Alberto Gonçalves
O apogeu da demência foi atingido na
lendária “missa” que precedeu a prisão: “Já não sou um ser humano. Sou uma
ideia.”, proclamou. É deste material que se fazem boa parte das calamidades
históricas.
O texto de hoje é a história
de um falhanço. Por dever profissional, espírito de sacrifício, perversão ou
simples contágio, convenci-me de que teria de escrever acerca do sr. Lula, o
herói sazonal da esquerda de cá e de lá. E, irresponsavelmente, convenci-me de
que teria de saber mais sobre a criatura. Já sabia, como as pessoas que querem
saber sabem, que o homem transformou um país pobre, pouco instruído e violento
num país pobre, sem qualquer instrução e violentíssimo. E que é um trafulha de
nível e um burgesso sem nível nenhum. E que escolhe os amigos internacionais
nas melhores ditaduras e organizações terroristas. Mas não estava preparado
para o que me atingiu. Ninguém, salvo milhões de brasileiros que o sofreram na
pele, estaria.
Nas duas longas madrugadas que
dediquei à contemplação de vídeos com intervenções da criatura e das criaturas
que a cercam, comecei a rir e acabei em farrapos. Aquilo – o sr. Lula merece o
tratamento – é literalmente indescritível. Não me refiro às origens sociais do
sujeito, pelo menos não no sentido repugnado com que certos rústicos do Campo
Grande se referiam ao apartamento de Pedro Passos Coelho em Massamá. Lincoln
nasceu pobre. Louis Armstrong nasceu pobre. Pelo amor de Deus: julgo que o
futebolista Quaresma nasceu pobre e, entre duas cuspidelas para o relvado e uma
nova tatuagem na nuca, ainda consegue parecer um cavalheiro por contraste com o
sr. Lula. Dizer que o sr. Lula é abaixo de cão é o eufemismo do ano: em matéria
de inteligência, carácter e lucidez, o sr. Lula encontra-se bastante abaixo do
bicho que lhe deu o nome, com ofensa para o bicho. Em suma, o sr. Lula é menos
que nada, o que torna redundantes os esforços de avaliação ou mero comentário.
Vale a pena falar da inteligência?
Não vale. O sr. Lula exprime-se por grunhidos e algumas sílabas talvez
retiradas da língua portuguesa. A custo, consegue perceber-se o orgulho dele ao
confessar que não lê, alegadamente por ser preguiçoso, provavelmente por ser
incapaz. Não paira ali vestígio de conhecimento, cultura com “m” minúsculo ou
sequer a compreensão de duas ou três informações básicas. O que ali abunda é o
instinto primordial da manha, e o único ponto abonatório é o pormenor, de resto
miraculoso, de a sua sucessora na presidência exibir uma ignorância superior. O
sr. Lula e a dona Dilma não cabem no conceito de homo sapiens (nem
no de “mulher sapiens”, para citar a senhora): somados, os cérebros de ambos
não alcançam a sofisticação de uma sandália.
Vale a pena falar do carácter?
Não vale. Temos por exemplo a ocasião em que, às gargalhadas, o sr. Lula
lembrou os exageros que, nos anos prévios ao Planalto, espalhava no estrangeiro
a propósito da quantidade de crianças famintas no Brasil, cuja realidade
ignorava com genuíno desprezo. Ou a ocasião em que, diante das câmaras,
descreveu os planos – consumados – para tomar o Estado de assalto. Ou a
ocasião, recente, em que se serviu da mulher morta para exaltar a sua pessoa, e
em que se serviu dos devotos para exaltar a polícia. Antes de perder os dedos,
o sr. Lula perdeu a vergonha.
Vale a pena falar da lucidez?
Não vale. Algures no seu deplorável caminho, o sr. Lula desatou a acreditar no
“mito” que oportunistas ou doidos varridos garantiam que ele era. Mesmo
descontadas as comparações com Jesus Cristo, são incontáveis os momentos
registados em que o espécime não se distingue da vítima de possessão média. O
apogeu desta curiosa demência foi atingido na lendária “missa” que precedeu a
prisão: “Já não sou um ser humano. Sou uma ideia.”, proclamou, agora sem se
rir. É deste material que se fazem boa parte das calamidades históricas.
Perante isto, muitos, estupefatos,
perguntam o que leva a esquerda, a nossa e a deles, a idolatrar tão monstruoso
vazio. Provavelmente, nasceram ontem. O que os estupefatos podiam estranhar era
uma esquerda que não venerasse o sr. Lula, o qual, do intelecto às credenciais
democráticas, cumpre escrupulosamente os critérios essenciais aos santos que a
fé marxista não cessa de consagrar.
Não há engano ou confusão: a
esquerda baba-se pelo sr. Lula porque o sr. Lula adequa-se aos apetites
hagiográficos da seita e, afinal, porque a seita não se distingue dele. Salvo
pelos cinco livrinhos na prateleira e o possível verniz “social”, o camarada
padrão padece do primitivismo e da desonestidade, da cegueira e da prepotência
que definem o “filho do Brasil”, não por acaso título de um filme de propaganda
financiado pelas vias expectáveis. Aliás, em prol do progresso dos povos, a
esquerda está habituadíssima a cultivar psicopatas que chacinam pedagogicamente
os súbditos. Sob que pretexto se maçaria com um carroceiro que se limitou a
roubá-los?
Agora chega. Se não se
importam, rebater as opiniões de vultos com o cadastro de Chico Buarque,
Boaventura Sousa Santos ou outras figuras do espetáculo é um exercício pateta.
Os “argumentos” dessa gente são argumento suficiente: vamos realmente discutir
se os horrores da Venezuela ou de Cuba escondem um lado louvável? Vamos
realmente levar o sr. Lula a sério? Vamos descer ao chiqueiro de criminosos ou
colaboracionistas? Vamos ponderar a importância do comunismo, hoje? É preciso
paciência, e a minha esgotou-se há dias, a amanhar uma crônica em volta de um
assunto sem assunto. Só por isso, o sr. Lula devia ir preso.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Observador,
14-4-2018
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