Carlos Lúcio Gontijo
Não há como os governantes
trabalharem em prol de uma sociedade melhor se em suas planilhas
administrativas houver, como parâmetro único de medição de crescimento
econômico, o avanço material dos cidadãos. Há que existir espaço para que os
ocupantes de cargos importantes na administração pública e lideranças sociais
vejam as pessoas como um todo e não apenas como indivíduos propulsores de
renda, consumo e conta bancária.
Um ser humano é depositário de
riquezas maiores como a fé, a espiritualidade, o sentimento coletivo, o senso
de cidadania, o conhecimento, a educação e o gosto pela leitura, elementos que
o tornam sensível e capaz de vislumbrar em seus semelhantes o seu próprio
rosto, imbuindo-se do verdadeiro sentido da necessidade de se respeitar e amar
ao próximo como uma máxima a ser seguida em nome da construção de uma sociedade
melhor, mais fraterna e menos injusta, marcada pela constante busca de
desenvolvimento humano.
A realidade insofismável é que
não há como as nações continuarem voltadas para a proposta de crescimento
econômico pautado exclusivamente na aferição de produção de bens materiais e
consumo, pois não existem recursos naturais disponíveis no meio ambiente que
lhes garantam indefinidamente tal postura gestora.
Todas as ocorrências que hoje
se transformam em manchetes nos veículos de comunicação mundo afora apontam que
o sistema que rege a economia mundial não foi elaborado com o objetivo de
atender a todos, mas apenas a alguns privilegiados, que conseguem sucesso na
garimpagem do ouro e do dinheiro.
Assistimos à plenitude da
escravização generalizada imposta pela adoção e prática de materialismo
exacerbado, que tanto atormenta os que ostentam grande riqueza, quanto
escraviza o exército de pobres que esmola em todos os cantos e recantos do
planeta Terra. Ou seja, os grilhões do dinheiro escravizam as pessoas, que em
nome dele se tornam espiritualmente vazias e incapazes de perceber a
crucificação diária de Jesus Cristo diante de tamanha desigualdade social, onde
muitos podem comer dois, três bifes porque há um punhado de gente que não come
pedaço de carne algum e, muitas vezes, vai dormir sem nada no estômago, como
exigência e decisão insana do chamado mercado econômico, que dissemina a idéia
anticristã de que, para que alguns estejam muito bem, é preciso que centenas de
milhares experimentem os rigores da fome e da humilhação extrema.
A Campanha da Fraternidade 2012 traz como tema “Fraternidade e Saúde Pública”, alertando para a dura
realidade experimentada pelos que buscam atendimento médico-hospitlar no
sistema púbico de saúde e terminam, em muitos casos, não encontrando nem a
devida assistência nem a indispensável fraternidade, que é predicado cristão
esperado pelos que se veem na condição de doentes e sob o padecimento de grande
dor físico-orgânica. A Campanha da Fraternidade se faz ouvir num verdadeiro
grito de conscientização da Igreja Católica, por intermédio da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), contra a ausência de fé e espiritualidade
da sociedade de nosso tempo, que ergue seus reluzentes alicerces tecnológicos
como se eles fossem substitutos de Deus, tomando-os como fontes de ensinamento
acima da palavra de Jesus Cristo.
Não há futuro para o bicho
homem como habitante de planeta em que todos arrastem os grilhões do dinheiro
no corpo e na mente, moldando uma tortura onde a confissão da perversa
insensatez somente se dá em momentos críticos, nos quais – perante a fúria de
tsunamis sem explicação nem poder de contenção através da parafernália
engendrada pela ciência tecnológica – todos olham para o céu e clamam por Deus,
trocando o brandir de cartões de crédito pelo terço de orações.
Título e Texto: Carlos Lúcio
Gontijo, Poeta, escritor e jornalista
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