Sr. Ministro, após a primeira
greve de fome do Variguiano José Manuel, "milagrosamente" foi
efetivado o seu parecer na questão referente à liminar de tutela antecipada.
Questão essa que vinha pendente deste outubro do ano passado, sem prazo e sem
satisfação a nós que do lado de cá, esperávamos e dependíamos ansiosamente de
seu posicionamento. Pois bem, finalmente veio de forma impessoal seu retumbante
não. Digo primeira, por esta ter sido sucedida por outra greve de fome, desta
feita com quatro colegas. José Manuel, Lucas Alves e mais duas comissárias
Izabel Regis e Liz Cordeiro.
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Imagem: Murillo
Perecinotto
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Vou usar aqui a linguagem
coloquial das ruas, e propor um "papo reto".
Nós já temos provas
incontestes de para que lado o Sr. se inclina, tudo bem, agora dê o direito aos
seus pares de se manifestar. Estamos vivenciando uma insegurança jurídica, que
está nos torturando e oprimindo. Pelo amor de Deus, pare de torcer o torniquete!
Não somos criminosos. Somos trabalhadores idosos e caminhando nossos últimos
passos. Não disponha de nosso tempo de vida desqualificando todos os aspectos
envolvidos, incluindo o estatuto do idoso.
Eu adquiri agora uma
labirintite de fundo emocional e perdi 3 níveis de audição por conta desse
panorama. Não há o que possa ser feito, segundo a minha médica, para restituir
minha acuidade auditiva, tampouco se pode explicar ou tomar medidas
profiláticas. Imputo a todos os autores diretos e indiretos dessa indecência
jurídica, todos os suicídios, todas as mortes abreviadas e o fato de eu estar
somatizando a ponto de acabar surda.
Já fizemos tudo conforme o
preconizado juridicamente. Já nos manifestamos, já nos confinamos numa salinha
com 13 idosos por 26 dias. O que mais querem que façamos, que nos matemos ao vivo?
Criando fato novo para imprensa?
Eu me pergunto, qual é o
sentido de existir o direito, os tribunais e a justiça? Se não vejo
objetividade alguma em fazer prosperar o preponderante. Não compreendo o
raciocínio que está por trás de uma justiça que no final das contas,
juramentadamente, aniquila, destrói, desconsidera, tortura de forma desumana e
ainda tripudia, esfregando-nos nas ventas sua sapiência superior, suas muitas
leis e brechas e recursos e agravos e interpretações, pedidos de vistas e sei
lá mais o quê...
Não nos humilhe mais do que já
temos sido humilhados. Não chute cachorro morto. Isso não é um procedimento
digno a qualquer pessoa de bem. Não queremos sua piedade, até porque, duvido
que ela exista. Queremos que o Sr. cumpra as suas atribuições, pois essa foi
sua escolha. Não estamos pedindo um favor, afinal, somos nós quem sustentamos
todas as instituições do país através de nossos impostos. Gostaria, fique o
Senhor sabendo, de estar me dirigindo agora, não ao Min. Joaquim Barbosa, dono
de um curriculum invejável e de uma carreira brilhante, e sim ao trabalhador,
ao pedreiro Joaquim Barbosa, que certamente cavou pedras com as unhas para
chegar onde chegou. Este, tenho plena certeza me entenderia, e se indignaria
tanto quanto eu. Senhor Ministro, já está entrando para a sua biografia e vai
ser muito sério esse duelo entre Davi e Golias, sabe por quê? Porque quem está
arrancando as unhas agora na superfície árida, arestada e inóspita, desse muro
de indiferença que é o sistema judiciário Brasileiro, do qual o Senhor é
detentor do mais relevante patamar como Presidente da Suprema Corte, somos nós,
os rejeitados trabalhadores da Varig. O sentimento de indignação nos sustenta.
Lembre-se, mesmo que
remotamente, da sua gana pela sobrevivência. É desse destemor que estamos revestidos.
Se o Senhor fizer uma retrospectiva, vai concluir facilmente, que é na
necessidade que se adquire determinação! Não há nada que arrefeça a obstinação
de um homem valoroso em busca de sua sobrevivência, pois além da necessidade em
si, ele tem como alimento seus princípios. Um dia como todos nós o Senhor se
verá despido de suas roupas, de suas glórias, de seus títulos, completamente nu
diante de si mesmo e de alguma entidade superior, e sem possibilidade de
artimanhas jurídicas tudo que poderá apresentar, serão seus atos. Faça um exame
de consciência. Ainda dá tempo de o Senhor não ter para mostrar, unicamente um
par de mãos vazias.
Com toda indignação de que sou
capaz.
Título e Texto: Angel Nunes, Comissária aposentada da
Varig, 03-9-2013
Via José Manuel
Parabéns Angel Nunes, por sua bravura e contundência! Você disse tudo o que gostaríamos de dizer e que está trancado em nossas gargantas! Pintou com cores vibrantes a nossa triste realidade! Expôs o nosso drama com a força da moral que ainda nos sustenta! Tomara, oxalá, ele nos ouça!
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