A blogueira oposicionista cubana, Yoani Sánchez, nos envia de Havana uma matéria em que conta com detalhes a agressão sofrida por uma estudante pela intolerância política de ‘universitários’ chavezistas, na Venezuela, à sua oposição ao regime, acompanhada da foto acima onde se vê a vítima com os seios nus, apenas de calcinhas, servindo de chacota a um bando de marmanjos covardes, a maioria encapuçados sob os olhares complacentes de um policial.
A moça estava expondo suas
obras de arte e, de repente, sentiu-se como se estivesse na Havana dos anos
oitenta com o escândalo ocorrido com a exposição “Nove Alquimistas e um Cego”,
e que terminou com seu fechamento e a satanização de muitos artistas.
A pele nua do corpo é um
desafio, um protesto, num país onde o poder ainda hoje se apresenta de verde
oliva, de mangas compridas, uniformes quentes que escondem em vez de mostrar.
As ditaduras lidam muito mal
com a nudez. Consideram-na impura, suja, humilhante, e desaforada, quando na
realidade é o estado natural e primevo do ser humano ao chegar nesse mundo. São
pacatos os tiranos, pacatos e timoratos. Assustam-se com qualquer gesto
libertário e com a demasiada pele exposta percebendo-a como um gesto desafiante.
Pensam assim porque – no fundo – veem o corpo humano como algo impuro e
obsceno. Daí o fato de despirem seus confrontantes ideológicos se constituir
numa das práticas repressivas que mais empregam. Acreditam que o desposar suas
vítimas de suas roupas os reduzem a simples animais inferiores. Trata-se do
mesmo mecanismo mental que lhes leva a chamar de “vermes”, “carrapatos” ou
“baratas” a quem os critica.
![]() |
Na Ucrânia, feministas se
desnudam para protestar contra o governo indiano por suas medidas repressivas
às mulheres. “Não sou prostituta!” e “a Ucrânia não é bordel”, é o que dizem os
cartazes...
|
Num cubículo sem janelas um guarda obriga um preso político a se despir completamente; num quarto de onde ninguém pode escutar seus gritos, três mulheres remexem por baixo da roupa de uma cidadã que acabou de ser presa; num albergue de uma escola rural os banheiros com chuveiros não têm cortinas para que nenhum estudante possa possuir para si o restrito território de seu próprio corpo; numa sala fria e cinzenta os judeus eram desnudados antes de entrar nas câmaras de gás. Desnudar para humilhar, desnudar para desumanizar, desnudar para matar. É a prática antiga da covardia dos autoritários...
As imagens que chegam da
Venezuela confirmam que ainda se pratica a privação da roupa como castigo
moral. Uma jovem é posta nua por um grupo que procura degradá-la ao expor,
contra a sua vontade, cada centímetro de sua pele e das partes íntimas de seu
corpo.
Na verdade, acabam tornando-a
um ícone de formosura, de pureza violentada, de candura aviltada. Não, não há
sujeira no corpo humano, não há nada do que se envergonhar em permanecer nua
perante tal grupo de pobres coitados e manter a altivez acaba por desconcertá-lo
e envergonhá-lo.
Pois que se envergonhem
bastante essas bestas uniformizadas, que se aproximam de suas débeis vítimas
usando armaduras e escudos militares para enfrentar pessoas simples, quase
caladas, e desarmadas. Que se envergonhem esses que se escondem por baixo das
desonrosas vestes do medo e da covardia.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 12-05-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-