quarta-feira, 5 de maio de 2021

A cegueira ideológica da imprensa

Decisão que determinou a retirada da tarja de Fake News de duas reportagens de Oeste é motivo de orgulho para qualquer veículo de comunicação que preza a liberdade de imprensa


Revista Oeste

Em 23 de abril, uma sexta-feira, o juiz Marcelo Augusto Oliveira, da 41ª Vara Cível de São Paulo, determinou a exclusão dos textos da agência de checagem Aos Fatos que tachavam de fake news duas reportagens da Revista Oeste que não continham um único erro do começo ao fim. Na ação, a primeira do gênero no Brasil, ficou provado que grande parte das agências do tipo atua como controladora do conteúdo publicado nas redes sociais e na imprensa, decidindo o que pode ser lido e classificando como “mentira” tudo o que contradiz o que considera uma verdade absoluta.

O desfecho do episódio deve ser motivo de orgulho para qualquer veículo de comunicação que preze a liberdade de imprensa. Previsivelmente, registraram-se reações favoráveis ao autoritarismo absurdo. Alguns sites e jornais relataram o caso da mesma maneira como costumam construir suas reportagens: ouvindo apenas um lado, “investigando” o fato a partir de ideias preconcebidas e consultando apenas os que consideram falsas quaisquer verdades que lhes cause desconforto. Tudo isso sem abdicar da pose de isentos.

Vamos aos fatos:

1) Segundo a Folha de S. Paulo, a agência “desmentiu que imagens da Nasa mostrariam menos focos de incêndio do que os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), já que a imagem da Nasa se referia a um dia de julho de 2020 e os dados do Inpe contemplavam todo o mês de junho”.

Numa detalhada resposta endereçada à Aos Fatos na época em que o texto foi tachado de falso, Oeste explicou que em nenhum momento usara o satélite da Nasa para contestar os dados do Inpe. “A imagem do satélite foi usada para mostrar que a Floresta Amazônica, diferentemente do que tem sido divulgado pela chamada grande imprensa, não estava em chamas — por isso as manchetes destacadas no início no texto.”

De qualquer forma, mesmo observando os dados do Inpe (o que, vale repetir, não era o objetivo da reportagem), pôde-se constatar que, no bioma amazônico, havia 2.248 focos de queimadas registrados pelos satélites em junho de 2020. Um número abaixo da média para o mês, que é de 2.724 — e bem abaixo do máximo, registrado em 2004 (9.179 focos). O caso também foi esmiuçado na reportagem “Facebook comete ‘fake news’ ao tachar de ‘fake news’ uma matéria verídica”, publicada na edição 42 da Revista Oeste.

2) O texto da Folha afirma ainda que, ao contrário do que mostrava a reportagem “Cidade mineira não tem um único doente internado por covid-19”, a Aos Fatos garantiu que “houve casos na cidade mineira no período, além de os remédios do ‘tratamento precoce’ serem comprovadamente sem eficácia para Covid-19”.

De acordo com o boletim emitido pela prefeitura de São Lourenço no dia ao qual a reportagem de Oeste se referiu, não havia um só paciente internado na UTI por conta da covid-19. A matéria trazia ainda uma declaração do prefeito, Walter Lessa (PTB), relatando a adoção do tratamento precoce em casos de suspeita da doença. A contestação da agência, entretanto, concentrou-se na validade do tratamento precoce. De novo: não foi esse o objetivo da reportagem de Oeste.

Folha limitou-se a ouvir Tai Nalon, diretora-executiva da Aos Fatos, Marcelo Träsel, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o diretor do Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB, Pierpaolo Cruz Bottini, que foi advogado de réus da Operação Lava Jato. Todos os que opinaram sobre o caso pensam de forma semelhante. Pelas declarações, nenhum parece ter lido as reportagens de Oeste classificadas como Fake News, muito menos as 56 páginas da argumentação impecável exposta por Alexandre Fidalgo, advogado da revista.

O Portal dos Jornalistas e o site da Associação Brasileira de Imprensa apenas reproduziram trechos da reportagem da Folha. Já o Congresso em Foco conseguiu, com a manchete “Site de notícias falsas censura agência que comprovou suas fake news“, usar 11 palavras para contar uma mentira grosseira.

O título escolhido pelo Congresso em Foco é tão tendencioso quanto alguns dos seus mais recentes destaques: Vacinado, Lula chega a Brasília para reuniões políticasLira diz ao STF que impeachment depende de ‘oportunidade política‘; Bolsonaristas fazem atos em apoio ao governo federal e ignoram pandemiaLula encontra Fabiano Contarato e convida senador para se filiar ao PT.

“Como bem salientou o ilustre magistrado Marcelo Augusto Oliveira, uma coisa é reportar fatos distintos, inalienável direito de todo jornalista nas democracias, e outra é a mera adjetivação acrimoniosa, que muitas vezes serve apenas para tentar esconder a cegueira ideológica”, observou o jurista Modesto Carvalhosa, ao comentar a decisão em favor de Oeste. “Que a Revista Oeste prossiga livremente fazendo o bom jornalismo que a distingue”.

Nenhum dos veículos de comunicação que comentou o episódio envolvendo a Aos Fatos conseguiu explicar por que classificou como censura o fato de uma agência de checagem ter sido acusada de fake news, mas não considerou censura uma agência ter classificado como fake news reportagens verídicas. De todos os envolvidos no caso, apenas Oeste não foi ouvida. Censura é isso.

Revista Oeste reafirma o seu compromisso com a defesa do liberalismo, da democracia e de todas as liberdades. Principalmente a liberdade de imprensa.

Título e Texto: Revista Oeste, 5-5-2021, 15h56

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