Carlos Abreu Amorim
Tem-se agravado, nos últimos
meses, uma feroz campanha mediática que nos pretende convencer, à pressão, que
Pedro Passos Coelho (PPC) não tem futuro político e que a sua presença na
liderança do PSD empobrece as hipóteses de regresso ao poder da atual Oposição.
Tenho duas dificuldades iniciais com esta tese tão propalada:
1.
Primeiro, nada disto é novo. Passos Coelho, dizia-se, restava sem futuro logo
em 2010, quando chegou à liderança do PSD. Muitos dos inteligentes de serviço
(ancorados em sondagens igualzinhas às de agora) juravam que PPC não
conseguiria vencer o PS de Sócrates e que nunca seria primeiro-ministro.
Depois, em 2011, quando PPC,
já primeiro-ministro, teve de aplicar aquilo que os socialistas haviam
negociado com a Troika, os mesmos asseguravam que o seu Governo nunca chegaria
ao fim da Legislatura. Mas chegou, a crise foi vencida e Portugal começou a
crescer. Contudo, a berraria acentuou-se após António Costa ter esfaqueado
Seguro: a partir daí, Costa foi ungido por tudo o que se crê ser pensante no
nosso indigenato político como o vencedor antecipado das Legislativas de 2015.
Recordo, divertido, ouvir gente muito diplomada a aconselhar-me no sentido de
"se livrarem do Passos e entregarem o PSD a um novo líder antes das
eleições para termos hipóteses de as vencer" - novamente, obedientes e
venerandas, as infalíveis sondagens que por cá se vão gerando afiançavam a
vitória sem rebuço do PS de Costa. Enganaram-se outra vez!
Agora, quando os ouço trautear
exatamente a mesma melodia, quando vejo os mesmos a ensaiar novamente a
certificação da história que já provou ser falsa, tantas vezes, não consigo
deixar de me espantar com as doses assombrosas de fé que são necessárias para
que esta gente continue a tentar conformar a realidade a lindas ideias de que
julgam dispor...
2. O
segundo grande óbice que tenho quanto à teoria que estão a tentar enfiar pelas
goelas abaixo dos portugueses é que, quanto a mim, o grande objetivo
estratégico do PS de Costa (e não só), hoje, consiste em provocar uma crise no
PSD e afastar Passos Coelho da liderança - ao contrário daquilo que
constantemente afirmam em público!
PPC já os derrotou por duas
vezes quando os socialistas estavam convencidos da inevitabilidade da sua
própria vitória.
Ao contrário da canzoada a
soldo que quotidianamente exalta a Geringonça nos media, Costa e os seus sabem
bem que quem os venceu por duas vezes pode muito bem voltar a fazê-lo uma
terceira. Acresce que Passos Coelho não muda o discurso nem o estilo. Não diz
agora o contrário daquilo que defendeu nos últimos anos. Permanece fiel ao que
é e ao que acredita. Nada pode provocar maior terror aos que veem a política
como uma sucessão de manobras e piruetas do que a consistência perene daqueles
que sabem qual é o seu lugar e onde estão as suas prioridades e não aceitam
trocá-las perante as campanhas das agências de comunicação e a espuma das
sondagens dos dias. Um artista de circo político, como Costa, sabe bem que o
seu contraste, Passos Coelho, pode não ser tão castiço nem vivaço no imediato
mas que estará sempre lá, onde é preciso, na hora exata de vencer o voto
popular e ser chamado às responsabilidades da governação.
Se e quando Costa pressentir
que o PSD está realmente dividido (e estamos muito, muito, longe disso), não
tenho dúvidas, será esse o momento que escolherá para provocar uma crise e
pedir Legislativas antecipadas. Esse é o desígnio estratégico dos socialistas:
usar o seu poder mediático e algumas eternas ambições pessoais para tentar
provocar uma crise de liderança no PSD que possa catapultar Costa para uma
maioria absoluta no curto prazo.
Ou seja, a teoria que reza o
fim próximo de Passos Coelho é antiga, está em voga desde 2010 - e falhou
sempre. Por outro lado, aqueles que exigem uma mudança de líder no PSD estão a
cumprir, ponto por ponto, alguns sem o saberem, os ditames estratégicos de
Costa que só espera por essa oportunidade para se solidificar no poder.
Não terão sucesso.
Texto: Carlos Abreu Amorim, Facebook, 1-1-2017
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