Aristóteles Drummond
Foto: JP |
Outro que se autoexilou em
Portugal foi o talentoso ator, humorista, cineasta Pedro Cardoso, muito
solidário ao proletariado, mas que preferiu demonstrar sua solidariedade à
causa obreira em Cascais. O ator foi dispensado da Globo, depois do sucesso por
anos de um programa humorístico líder de audiência.
Já o caso de Fafá de Belém é
diferente, pois tem dupla cidadania, vive entre Portugal e Brasil e tem real
amor aos dois países. Militante de esquerda, teve a coragem de apoiar Tancredo
contra os radicais e sofreu na mão das patrulhas ideológicas. Acredita-se que
hoje seja uma democrata de centro. Colocou seu talento a serviço do civismo,
sendo a primeira cantora popular a cantar o Hino Nacional, no enterro e nas
comemorações subsequentes às homenagens a Tancredo Neves, seu admirador. A tal
ponto que fez de um irmão ministro de Estado para a Reforma Agrária, onde deu
prosseguimento a envolvimentos suspeitos desde que foi diretor do Banco do
Pará. Aliás, instituição que, ao que consta em investigações, sofreu prejuízos
na gestão do pai e recentemente de um sobrinho, todos ligados aos políticos
Barbalho, pai e filho.
Caetano Veloso, hoje mais militante do que artista, com quase 80 anos, não abre mão de vindas anuais a Portugal, agora com os filhos, para faturar e falar mal do Brasil, que elegeu um presidente com 57 milhões de votos e que ele e seus companheiros acusam de não ser democrata.
Antes, nos anos 1960, foi a
vez de curiosa viagem de Erico Verissimo a Portugal, acompanhado da mulher e do
filho Luis Fernando, um jovem adolescente, narrada no seu excelente “Solo de
Clarineta”. No livro, ele se apresenta como um bravo guerreiro promovendo
palestras em Portugal contra o então regime, vigiado pela polícia política, durante
um mês, em mais de dez cidades, sem, no entanto, ter sido molestado em nenhum
momento. Verissimo, na ocasião, era o autor brasileiro mais vendido em
Portugal. Contou as maravilhas da viagem a bordo do BMW do seu editor, sem,
entretanto, narrar um facto de coação ao seu proselitismo de oposição. Nunca
imaginou se esta excursão seria possível na então Cortina de Ferro.
Bem diferente de outros
notáveis da cultura brasileira, viagens de puro amor a Portugal foram as de
Ivon Curi, quase 20, em que o cantor, humorista e ator se apresentou, inclusive
no Casino do Estoril, e acabou se casando com uma portuguesa, em Sintra. Era
Ivone Freitas, com quem teve três filhos. Encontra-se belas canções e filmes de
Ivon Curi no Youtube. E, claro, é sempre bom lembrar o grande Gilberto Freyre,
que, inclusive, viajou pelos estados ultramarinos a convite do governo
português e lançou o chamado luso-tropicalismo.
Estranho um governo acusado de
ser contra as mulheres e ter duas ministras; de ser contra os pobres e ter feito
o maior projeto de proteção na pandemia, a quase 60 milhões de pessoas, de ter
criado o décimo terceiro salário para os atendidos no programa social Bolsa
Família – que atende a 12 milhões de brasileiros. Bolsonaro fala mal dos
jornalistas, mas nunca processou nenhum deles, e é apontado como homofóbico
quando isentou de impostos os remédios importados para o combate a SIDA.
Pode não ser o melhor dos
presidentes, mas certamente não está entre os piores. É honesto e pragmático.
Não começou nenhuma obra, preferindo completar o estoque de governos
anteriores, que passam de mil no país. Mesmo assim, não merece uma linha de
simpatia nos Media locais e internacionais. Pode?
Título e Texto: Aristóteles
Drummond, o
Diabo, 17-9-2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-