quinta-feira, 11 de setembro de 2014

HAMAS dá sinais de querer negociar diretamente com Israel

O mandachuva do grupo terrorista HAMAS, de Gaza, Moussa Abu Marzouk, numa mudança de política dramática, diz que quer um contato direto entre o HAMAS e o estado judeu, quebrando assim seu próprio tabu.
Francisco Vianna

O líder veterano do HAMAS, Moussa Abu Marzouk, foto: AP

Numa reviravolta dramática de atitude política, um dos principais líderes do HAMAS disse que seu grupo quer buscar negociar com Israel, alegando que “a fé islâmica não proíbe tais contatos”. Moussa Abu Marzouk, subchefe do birô político do HAMAS, disse à TV Palestina Al-Quds, ontem, quarta-feira, que o Hamas “pode ser forçado” a negociar com Israel, uma vez que a vasta maioria dos residentes da Faixa de Gaza assim o exige e “do ponto de vista da Lei Shaaria (a lei islâmica), nada impede que hajam negociações sobre a ‘ocupação’, pois, se o grupo ‘negocia’ com Israel usando armas, pode também fazê-lo usando palavras”, disse Abu Marzouk.

Acrescentou ainda que “acredita que, caso as coisas continuem como estão agora, o Hamas pode não ter alternativa. Digo com toda honestidade que as negociações têm se tornado uma exigência quase popular hoje em dia entre a população da Faixa de Gaza e que, em vista disso o Hamas pode se ver forçado a adotar esta política”.

Tem-se relatado que Abu Marzouk luta para articular seu GRUPO para essa nova posição, diametralmente oposta a até então vigente e que proibia qualquer contato direto com Jerusalém. Disse que “quando os direitos básicos (leia-se necessidades básicas) de nossos irmãos na Autoridade Palestina e o governo até o presente atingem tais urgências, as políticas tabus do HAMAS devem se amoldar à sua agenda”.

As negociações da AP com Israel costumam ser o ponto nevrágico de dissidência entre o HAMAS e o FATAH, um grupo mais moderado comandado por Mahmoud Abbas, eleito Presidente da Autoridade Palestina, um arremedo de “estado palestino” que a ONU tem se esforçado em transferir legitimidade, mas que não tem a menor condição de liderança política e principalmente de condição econômica para sustentar um Estado Palestino de Direito, como os israelenses gostariam que ocorressem na Faixa de Gaza, e para isso, se retiraram de lá, inclusive usando a força militar para retirar os assentamentos judeus que existiam na faixa litorânea. Na verdade, os palestinos não têm um PIB ou unidade política capaz de manter um estado próprio soberano e de direito e a própria AP só funciona graças ao “mensalão” que a ONU envia a sua “capital” Ramallah, na Cisjordânia. 

O HAMAS, de forma aguda refutou Abbas por ter se engajado numa rodada de nove meses de conversações com Israel em julho de 2013, com seu porta-voz Sami Abu Zuhri afirmando lá pelo fim de abril desse ano que “não há futuro nas negociações com Israel”.

O HAMAS já negociou dois cessar-fogos com Israel, em 2012 e em 2014, através de mediadores egípcios e nunca diretamente. Por outro lado, o grupo não respeitou nenhum dos dois.

Israel, por sua vez, tem uma política de não negociar diretamente assuntos de estado com o HAMAS, ou o FATAH, mas apenas com a Autoridade Palestina, primeiro por uma questão de coerência quando afirma ser do seu interesse a criação, se possível, de um estado palestino de direito e, segundo, por considerar os grupos como organizações terroristas.

Saeb Erekat (esq.), com John Kerry (centro), e Tzipi Livni numa conferência de imprensa em julho de 2013 em Washington, sobre o relançamento das conversações de paz. Foto: AP

Um cientista político da Universidade Al-Ashar, de Gaza Mkhaimar Abusada, disse que “Abu Marzouk fala em nome de um sentimento de desespero que aflige os residentes de Gaza”, a quem ele frequentemente consulta em suas visitas à Faixa, vindo do Cairo, onde reside. “As pessoas em Gaza estão cansadas e desgastadas pela guerra e não querem que a destruição havida em suas cidades ocorra de novo”.

Mas há outra explicação geopolítica. “Desapontado como a tendência egípcia pró FATAH, o HAMAS gostaria de abrir um canal oculto com Israel através do Qatar e da Turquia, que por trás das cortinas sempre apoiaram o contrabando de peças de foguetes e armamentos para a Faixa de Gaza”, opinou Abusada.

O HAMAS entende finalmente que a sua discórdia com o FATAH de Hamallah, na Cisjordânia, está aqui para ficar durante um future previsível — especialmente pelo fato das críticas ácidas de Mahmoud Abbas à conduta do HAMAS durante a Operação Proteção da Orla— e gostaria de solidificar o efetivo controle da AP sobre a Faixa de Gaza. “O HAMAS parece sentir, afinal, que não tem força, apoio popular, apoio internacional, e muito menos dinheiro suficiente para reconstruir toda a destruição de Gaza e ao mesmo tempo manter uma atitude beligerante indefinida contra Israel capaz de lhe dar qualquer vantagem, a não ser mais morte e destruição”, disse Abusada.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 11-09-2014

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