segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O carteiro toca sempre duas vezes

Rui Albuquerque

A geringonça de António Costa, entusiasticamente reproduzida, em Espanha, por Pedro Sànchez, nasceu de um pecado capital incontornável: partidos democráticos que levam para governos europeus partidos de extrema-esquerda e comunistas, inimigos do modelo liberal de sociedade e da União Europeia.

Ao tempo, a coisa foi apresentada como um ato de genialidade política de Costa, que, finalmente!, dera poder a quem tinha expressão popular sufragada em votos, mas que nunca tivera responsabilidades governativas. Ora, esta questão poderá voltar a colocar-se, já em Espanha, nos resultados das eleições da Andaluzia: por que não fazer um governo de coligação PP+C’s+Vox? Estes últimos afirmam-se nacionalistas? Mas não o afirma, também, o PCP? São contra «esta» União Europeia? Mas não é o que diz o Bloco? Querem o regresso da soberania nacional orçamentária? Não o reclamam, em uníssono, Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português? São de extrema-direita? Mas não são, o Bloco, o PCP e o Podemos, de extrema-esquerda?

Por conseguinte, que legitimidade democrática poderá existir, agora, para impedir que o Vox, ou, no futuro, outro Vox qualquer, sirva de muleta para governos chefiados por partidos democráticos? Pelo contrário, pela lógica que levou à geringonça de Costa, eles deverão ser saudados com entusiasmo por aceitarem as regras do jogo democrático de que anteriormente se afastavam...

O carteiro toca sempre duas vezes. Por vezes, os políticos esquecem-no.


Título, Imagem e Texto: Rui Albuquerque, Blasfémias, 3-12-2018

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