Luciano Henrique
Mais um post (o terceiro do
dia) em que a polêmica Bolsonaro X Rosário é citada? Sim, mais um, pois me
perguntaram: “Luciano, você, como estrategista político, não seria melhor
deixar de defender Bolsonaro?”. É o contrário. Qualquer menor instância de
notícia deste assunto tem servido para provar, de uma maneira geral, que
muitos de nós estamos nos comportando igual alguns europeus. Estes, em
certo momento, começaram a achar que os chargistas do Jyllands Posten (da Dinamarca)
estavam mais errados que os radicais islâmicos assassinando pessoas. (Veja o
vídeo ao final deste post)
É nesta armadilha que não
podemos cair. Não podemos transformar uma piada grosseira em crime apenas por
que o PT tem intenção de esconder um crime dos seus.
Eu posso criticar (como
critiquei) o Bolsonaro à vontade. Meu primeiro post sobre o assunto foi uma crítica até ácida demais a ele. Mas
isso não implica que eu tenha que renegar a civilização.
Note que eu entendo que muitos
de nós estejamos impressionados com a sensibilidade artificial histérica dos
petistas. Assim como na época muitos ficaram a favor dos radicais islâmicos,
mesmo que esses tivessem matado mais de 150 pessoas por uma bobagem. Na época,
muitas dessas pessoas de boa-fé diziam: “o erro está com os chargistas do
Jyllands-Posten”.
Mas é esse comportamento
complacente com os violadores da liberdade que estimula as barbáries. Essas
pessoas, inocentemente, acham que ao serem conciliadoras, estão colaborando com
a paz. Na verdade, promovem a guerra. Mesmo que de forma inadvertida.
Sei que alguns do nosso lado
se sentem bem ao dizer “Abaixo Jair Bolsonaro”, esquecendo-se, é claro, do
crime de Maria do Rosário. Talvez esperem afagos dos petistas e até citações
deles: “Está vendo, até (x), que é da direita, diz que Bolsonaro está errado”.
Quem estudou o fenômeno do comportamento apaziguador na época das charges de
Maomé viu que muitos adeptos da liberdade também ficaram contra os chargistas do
Jyllands-Posten, na mesma medida em que se esqueciam dos crimes dos radicais
islâmicos.
Eu prefiro dormir com a
consciência tranquila. Posso repudiar várias das ideias de Jair Bolsonaro
(inclusive as declarações feitas contra FHC no passado, a defesa das estatizações
e até a defesa do regime militar), mas isso não me impede de notar que ele tem
a liberdade de expressão de fazer uma piada grosseira sem ser tratado como um
criminoso por isso. Como se afronta pouca fosse bobagem, ninguém menciona o
crime de Maria do Rosário.
Eu me recuso a ficar a favor
dos radicais islâmicos contra os chargistas do Jyllands-Posten da mesma maneira
que me recuso a ficar do lado dos petistas contra Jair Bolsonaro.
Em tempo: melhor seria se
Bolsonaro tivesse gritado “Polícia, Polícia”, e visto os petistas correndo em
debandada. Segundos depois, ele poderia dizer: “Calma, era brincadeira,
gente!”. Seria mais efetivo do que usar uma piada grosseira. Mesmo assim, a
famosa declaração grosseira não é um crime sob qualquer análise feita sob um
debate moral que queira ser levado a sério.
Em tempo 2: sob a ótica da
estratégia política, qualquer crítica do nosso lado a Jair Bolsonaro deveria
ser acompanhada por críticas muito mais contundentes à Mária do Rosário. Os
apaziguadores, é claro, não têm essa prioridade.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 16-12-2014
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