que ora nos concedem mais espaço vital, ora nos retiram um tanto
dele. Fazer concessões e ganhar espaço por mérito faz parte da mecânica da
sociedade.
Mas a liberdade individual, o
senso de razoável comando da vida não pode ser alienado, posto que nem complexa
nem moderna a sociedade seria sem o respeito a este valor fundamental. Mas é
essa liberdade de controlar a própria vida que foi covardemente retirada dos
trabalhadores da Varig. Pela via do calote garantido pela insegurança jurídica
que só vendo sendo enfrentada muito recentemente, passamos quase nove anos
sangrando nossa saúde, nossa poupança, nossa dignidade, literalmente... nossas
vidas.
Essa gente até pode se dar
bem, ficar décadas (knock on wood!)
no poder, mas nunca poderá se eximir da responsabilidade pelo drama dos
variguianos. Se para alguns, devido ao alívio temporário, não é hora de lembrar
o que fez essa gente, aviso que é exatamente o oposto. Se nós que (ainda)
passamos pela experiência deixarmos essa história virar fumaça, os que vierem
depois de nós com certeza serão apenas cinzas.
A presente melhora da questão
Varig/Aerus sinaliza que ainda existem autoridades que merecem respeito neste
país, poucas é verdade, mas os juízes que tomaram as decisões justas e os
parlamentares que nos apoiam merecem nossa gratidão. Mas essa pequena melhora
da situação deve renovar nossa disposição de continuar cobrando. É só lembrar
que a obstinada negativa em devolver o que nos tiraram não combina com a
maneira leve e solta com que agiram para nos prejudicar.
Bom 2015 (que depende em
grande parte de nós mesmos).
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 5-1-2015
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Ufa… que bom saber de notícias positivas, parabéns e que a justiça seja feita...
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