domingo, 14 de maio de 2017

[Aparecido rasga o verbo] Os encantadores do malabarismo

Aparecido Raimundo de Souza

TODOS NÓS, brasileiros, temos propensões para sermos Otários e Manés. Catervas de carteirinha e sindicato. Somos filhos, por herança genética de nossos antepassados, de uma classe de malabaristas natos. Isso quer dizer que não aprendemos a profissão. Ela nasce com a gente. Está no sangue. Como as digitais. Parece que a coisa vem grudada, desde a concepção e, se desenvolve na medida em que o feto igualmente cresce e toma formas e proporções distintas.

Ultimamente esses ilusionistas andam em alta. Como os assaltantes, os larápios, trombadinhas, enganadores, espertalhões, homicidas e estupradores e outras fantásticas atividades inventadas pela evolução da humanidade abestalhada. Antigamente para serem vistos em ação (especificamente os equilibristas) se fazia necessário ir a um circo. Enfrentar filas quilométricas, adquirir os ingressos, comprar pipocas, refrigerantes e sorvetes. Com os grandes espetáculos montados país afora, esses profissionais (profissionais sim, por que não?!) passaram a ser vistos em todos os lugares. Principalmente naqueles recantos tidos como cartões postais em que você menos espera que eles estejam. Dias atrás capturamos um desses mambembes dependurados no saco do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. 

Hoje, é comum toparmos com eles (como os flanelinhas tradicionais, os pedintes e portadores de deficiências as mais diversas) nos centros das cidades, às dúzias nos estacionamentos, ou como uma chusma de crianças mendigando e se prostituindo nas sinaleiras. Esses cidadãos do bem estão em voga, em moda, em alta e se alastram pelos quatro cantos da federação como uma febre muito forte que insiste em não curar nem que a vaca cante Fafá de Belém ou saia voando por aí afora. Se duvidar, esse estado mórbido bota o sujeito na UTI, com passagem só de ida, sem direito a conexão no céu.

Uma das modalidades está ligada aquela que comumente se destaca mais e vemos pelos cruzamentos das principais avenidas: a criação. Em nome dela, esses manipuladores de objetos se diversificam. Uns pulam na frente dos veículos munidos com seis ou oito bolinhas de cores variadas. Põem em prática uma série de alegorias com essas bolinhas, que elas próprias se espantam e ficam boquiabertas, imaginando como seus donos conseguiram tamanha proeza. Outro grupo brinca de engolir fogo, jogar facas num alvo dançante (geralmente o alvo é uma jovem toda descabelada metida num biquíni preto com bolinhas alaranjadas do “tempo do onça”), ou comer giletes e sentar e passear sobre cacos de vidros descalços.

Existe, à parte, uma turminha que se especializou em vender maconha, craque (o cachimbo vai de graça) e outras especiarias, sem ser notada. Eles geralmente são identificados por se disfarçarem de policiais da guarda municipal, com suas motocicletas barulhentas adesivadas com as marcas da prefeitura. Um ou outro é descoberto, quando, por azar, um cachorro aparece do nada e resolve fazer seu pipi levantando a perna.  Quando o sujeito tenta escapulir da mijada, o comprador sai às carreiras atrás do elemento e a transação é realizada.

Pois bem, amadas e amados, não importa o estilo que essas criaturas utilizam. O fato é que, sem sombra de dúvidas, o desdobramento da fantasia está condicionado dentro de uma disciplina meticulosamente estudada, e prevalece, no seu auge, enquanto o festim está em ação. Enquanto os infelizes se desdobram para ganhar uns trocadinhos, os motoristas entediados com as fuças de “não estou nem aí” (confortavelmente sentados em seus carrões, com ar refrigerado falando ao celular, vendo televisão, enlaçados numa bela garota de sainha curta e pernas de fora), esperam que o sinal mude do vermelho para o verde, para que possam seguir viagem.


Uma parte da culpa pela ascensão desses personagens circenses (ou ruenses) se deve aos nossos representantes, ou melhor, aos nossos cafajestes e pilantras na Câmara, no Senado, nos ministérios, nos palácios bem guardados, e outras pocilgas não citadas, mas que todos sabem existir e abundar.  Para cobrir os rombos, os gastos astronômicos e as falcatruas que vivem aprontando, esses filhos da puta jogam, atiram uma enxurrada de impostos nas costas do trabalhador. Daquele infeliz assalariado, do desgraçado que compõem a banda mais indigente da plebe desamparada e desprovida, dos que, em épocas de eleições, correm a trocar votos por cestas básicas e pagamentos de contas de luz e água entre outros pedidos esdrúxulos. 

Já não queremos mencionar as medidas provisórias, as votações traiçoeiras por baixo dos panos, nas caladas das noites, que ao serem editadas e tornadas públicas dia seguinte, visam única e exclusivamente enfiar uma trolha sem tamanho, descomunal, no traseiro magro de todos nós consanguíneos dessa republiqueta de salafrários e ludibriadores do Povinho fodido. Dos senhores Amarildos da Silva e senhoras Marias Desdentadas.

Isso mesmo, caros leitores. Formamos um exército infindável de boçais e cavalgaduras cada dia maior de Amarildos e Marias da melhor qualidade. Para político bandido nenhum botar defeito. E como representantes dessa classe de descamisados, perdidos, sem eira nem beira, diante da pouca vergonha que impera na Capital do País, e que se alastra como erva daninha, ou pior, como um desses tumores malignos, que não tem cura. 
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Vila Velha, no Espírito Santo.14-5-2017

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