sábado, 11 de agosto de 2012

América Latina sob o signo do medo e da insegurança

Francisco Vianna
O Instituto Gallup fez uma enquete que mostra que a percepção de insegurança na Venezuela é a mais alta de toda a América Latina, e que pelo menos dois em cada três venezuelanos vivem sob o signo do medo e evitam sair de casa à noite em função do temor generalizado de se tornarem vítimas de roubo, sequestros, de serem feridos ou mesmo assassinados. Essa percepção de insegurança é, também, a terceira mais alta do planeta, perdendo apenas para o que sentem os habitantes do Chade, na África subsaariana e do Afeganistão, no Oriente Médio, países que sofrem uma violenta turbulência política.

O caudilho venezuelano Hugo Chávez faz, pela TV, apologia da violência e exibe duas pistolas que, segundo ele, eram de Simon Bolívar. Foto: Fernando Llano/AP
 Na América Latina, a percepção de insegurança e o medo de se expor na rua, principalmente à noite, varia de um máximo de 63% dos venezuelanos para um mínimo de 30% dos habitantes de Trinidad y Tobago.
Segundo a pesquisa do Gallup, logo atrás da Venezuela vem a República Dominicana, com 62 % de aterrorizados, seguida pelo Paraguai (59 %), Costa Rica (57 %), El Salvador (57 %), Guatemala (56 %), México (56 %), Bolívia (56 %) e Peru (55 %), para citar apenas os países onde a percepção de insegurança é maior.
Trinidad y Tobago se encontra entre os países menos inseguros, seguidos da Jamaica (31 %), do Chile (33 %), do Brasil (35 %), do Uruguai (38 %) e Argentina (42 %). Fora da América Latina, para efeito de comparação, estão os EUA com 24 % e Canadá com 21 % de pessoas assustadas.
Os especialistas ouvidos pelo Gallup disseram que os venezuelanos têm muitas e fortes razões para se sentirem atemorizados. “A Venezuela começou 2012 sendo o terceiro país com mais homicídios do continente americano, segundo dados governamentais”, explicou Fermín Mármol García, professor de Criminalística da Universidade Santa Maria de Caracas. “A Venezuela também é o oitavo país com mais sequestros do planeta, e isso é um fato alarmante porque, ha pouco mais de uma década o país não conhecia esse tipo de crime. Não por coincidência, a Venezuela é 11º país mais corrupto do mundo. São números que desonram o país nesse início de século XXI”, acrescentou o Prof. Mármol.
Roberto Briceño León, diretor do Observatório Venezuelano da Violência, com sede em Caracas, declarou que as expressões nos rostos dos venezuelanos refletem esta lamentável realidade: a elevação sustentável da violência no país. “O governo, depois de negar durante anos que houvesse tal aumento, e ter sustentado que o problema era pior antes da era Hugo Chávez, viu-se obrigado a reconhecer que há uma taxa de homicídios de 50 por cada 100 mil habitantes, duas vezes e meia mais alta que a existente no período pré-chavezista”, comentou Briceño. “Na verdade, acredita-se que essa taxa seja maior, em função da manipulação estatal das estatísticas. Nossas avaliações, pelos dados que temos, e inclusive baseados na própria informação oficial, nos dizem que a Venezuela tem uma taxa de homicídios de 67 por cada 100 mil habitantes. Mas se levarmos em conta apenas os números de governo, a taxa venezuelana é de duas vezes e meia maior que a do Brasil e três vezes maior que a do México”, assinalou.
Ainda de acordo com Briceño, o medo é uma reação totalmente sensata ante a espiral de violência que se apoderou da Venezuela, país que em 13 anos viu ocorrer 160 mil assassinatos, quase o triplo do total de baixas sofridas pelo exército estadunidense durante a guerra do Vietnã. E esses cálculos são bem conservadores, assegurou Briceño, assim como um número estimado de 480 mil pessoas que sobreviveram à violência, mas que sofreram ferimentos diversos e incapacidades resultantes durante o mesmo período.
Mármol afirmou que a onda de violência é produto de uma série de fatores, incluindo os altos índices de corrupção e os elevados volumes de drogas que transitam pelo país afora. Mas a situação se agrava exponencialmente devido ao colapso do sistema judiciário. “De cada 100 delitos, institucionalmente, somente oito são resolvidos. Ou seja, há no país 92 por cento de impunidade. Isto significa que na Venezuela é fácil cometer delitos e ficar impune”, acrescentou.
A impunidade se agrava na medida em que aumenta a escassez de policiais num país que os remunera muito mal e que deveria ter o dobro do seu efetivo uniformizado e o triplo de agentes e detetives — gerando uma situação que deixa evidente que pouca gente está disposta a exercer uma função pública por tão vil remuneração e ainda altamente arriscada, justamente em função dessa impunidade. “Cada ano é mais violento que o anterior. Neste 2012, a violência foi bem maior que em 2011. Por exemplo, o número de policiais assassinados já supera o total havido em todo o ano passado, na presente data”, disse Briceño. O mesmo ocorre com o número de motoristas assassinados e de presos que perderam a vida dentro dos centros penitenciários. Trata-se de um coquetel explosivo agravado pelo discurso de violência praticado pelo governo e pelo próprio Hugo Chávez.
 “Paralelamente está havendo uma destruição institucional intensa na Venezuela e, para nós, essa destruição tem tudo a ver com o contínuo elogio à violência por parte das autoridades, como forma de resolução de conflitos, como arma política, e como ferramenta para alcançar as metas e os fins propostos pelo chamado socialismo bolivariano”, assinalou Briceño. Tal corrupção de valores faz com que o próprio governo sabote seus próprios planos. Cria uma ‘comissão de desarmamento’ e justo quando essa comissão está para iniciar uma campanha para promover o desarmamento, vemos o caudilho fazendo apologia das armas, mostrando fuzis e exibindo outras armas de fogo pela TV”, destacou.
O Gallup recentemente publicou o quadro abaixo que retrata o Índice de Cumprimento da Lei na America Latina em 2009
O índice oscila entre -2.50 e 2.50, sendo zero o valor médio. Os valores negativos estão aquém do desejado e os positivos estão alem do esperado. Daniel Kaufmann et al., Indicadores da Governabilidade Mundial, 2010. Disponível em inglês em: http://info.worldbank.org/governance/wgi/index.asp
Título e Texto: Francisco Vianna (com base na mídia internacional), 11-8-2012

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