Cesar Maia
1. O presidente do Egito, Abdel Fattah Saeed Hussein Khalil al-Sisi [foto] foi reconduzido ao
cargo com 97% dos votos válidos, numa eleição em que o seu único oponente era
um seu confesso apoiante. Os resultados foram anunciados esta segunda-feira e
marcam uma esmagadora vitória do homem que tem sido acusado de apertar o
garrote à oposição, transformando a dissidência política num crime.
2. Porém, é também o único visto pela maioria da população como
capaz de impor a estabilidade que desapareceu do país desde os protestos que
derrubaram Hosni Mubarak, em 2011.
3. Apesar de a participação ter sido relativamente baixa (41,5%),
al Sisi teve mais votos do que nas últimas eleições, realizadas em 2014. Moussa
Moustafa Moussa, o candidato que já tinha prometido lealdade ao general al
Sisi, conseguiu apenas 3% (cerca de 656 mil votos), ou seja, ficou em terceiro
lugar porque os votos nulos fixaram-se nos 7,27% (1,7 milhões).
4. Alguns cidadãos queixaram-se de terem sido coagidos a votar, mas
preferiram inutilizar o boletim do que votar numa eleição que consideram
parcial e sem reais alternativas.
5. A revista "Economist" dá conta de vários em casos em
que eleitores, descontentes com ambas as opções, terão riscado os nomes de al
Sisi e Moussa e escolhido Mohamed Salah, um futebolista egípcio que joga no
Liverpool.
6. Nas eleições de 2014, que decorreram entre 26 e 28 de maio,
Al-Sisi, 63 anos, obteve 96,91% dos votos contra Hamdeen Sabahi, que também
concorreu a estas eleições. Na altura, a taxa de participação ficou perto dos
48%, segundo os números oficiais. Também nessa altura a oposição se referiu à
consulta como uma “farsa”.
7. Desta vez, a oposição espera que o segundo mandato de al Sisi
acabe por se revelar um pouco mais aberto a novas alternativas, apesar de isso
parecer mais um sonho do que uma exigência tangível. Todos os seis candidatos que
não faziam parte do grupo de homens leais a al Sisi foram impedidos de figurar
nos boletins e, mesmo dentro do próprio aparelho de Estado egípcio, o
descontentamento foi claro durante o tempo de campanha.
8. “Não creio que al Sisi queira algum tipo de política real a
acontecer no Egito. Ele odeia política. Ele odeia opiniões”, disse ao diário
britânico “The Guardian” Hamdeen Sabahi, que tentou, com outros membros da
oposição, instaurar um boicote às eleições. Ato contínuo, o procurador público
colocou-o sob investigação, acusado de tentar derrubar o regime. Um outro
oposicionista, Abdel Moneim Fotouh, está agora na lista de terroristas também
por se ter envolvido em ações classificadas como um ataque ao regime.
9. O que é mais atípico é que esta perseguição também se estendeu
ao exército, território pró-al Sisi, e mais precisamente a Sami Anan, antigo
segundo no comando do Conselho Superior das Forças Armadas que foi detido
depois de demonstrar a sua intenção de concorrer à presidência.
10. O problema que agora se começa a desenhar é a intenção, já
demonstrada pelos apoiantes de al Sisi, em estender os mandatos presidenciais.
Aumentar os anos dos mandatos ou suprimir qualquer limite pressupõe uma
consulta popular para modificar a Constituição. Já aconteceu na Turquia, onde o
enorme apoio ao presidente Erdogan se repetiu no apoio às mudanças
constitucionais que ele propôs.
Título e Texto: Cesar Maia, 5-4-2018
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