Tinha passado os dedos por
cima. Também tinha fechado os olhos. Fazia deslizar a ponta do indicador sobre
toda a superfície. De alto a baixo. Depois, quando passava no buraco, meia unha
encalhava. Fazia isto em todas as vitrines.
Por vezes, nos furos a ponta
do dedo entrava totalmente, outras vezes metade. Depois aumentei a velocidade,
percorria a superfície lisa de maneira desordenada como se o meu dedo fosse uma
espécie de verme enlouquecido que entrava e saía dos buracos, passava por eles,
perdendo a coragem sobre o vidro.
Até que a ponta do dedo foi
nitidamente cortada. Continuei a arrastá-lo ao longo do vidro deixando uma
auréola aquosa vermelho-púrpura. Abri os olhos. Uma dor sutil, imediata. O
buraco se enchera de sangue.
Deixei de ser idiota e comecei
a chupar a ferida.
Texto: Roberto Saviano
Anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-