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Eles não desistem. Apesar de a
presidente Dilma Rousseff ter deixado claro, em várias oportunidades, que não
quer ouvir falar em censura à Imprensa, os petistas continuam fazendo
proselitismo de sua visão muito particular de "controle social da
mídia". Foi o que voltou a acontecer na semana passada, durante o
seminário "Um novo marco regulatório para as Comunicações", promovido
em São Paulo pelo partido do governo e protagonizado pelo trio que está na
linha de frente dos defensores da mordaça: José Dirceu, Franklin Martins e Ruy
Falcão. O Palácio do Planalto recusou-se a dar seu aval ao evento, razão pela
qual o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, embora convidado e anunciado
como participante da mesa de abertura, não compareceu.
É claro que nenhum dos
integrantes do trio da mordaça admite publicamente ser defensor da censura. Mas
com o PT instalado no poder, logo no início do primeiro mandato de Lula, foi
proposta a criação de um Conselho Federal de Jornalismo com poderes para
controlar e fiscalizar os meios de comunicação. Por absurda, a ideia não
progrediu. Nessa época, é verdade, o trio da mordaça estava disperso: Dirceu,
chefe da Casa Civil, articulava a formação da quadrilha do mensalão, o que lhe
custou o cargo e o mandato de deputado federal. Martins trabalhava na imprensa
contra a qual já então conspirava, ao mesmo tempo que cultivava seus laços com
Lula e o PT, o que lhe valeu, tempos depois, o cargo de ministro. Falcão era
figura inexpressiva da nomenklatura petista e teria permanecido nessa condição
se as contingências da vida partidária não tivessem apontado para a necessidade
de colocar na presidência da legenda alguém que soubesse exatamente quem são os
verdadeiros mandachuvas. Hoje, desvinculados do governo, os três agem de comum
acordo na instância partidária para manter acesa a chama da obsessão que os
une: a censura à imprensa. Agem movidos, basicamente, pelo histórico
radicalismo ideológico que compartilham. E não se pode esperar que mentes
autoritárias admitam o contraditório, um dos fundamentos das liberdades
democráticas. Não é à toa que Dilma Rousseff, com ampla experiência no trato
com cabeças ideologicamente radicais e autoritárias, hoje queira distância do
trio de ferrabrases.
Foi por essa razão que a
presidente, logo ao assumir o poder, transferiu para o Ministério das
Comunicações e para o ministro Paulo Bernardo a responsabilidade de rever o
projeto de implantação do novo marco regulatório das comunicações. Este, no
governo Lula, tinha sido elaborado sob a inspiração de Franklin Martins, na
Secretaria de Imprensa da Presidência, e promovia, deliberadamente, confusão
entre os conceitos de marco regulatório propriamente dito e "controle
social" das comunicações.
Como já foi mais de uma vez
dito neste espaço, o marco regulatório é um conjunto de disposições legais que
disciplina as atividades em áreas que dependem de concessão estatal, como a
radiodifusão e a telecomunicação. "Controle social" é conceito que
implica não apenas a regulação da propriedade e do funcionamento técnico dos
instrumentos de comunicação, mas, sobretudo, dos conteúdos veiculados. A necessidade
da modernização do marco regulatório das comunicações no País, defasado em
relação aos avanços tecnológicos das últimas décadas, é absolutamente pacífica.
Mas a questão dos conteúdos diz respeito à liberdade de expressão e ao direito
à informação, fundamentos de uma sociedade democrática e, nessa medida,
intocáveis.
O trio da mordaça vai
continuar mistificando a questão do controle social da mídia, que hoje prefere
designar pelo nome mais charmoso de "democratização dos meios de
comunicação". Dirceu lamentou, durante o seminário, que não haja no País
nenhum jornal "de esquerda" para apoiar o governo. Talvez tivesse em
mente algo monolítico, como o Pravda soviético ou o Granma cubano. Porque não
basta a imprensa brasileira manifestar simpatia por algumas declarações e
alguns atos da presidente Dilma. Isso, para o trio, é apenas um truque das
"elites" para "dividir o PT".
Editorial do Estado de S.Paulo, 04-12-2011
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