Paulo Resende

Copacabana, Dia Nacional do Aposentado, 24-01-09

Carlos Lira

Amigo Paulo Resende,

“Sinto VERGONHA, logo existo”. 
Vladimir Soloviev

Hoje passei o dia triste, tenso, meditativo, apreensivo, decepcionado e sobretudo ENVERGONHADO por ti, caro amigo! Paulo Resende, mais do que nunca o caso AERUS se patenteia em sua máxima crueldade através de ti, nobre amigo! Estás hospitalizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto, onde foste submetido a uma operação de câncer de próstata. Pelo que sei, a equipe médica que te operou é eficiente, equipamentos de primeiro mundo, etc. Até aí, tudo bem: pelo teu carisma, pela tua família, ou mesmo através de conhecimentos, estás bem atendido, bem medicado, graças a Deus. Nada contra estares em um hospital público. O que me provocou uma sucessiva onda de revolta foi o drama que o aposentado do AERUS está sendo submetido. É um dramalhão ou uma tragédia? Ou essa porcalhada toda? Passamos toda a vida ativa pagando plano médico (alguns mais de TRINTA anos) para no fim, depender de favores? Caro amigo, é revoltante tudo isto! É revoltante a parca quantia que o aposentado do AERUS recebe impossibilitando-o de manter um plano médico para si e sua família, é revoltante o descaso com que o caso AERUS é tratado pelo governo, é revoltante a miséria com que o governo confere aos aposentados do INSS que recebem mais de um salário mínimo, etc. O que será do idoso brasileiro? É um verdadeiro genocídio o que este (des)governo está praticando contra o aposentado brasileiro!

Agora pergunto: e os nossos colegas aeronautas que não foram contemplados pela sorte que tiveste, como ficam? Muitos dos nossos, caro colega, enveredam para o suicídio como solução para esta situação desesperadora! Morrem de vergonha por terem sido honestos ao longo de suas vidas como cidadãos brasileiros! Eles tiveram vergonha de mudar de idéia porque tiveram vergonha de pensar. Muitos morrem à míngua ou morrem por causa da própria vergonha que o extermina...

Paulo Resende, sempre deste a cara à tapa, sempre denunciaste, foste antipatizado por muitos, e amado por muitos outros, submetido a processo imeritório por parte de quem deveria ser processada, o teu destaque nesta luta insana é muito grande, muito acima da mediocridade que ronda esta situação. Em tuas postagens além das denúncias, além de tuas idas e vindas onde estávamos a protestar, puseste e continuarás pondo, se Deus quiser, o manifesto da honradez, por maior vergonha que a categoria esteja passando, sempre apontaste para o caminho do que é direito, do que é correto. Afinal, a “vergonha é a herança maior que meu pai me deixou”; a vergonha é um bem preciosíssimo que torna o homem capaz de selecionar os seus comportamentos com as exigências daquela suprema CONSciência, que nos foi deixada como herança pelos nossos antepassados.

Não há vergonha nenhuma em ser pobre, em ser submetido a operação num hospital público, mas é deveras incômodo depender de favores quando, ao longo da vida, gastou-se uma verdadeira fortuna em plano médico. Leonel Brizola dizia: “Estou pensando em criar um vergonhódromo para políticos sem-vergonha, que ao verem a chance de chegar ao poder esquecem os compromissos com o povo”. É isto que estamos vivendo neste momento, meu caro amigo Paulo Resende! O que existe neste governo atual é cometer uma verdadeira atrocidade contra a sociedade brasileira! Destruiu aos poucos os valores de uma nação em franco progresso: a Varig, a Petrobrás, a segurança nacional, a navegação, etc. Um governo que se torna hipócrita porque não possui a humildade para reconhecer os próprios erros.

Amigo Paulo, o Resende de todos nós, o amado, o odiado, o contestado mas sempre admirado, a sua maior virtude reside em sua fidelidade ao próprio sentimento. Com destemor, nem vergonha de confessar o que se passa em seu coração, você nos cativou, meu amigo!

Millôr Fernandes já dizia: “A pobreza não é, necessariamente, vergonhosa. Há muito pobre sem vergonha”. Tu enveredaste por este caminho e por causa disto é que conclamo aos amigos e admiradores de Paulo Resende que, juntos, oremos por seu pronto restabelecimento, para que o mesmo continua vivo e presente, para incomodar muita gente.

Título e Texto: Carlos Lira, 07-01-2014

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