sábado, 8 de maio de 2021

Editorial: Jacarezinho teve Operação Policial, não chacina

O ideal é que os bandidos fossem todos presos, nenhum morto; infelizmente, não se entregaram, e tivemos o único resultado lógico decorrente da resistência às forças do Estado, que, desta vez, agiram sim com inteligência. Faltou inteligência, desta vez, aos criminosos

Quintino Gomes Freire

Ontem houve uma operação organizada e levada a termo pela Polícia Civil. Teve lugar na favela do Jacarezinho, uma das mais violentas da cidade, dirigida por uma organização criminosa sanguinária e que vinha – no local – se profissionalizando e capacitando para atrair cada vez mais jovens moradores para suas fileiras. A Polícia Civil, em longa investigação, detectou esta terrível iniciativa de difusão do modo de vida criminoso e mapeou, em detalhes, os responsáveis por ela, assim como por outros crimes graves, como assassinato e roubo.

Há um costume difundido entre os cariocas de logo criticar a polícia por qualquer ação que tenha praticamente qualquer resultado. Reclama-se diariamente do poder dos traficantes, do poder das milícias, que o Estado não consegue entrar nas regiões conflagradas, que pessoas vivem nestas comunidades sob a constante ameaça das guerras das gangues de bandidos. Mas ao mesmo tempo, parece que se deseja – e é bonito desejar, porém devaneio acreditar – que os bandidos e malfeitores se entreguem pacificamente, ou como bem disse o presidente Lula, em 2007, ao jornal Folha de São Paulo: “tem gente que acha que é possível enfrentar a bandidagem com pétalas de rosa ou jogando pó de arroz“. Isso não vai acontecer.

De uns tempos para cá, alguns setores, em vez de gritar, como antes, que o crime organizado seria um problema exclusivamente social (sempre deixando a gente sem entender porque então existiriam pedintes, pessoas fazendo bicos, morando de favor, e pedindo comida nas ruas, se a falta de oportunidade transformaria todos em criminosos), esses setores ficaram um pouquinho mais atualizados e passaram a gritar por “inteligência policial“: para eles, a inteligência policial resolveria todos os problemas de segurança da cidade, sem a necessidade de troca de tiros. Pois o ocorrido ontem mostra justamente o contrário!

Um trabalho de inteligência espetacular foi realizado. Nas redes sociais e na internet em geral, a polícia descobriu os responsáveis por um movimento importante de promoção da organização criminosa dentro da comunidade, fez os perfis dos criminosos, demonstrou o fato ao Ministério Público e obteve autorização judicial para a operação e para a prisão dos criminosos. O trabalho de inteligência foi feito. Mas, alô-ou, vida de criminoso traficante não é fácil, eles são confinados às suas favelas, casamatas, bunkers e mini mansões com hidromassagem dentro das comunidades. São comuns os relatos na cidade de traficantes que até para comprar suas correntes de ouro e tênis de luxo, dão o dinheiro para meninos e meninas irem comprá-los em seu lugar. Para prendê-los, ainda mais uma quadrilha identificada pelo árduo trabalho da polícia civil, é preciso ir até lá e comunicá-los de que estão presos e levá-los efetivamente presos. Sem resistência, se eles concordarem.

Assim, é bom diferenciar o que é chacina do que é uma operação policial. Afinal, a chacina é um assassinato coletivo, um massacre, normalmente de pessoas desarmadas, e não é o que houve no Jacarezinho. Ali ocorreu um combate entre a Polícia Civil e bandidos fortemente armados, armados até os dentes, e com orientação de resistir até o último homem à ação do Estado. Dos 25 mortos, 1 era policial civil, 18 tinham passagem pela polícia, e outros 6 ainda deverão ser identificados com mais detalhes, mas a Polícia tem evidências de serem criminosos. Mas é fato que houve resistência. Resistência firme e forte, até porque, com a decisão do STF que proíbe a maioria das incursões às favelas – não esta, que se enquadra diferentemente pela sua própria natureza – os bandidos tiveram todo o tempo do mundo de construir um maior número de barreiras, casamatas, e tudo o mais necessário para expandir seu domínio funesto pela região e sobre os moradores.

Operação Exceptis, nome dado pela Polícia Civil a esta importante ação realizada em defesa das pessoas honestas que ali residem, foi feita com inteligência e uma coleta de dados realizada por mais de 10 meses. E não era o “simples” aliciamento das crianças pelo tráfico que estava sendo investigado, mas ações criminosas terríveis como assassinatos, roubos frequentes e até mesmo o sequestro de trens da Supervia, que serve a centenas de milhares de cariocas. Ficou claro que o narcotráfico do Jacarezinho adota técnicas de guerrilha, armas pesadas e até mesmo tem soldados com fardas. Devia o Poder Público ficar parado e nada fazer?

Ainda, foram presas 6 pessoas, 3 deles bandidos com mandado de prisão expedido, e mais 3 criminosos presos em flagrante. Outros dos mortos eram procurados pela polícia. Foram apreendidas 16 pistolas, 6 fuzis, 12 granadas, 1 submetralhadora e 1 escopeta, além de munição antiaérea (foto abaixo)Isto além de farta quantidade de drogas que viciam ou matam nossos jovens todos os dias.

A bala de munição antiaérea é uma das munições à disposição da quadrilha supostamente "chacinada" (sic).

Será que entra na conta de quem critica a operação policial todos os que já foram mortos por este exército ilegal do Jacarezinho? Entra na conta deles as famílias desfeitas? A Polícia Civil agiu bem, teve um homem abatido – este sim, cuja morte deve ser chorada e sentida por toda a sociedade – e respondeu à resistência dos criminosos da única forma que o crime parece entender.

O ideal é que fossem todos presos, nenhum morto; infelizmente, não se entregaram, e tivemos o único resultado lógico decorrente da resistência às forças do Estado, que, desta vez, agiram sim com inteligência. Faltou inteligência, desta vez, aos criminosos.

Título e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 7-5-2021 

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