O país que atravessa séria
escassez de produtos básicos, tem pela frente vencimentos da dívida soberana,
neste ano, que representam mais do dobro do que irá arrecadar até dezembro com
o petróleo.
Francisco Vianna
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Uma cliente sai de um mercado privado em Caracas onde conseguiu comprar papel higiénico. Foto: Fernando Llano/AP |
O governo socialista
bolivariano deve cancelar, nesta semana, obrigações oriundas de 1,642 bilhão de
dólares por uma emissão de bonus globais de 2013, montante que representa 83,9
por cento das reservas líquidas de 1,950 bilhão anunciadas no fechamento de
julho, segundo um relatório publicado no jornal governista “El Nuevo País”.
Mas o vencimento desta semana
representa menos da metade dos vencimentos previstos para o restante do ano em
curso, disse José Guerra, professor da escola de Economia da Universidade
Central da Venezuela. “Há um caso sério de liquidez do Banco Central do país.
As reservas estão caindo aceleradamente e no que resta do ano, entre setembro e
dezembro irão vencer os pagamentos de juros e de capitais da dívida externa de
4,6 bilhões que têm que ser pagos”, disse Guerra, de Caracas.
“O país tem uma restrição
severa de reservas internacionais e não se vislumbra como o governo possa
levantar fundos de maneira rápida bem agora no mercado mundial, porque isso
significará aumentar mais ainda a dívida soberana do país, quando as reservas
internacionais de moeda forte do Banco Central estão despencando”.
Essa diminuição se traduz na
venda das reservas em ouro, que constituem o grosso das reservas internacionais
do país, numa tentativa de aumentar as reservas líquidas, que em julho
representavam apenas o suficiente para duas semanas de importações.
Esse processo – e a
depreciação no valor do ouro nos mercados mundiais – tem levado as reservas
venezuelanas a despencar dramaticamente para situarem-se nesta semana em níveis
de 21,989 bilhões de dólares, o montante mais baixo desde novembro de 2004,
quando o preço do petróleo estava abaixo de 40 dólares o barril, relatou o
jornal ‘El Universal’.
Em junho último, essas
reservas somavam mais de 27 bilhões, 2,5 bilhões das quais como reservas
líquidas.
A grave crise de liquidez que
o regime socialista venezuelano enfrenta mostra que a renda proveniente do
petróleo já não é mais suficiente para sustentar a economia estatizada e os
enormes compromissos nacionais e internacionais assumidos pelo regime
chavezista.
O cenário de escassez, que
mantém as estantes dos supermercados vazias, em função da destruição sustentada
do aparato produtivo promovida pelo chavezismo ao longo dos últimos 15 anos,
agravado pelo elevado consumo estimulado pelo regime quando a renda do petróleo
ainda dava para pagar por ele, levou os venezuelanos a se acostumarem em
consumir mensalmente mais de 5 bilhões de dólares em importações. Na Venezuela
– que há duas décadas tinha uma indústria promissora e uma atividade econômica
crescente, hoje não produz quase nada e as pessoas vivem basicamente de
empregos públicos e não querem saber de diminuir o consumo.
A renda do petróleo, que
erroneamente o regime achava que daria para pagar por tudo e para sempre, só
deve arrecadar algo em torno de 10 bilhões de dólares no que resta de 2013,
disse Boris Ackerman, professor de Finanças da Universidade Simón Bolívar em declarações
publicadas no jornal governista “El Nuevo País”. A PDVSA está sucateada, sem
capitais e sem mão de obra qualificada – que se evadiu do país – para a
manutenção do seu parque petrolífero que se encontra em adiantado estado de
deterioração.
Esses 10 bilhões de dólares
que a estatal deve arrecadar até o fim de dezembro próximo, na realidade,
representa a metade dos compromissos assumidos pela Comissão de Administração
de Divisas (CADIVI) pelas importações que já foram feitas, o que significa que
a renda do petróleo já está comprometida para o que resta do ano em regime
deficitário. Ou seja, a despesa de importação já chega, mensalmente, ao dobro
do faturamento da PDVSA, comentou o Professor Guerra.
“A não ser que Caracas
encontre uma nova fonte de financiamento, o povo vai ter que comer menos,
vestir menos, locomover-se menos, ou seja empobrecer a olhos vistos. A margem
de liquidez é estreita, estreita demais, e com tais vencimentos que se
aproximam as coisas vão ficar muito críticas e apertadas”, insistiu o mestre.
A acelerada deterioração das
reservas internacionais de moeda vem a público num momento em que os
funcionários do chavezismo começam a tatear a possibilidade de chegar a algum
tipo de aproximação com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Tal iniciativa, todavia, não é
vista com bons olhos pelo socialismo chavezista, mas que é considerada pelos
funcionários dedicados em manejar a economia estatizada como um passo que
poderá melhorar o acesso do país às fontes internacionais de crédito. A má
vontade do chavezismo com o FMI reside no fato de que o organismo creditício
mundial haverá de fazer exigências que são vistas como um estímulo ao
capitalismo privado no país...
Mas o crédito dificilmente
poderá ser estendido ao país a tempo de forma útil para ajudar o governo a
honrar os vencimentos da dívida previstos para este ano, num cenário que
provavelmente aumentará os problemas de escassez de produtos que os
venezuelanos já amargam há algum tempo. Esses problemas que, segundo o Prof.
Guerra, eram pontuais há dois ou três anos, agora já se tornam muito agudos e
severos.
“Em Caracas, neste momento,
não se consegue, entre outros produtos de necessidade básica, um rolo sequer de
papel higiênico. Simplesmente não há. As pessoas batem pernas de loja em loja e
não acham”, afirmou.
Multipliquem essa situação por
50 anos e pode-se antever que, após esse meio século, a perdurar a moléstia
socialista, a Venezuela estará numa situação igual ou pior a que se encontra
Cuba hoje.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 17-9-2013
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