Trinta pessoas protestaram na
Avenida Paulista contra a admissão dos embargos infringentes na quarta-feira.
Cinco atrizes postaram nesta quinta foto no Instagram em que aparecem, vestidas
de preto com a legenda “atrizes em luto pelo Brasil”: Carol Castro, Rosamaria
Murtinho, Nathália Timberg, Suzana Vieira e Barbara Paz. Aumentou meu respeito
por elas. Artista que hoje não exibe o nariz marrom diante do partido do poder
é coisa rara. Isso não quer dizer, obviamente, que sejam antipetistas — o que
não tem a menor importância. Trata-se somente de um protesto contra a
impunidade. No Distrito Federal, um grupo enviou 37 pizzas para o STF,
endereçadas a Ricardo Lewandowski, que está tendo o seu trabalho devidamente
reconhecido. Aqui e ali, houve outras pequenas manifestações de indignação. Mas
resta evidente que nem o advento do deputado-presidiário nem o risco de o
julgamento do mensalão desandar comoveram as ruas.
Quando Roberto Barroso, o
“novato”, e Celso de Mello, o decano, decidiram demonizar as “multidões”,
vociferando contra o clamor popular, eu fiquei aqui a me perguntar: “Mas a que
clamor se referem estes senhores? Onde estão as multidões?” Os truculentos já
haviam expulsado do espaço público o povo de verdade enquanto aqueles dois
batiam a mão do peito para exaltar a própria independência. Foi constrangedor. Não
honra a biografia de um e não ajuda a construir a do outro. A miríade de
grupelhos de esquerda, muitos deles financiados com dinheiro público, que
alimentava os protestos por intermédio das redes sociais já havia retirado o
time de campo, num rápido processo de desmobilização. O PT foi muito eficiente
no trabalho de contenção. E os setores da imprensa que estavam brincando de
Primavera Árabe resolveram arrumar outra distração.
Se eu tivesse alguma dúvida —
na verdade, como vocês sabem, nunca tive — sobre o real caráter das
manifestações de junho, ela teria se dissipado agora. Não era “pelos 20
centavos”? Pois bem. Poder-se-ia criar agora o movimento “não é pelos R$ 170
milhões” — mais ou menos o valor a que se chegou na pequeníssima fatia do
mensalão que foi investigada. O poder real do PT está hoje nos fundos de
pensão, que conseguiram passar incólumes pela investigação. Onde estão os
protestos?
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra a impunidade.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra um grupo que ousou se organizar para tomar a democracia de
assalto.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra uma Justiça que se mostra incapaz de garantir aos réus as
seguranças próprias de uma democracia e, ao mesmo tempo, demonstrar que essa
democracia repudia o malfeito.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra uma óbvia operação de captura do Poder Judiciário por um
partido político.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra uma Justiça que parece organizada para proteger
malfeitores.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra o uso de dinheiro público para criar na Internet e nas
redes sociais uma teia de apoio a larápios, que fraudaram o estado de direito.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra o uso de uma lei de incentivo à cultura para cantar as
glórias de corruptos, peculadores e quadrilheiros.
Não é só pelos R$ 170 milhões,
mas é também contra partidos e lideranças de oposição que silenciam diante do
risco da impunidade.
Que fique claro! Não estou
duvidando dos motivos de milhares que foram às ruas e da justeza de algumas de
suas reivindicações. Estou aqui a destacar, isto sim, que aqueles protestos
foram superestimados e, em boa parte, estimulados por setores da imprensa que
tentam colar nas redes sociais num esforço meio desesperado e vão de acompanhar
o frenesi. Ao fazê-lo, perdem profundidade, capacidade de análise e,
infelizmente, a devida prudência.
Quaisquer que tenham sido os
motivos que detonaram aqueles protestos — já escrevi muito a respeito —, nada
aconteceu de mais grave do que o Poder Legislativo tentar inaugurar a sua
“facção Papuda” e o risco de a corte suprema sofrer uma desmoralização inédita
em tempos democráticos. Não, senhores! Não é só pelos R$ 170 milhões — só o
escândalo recém-descoberto no Ministério do Trabalho pode chegar a R$ 400
milhões.
É pela afronta à dignidade.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 20-9-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-