Francisco Vianna
O Instituto Gallup fez uma
enquete que mostra que a percepção de insegurança na Venezuela é a mais alta de
toda a América Latina, e que pelo menos dois em cada três venezuelanos vivem
sob o signo do medo e evitam sair de casa à noite em função do temor generalizado
de se tornarem vítimas de roubo, sequestros, de serem feridos ou mesmo
assassinados. Essa percepção de insegurança é, também, a terceira mais alta do
planeta, perdendo apenas para o que sentem os habitantes do Chade, na África
subsaariana e do Afeganistão, no Oriente Médio, países que sofrem uma violenta
turbulência política.
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O caudilho venezuelano Hugo
Chávez faz, pela TV, apologia da violência e exibe duas pistolas que, segundo
ele, eram de Simon Bolívar. Foto: Fernando Llano/AP
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Na América Latina, a percepção
de insegurança e o medo de se expor na rua, principalmente à noite, varia de um
máximo de 63% dos venezuelanos para um mínimo de 30% dos habitantes de Trinidad
y Tobago.
Segundo a pesquisa do Gallup,
logo atrás da Venezuela vem a República Dominicana, com 62 % de aterrorizados,
seguida pelo Paraguai (59 %), Costa Rica (57 %), El Salvador (57 %), Guatemala
(56 %), México (56 %), Bolívia (56 %) e Peru (55 %), para citar apenas os
países onde a percepção de insegurança é maior.
Trinidad y Tobago se encontra
entre os países menos inseguros, seguidos da Jamaica (31 %), do Chile (33 %),
do Brasil (35 %), do Uruguai (38 %) e Argentina (42 %). Fora da América Latina,
para efeito de comparação, estão os EUA com 24 % e Canadá com 21 % de pessoas
assustadas.
Os especialistas ouvidos pelo
Gallup disseram que os venezuelanos têm muitas e fortes razões para se sentirem
atemorizados. “A Venezuela começou 2012 sendo o terceiro país com mais homicídios do
continente americano, segundo dados governamentais”, explicou Fermín
Mármol García, professor de Criminalística da Universidade Santa Maria de
Caracas. “A Venezuela também é o oitavo país com mais sequestros do planeta, e
isso é um fato alarmante porque, ha pouco mais de uma década o país não
conhecia esse tipo de crime. Não por coincidência, a Venezuela é 11º país mais
corrupto do mundo. São números que desonram o país nesse início de século XXI”,
acrescentou o Prof. Mármol.
Roberto Briceño León, diretor
do Observatório Venezuelano da Violência, com sede em Caracas, declarou que as
expressões nos rostos dos venezuelanos refletem esta lamentável realidade: a
elevação sustentável da violência no país. “O governo, depois de negar durante
anos que houvesse tal aumento, e ter sustentado que o problema era pior antes
da era Hugo Chávez, viu-se obrigado a reconhecer que há uma taxa de homicídios
de 50 por cada 100 mil habitantes, duas vezes e meia mais alta que a existente
no período pré-chavezista”, comentou Briceño. “Na verdade, acredita-se que essa
taxa seja maior, em função da manipulação estatal das estatísticas. Nossas
avaliações, pelos dados que temos, e inclusive baseados na própria informação
oficial, nos dizem que a Venezuela tem uma taxa de homicídios de 67 por cada
100 mil habitantes. Mas se levarmos em conta apenas os números de governo, a
taxa venezuelana é de duas vezes e meia maior que a do Brasil e três vezes
maior que a do México”, assinalou.
Ainda de acordo com Briceño, o
medo é uma reação totalmente sensata ante a espiral de violência que se
apoderou da Venezuela, país que em 13 anos viu ocorrer 160 mil assassinatos,
quase o triplo do total de baixas sofridas pelo exército estadunidense durante
a guerra do Vietnã. E esses cálculos são bem conservadores, assegurou Briceño,
assim como um número estimado de 480 mil pessoas que sobreviveram à violência,
mas que sofreram ferimentos diversos e incapacidades resultantes durante o
mesmo período.
Mármol afirmou que a onda de
violência é produto de uma série de fatores, incluindo os altos índices de
corrupção e os elevados volumes de drogas que transitam pelo país afora. Mas a
situação se agrava exponencialmente devido ao colapso do sistema judiciário.
“De cada 100 delitos, institucionalmente, somente oito são resolvidos. Ou seja,
há no país 92 por cento de impunidade. Isto significa que na Venezuela é fácil
cometer delitos e ficar impune”, acrescentou.
A impunidade se agrava na
medida em que aumenta a escassez de policiais num país que os remunera muito
mal e que deveria ter o dobro do seu efetivo uniformizado e o triplo de agentes
e detetives — gerando uma situação que deixa evidente que pouca gente está
disposta a exercer uma função pública por tão vil remuneração e ainda altamente
arriscada, justamente em função dessa impunidade. “Cada ano é mais violento que
o anterior. Neste 2012, a violência foi bem maior que em 2011. Por exemplo, o
número de policiais assassinados já supera o total havido em todo o ano
passado, na presente data”, disse Briceño. O mesmo ocorre com o número de
motoristas assassinados e de presos que perderam a vida dentro dos centros
penitenciários. Trata-se de um coquetel explosivo agravado pelo discurso de
violência praticado pelo governo e pelo próprio Hugo Chávez.
“Paralelamente está havendo uma destruição
institucional intensa na Venezuela e, para nós, essa destruição tem tudo a ver
com o contínuo elogio à violência por parte das autoridades, como forma de
resolução de conflitos, como arma política, e como ferramenta para alcançar as
metas e os fins propostos pelo chamado socialismo bolivariano”, assinalou
Briceño. Tal corrupção de valores faz com que o próprio governo sabote seus
próprios planos. Cria uma ‘comissão de desarmamento’ e justo quando essa
comissão está para iniciar uma campanha para promover o desarmamento, vemos o
caudilho fazendo apologia das armas, mostrando fuzis e exibindo outras armas de
fogo pela TV”, destacou.
O Gallup recentemente publicou
o quadro abaixo que retrata o Índice de Cumprimento da Lei na America Latina
em 2009
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O índice oscila entre -2.50 e 2.50, sendo zero o valor médio. Os valores negativos estão aquém do desejado e os positivos estão alem do esperado. Daniel Kaufmann et al., Indicadores da Governabilidade Mundial, 2010. Disponível em inglês em: http://info.worldbank.org/governance/wgi/index.asp |
Título e Texto: Francisco Vianna (com base na mídia
internacional), 11-8-2012
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