O ideal é que os bandidos fossem todos
presos, nenhum morto; infelizmente, não se entregaram, e tivemos o único
resultado lógico decorrente da resistência às forças do Estado, que, desta vez,
agiram sim com inteligência. Faltou inteligência, desta vez, aos criminosos
Quintino Gomes Freire
Ontem houve uma operação organizada e levada a termo pela Polícia Civil. Teve lugar na favela do Jacarezinho, uma das mais violentas da cidade, dirigida por uma organização criminosa sanguinária e que vinha – no local – se profissionalizando e capacitando para atrair cada vez mais jovens moradores para suas fileiras. A Polícia Civil, em longa investigação, detectou esta terrível iniciativa de difusão do modo de vida criminoso e mapeou, em detalhes, os responsáveis por ela, assim como por outros crimes graves, como assassinato e roubo.
Há um costume difundido entre
os cariocas de logo criticar a polícia por qualquer ação que tenha praticamente
qualquer resultado. Reclama-se diariamente do poder dos traficantes, do poder
das milícias, que o Estado não consegue entrar nas regiões conflagradas, que
pessoas vivem nestas comunidades sob a constante ameaça das guerras das gangues
de bandidos. Mas ao mesmo tempo, parece que se deseja – e é bonito
desejar, porém devaneio acreditar – que os bandidos e malfeitores se
entreguem pacificamente, ou como bem disse o presidente Lula, em 2007, ao
jornal Folha de São Paulo: “tem gente que acha que é possível
enfrentar a bandidagem com pétalas de rosa ou jogando pó de arroz“.
Isso não vai acontecer.
De uns tempos para cá, alguns
setores, em vez de gritar, como antes, que o crime organizado seria um problema
exclusivamente social (sempre deixando a gente sem entender porque então
existiriam pedintes, pessoas fazendo bicos, morando de favor, e pedindo comida
nas ruas, se a falta de oportunidade transformaria todos em
criminosos), esses setores ficaram um pouquinho mais atualizados e passaram
a gritar por “inteligência policial“: para eles, a inteligência policial
resolveria todos os problemas de segurança da cidade, sem a necessidade de
troca de tiros. Pois o ocorrido ontem mostra justamente o contrário!
Um trabalho de inteligência espetacular foi realizado. Nas redes sociais e na internet em geral, a polícia descobriu os responsáveis por um movimento importante de promoção da organização criminosa dentro da comunidade, fez os perfis dos criminosos, demonstrou o fato ao Ministério Público e obteve autorização judicial para a operação e para a prisão dos criminosos. O trabalho de inteligência foi feito. Mas, alô-ou, vida de criminoso traficante não é fácil, eles são confinados às suas favelas, casamatas, bunkers e mini mansões com hidromassagem dentro das comunidades. São comuns os relatos na cidade de traficantes que até para comprar suas correntes de ouro e tênis de luxo, dão o dinheiro para meninos e meninas irem comprá-los em seu lugar. Para prendê-los, ainda mais uma quadrilha identificada pelo árduo trabalho da polícia civil, é preciso ir até lá e comunicá-los de que estão presos e levá-los efetivamente presos. Sem resistência, se eles concordarem.
Assim, é bom diferenciar o que
é chacina do que é uma operação policial. Afinal, a chacina é um assassinato
coletivo, um massacre, normalmente de pessoas desarmadas, e não é o que houve
no Jacarezinho. Ali ocorreu um combate entre a Polícia Civil e bandidos
fortemente armados, armados até os dentes, e com orientação de resistir até o
último homem à ação do Estado. Dos 25 mortos, 1 era policial civil, 18 tinham
passagem pela polícia, e outros 6 ainda deverão ser identificados com mais
detalhes, mas a Polícia tem evidências de serem criminosos. Mas é fato que
houve resistência. Resistência firme e forte, até porque, com a decisão do STF
que proíbe a maioria das incursões às favelas – não esta, que se enquadra
diferentemente pela sua própria natureza – os bandidos tiveram todo o tempo do
mundo de construir um maior número de barreiras, casamatas, e tudo o mais
necessário para expandir seu domínio funesto pela região e sobre os moradores.
A Operação Exceptis,
nome dado pela Polícia Civil a esta importante ação realizada em defesa das
pessoas honestas que ali residem, foi feita com inteligência e uma coleta de
dados realizada por mais de 10 meses. E não era o “simples” aliciamento das
crianças pelo tráfico que estava sendo investigado, mas ações criminosas
terríveis como assassinatos, roubos frequentes e até mesmo o sequestro de trens
da Supervia, que serve a centenas de milhares de cariocas. Ficou claro que o
narcotráfico do Jacarezinho adota técnicas de guerrilha, armas pesadas e até
mesmo tem soldados com fardas. Devia o Poder Público ficar parado e nada fazer?
Ainda, foram presas 6 pessoas, 3 deles bandidos com mandado de prisão expedido, e mais 3 criminosos presos em flagrante. Outros dos mortos eram procurados pela polícia. Foram apreendidas 16 pistolas, 6 fuzis, 12 granadas, 1 submetralhadora e 1 escopeta, além de munição antiaérea (foto abaixo). Isto além de farta quantidade de drogas que viciam ou matam nossos jovens todos os dias.
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A bala de munição antiaérea é uma das munições à disposição da quadrilha supostamente "chacinada" (sic). |
Será que entra na conta de quem critica a operação policial todos os que já foram mortos por este exército ilegal do Jacarezinho? Entra na conta deles as famílias desfeitas? A Polícia Civil agiu bem, teve um homem abatido – este sim, cuja morte deve ser chorada e sentida por toda a sociedade – e respondeu à resistência dos criminosos da única forma que o crime parece entender.
O ideal é que fossem todos presos,
nenhum morto; infelizmente, não se entregaram, e tivemos o único resultado
lógico decorrente da resistência às forças do Estado, que, desta vez, agiram
sim com inteligência. Faltou inteligência, desta vez, aos criminosos.
Título e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 7-5-2021
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