Regressei a casa, mas não
consegui ficar quieto. Saí e comecei a correr, depressa, cada vez mais depressa,
os joelhos torciam-se, os calcanhares faziam tremelicar os glúteos, os braços pareciam
desligados e agitavam-se como os de uma marionete.
Correr, correr e correr ainda.
O coração bombeava, na boca a
saliva afogava a língua e submergia os dentes. Sentia o sangue a inchar as carótidas,
a transbordar no peito, já não tinha fôlego,
pelo nariz aspirei todo o ar possível que depressa expirei como um touro.
Recomecei a correr, sentindo
as mãos geladas, o rosto a ferver, fechando os olhos. Sentia que que tinha
recuperado todo aquele sangue visto por terra, perdido como uma torneira com a
rosca moída, sentia-o novamente no corpo.
Finalmente cheguei ao mar. Saltei
sobre os rochedos, a escuridão estava empastada de neblina, nem se viam os
faróis dos navios que se cruzavam no golfo.
O mar encrespava-se, algumas
ondas começaram a levantar-se, pareciam não querer tocar o lodo da linha de
rebentação, mas também não regressavam ao redemoinho distante do alto-mar.
Permanecem imóveis no vaivém da água, resistem obstinadas numa impossível fixidez
agarrando-se à sua crista de espuma. Quietas, já não sabendo onde o mar é ainda
mar.
Roberto Saviano
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