sábado, 15 de maio de 2021

Não há equivalência moral

Uma certa esquerda, da qual a mídia tradicional faz parte, não suporta a existência de Israel e tenta transformar em heróis os terroristas do Hamas

Rodrigo Constantino

A situação no Oriente Médio voltou a ficar bastante tensa com o ataque de centenas de foguetes pelo Hamas em Israel, e a legítima e necessária retaliação da nação judaica. A mídia, como de praxe, aguarda praticamente em silêncio toda a provocação dos terroristas palestinos, e só passa a dar destaque quando a vítima reage. Além da guerra concreta, Israel precisa enfrentar a guerra de narrativas, pois conta com muitos inimigos espalhados pelas redações de jornais mundo afora.

Foto: Shutterstock

Ben Shapiro, comentarista conservador e judeu norte-americano, desabafou: “Um lado dispara mais de mil foguetes em áreas civis na esperança de matar qualquer pessoa, incluindo árabes israelenses. O outro lado fornece telefonemas e ‘bombas de efeito moral’ para evacuar civis antes de destruir edifícios ocupados pelo Hamas. E a maior parte do Ocidente finge haver equivalência moral”. De fato, tentar equiparar os dois lados já é absurdo. Mas a situação real é ainda pior: boa parte da imprensa toma o lado dos terroristas mesmo!

Se você digitar Hamas no Google, a primeira definição virá da Wikipedia e diz que se trata de um grupo “fundamentalista, mas pragmático”. Depois menciona o “lado social” (que traficantes também têm nas favelas cariocas) e põe a culpa do conflito em Israel. Na nossa imprensa não é melhor: um dos maiores jornais do país chamou o Hamas de “grupo militante”, ignorando que militante é o próprio jornal, enquanto o Hamas é grupo terrorista mesmo. Alguns o chamam de “grupo político”. É pura desinformação.

Quando visitei Israel, fiquei impressionado com a minúscula distância entre a Faixa de Gaza e Sderot, a cidade que faz fronteira e vive sob ataques, com todas as escolas com bunkers. O território inteiro israelense é bem pequeno, e mesmo de Tel-Aviv aos locais dominados por inimigos letais a distância é bastante reduzida. Quem fala em “devolver territórios ocupados”, como se isso não fosse sinônimo da destruição de Israel, não sabe do que está falando — ou deseja mesmo “varrer Israel do mapa”. Isso sem falar que Israel já aceitou inúmeras propostas bem generosas, apenas para ver o outro lado lançar nova Intifada contra seu povo.

É como se Israel não tivesse o direito de se defender, de existir. O antissemitismo é antigo, e sempre sinal de avanço de visões totalitárias. Os relativistas morais não suportam um povo com crenças firmes, que obedece acima de tudo a Deus, e demonstra incrível capacidade de resiliência diante de perseguições milenares. Num deserto árido, os israelenses construíram um país próspero, exportam agricultura, possuem uma democracia sólida inclusive com a participação das minorias árabes.

Em Tel-Aviv ocorre uma das maiores paradas gay do mundo. As mulheres gozam de todos os direitos e liberdades, são “empoderadas” a ponto de passarem pelas Forças Armadas (garotas de 17 anos com fuzil nas ruas são cenas comuns), e Golda Meir foi uma fundadora e primeira-ministra do Estado de Israel quando feministas da terceira geração, a mais radical e que parece odiar homens mais do que amar a liberdade feminina, nem sonhavam em nascer.

Israel é o bode expiatório perfeito para os verdadeiros opressores na região

O sucesso de Israel incomoda muita gente. A visão romântica de Davi versus Golias, associando o minúsculo país judeu ao “Grande Satã”, ao “império estadunidense”, acaba levando muitos a defender os palestinos. O marxismo, que divide tudo em oprimidos e opressores, ajuda na narrativa. Mas o fato é que Israel é a vítima aqui, enquanto o Hamas é o algoz, inclusive do próprio povo palestino. “Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos”, disse o filósofo liberal Karl Popper. O Hamas não aceita a existência de Israel.

Mosab Hassan Yousef, cujo pai foi um dos fundadores do grupo terrorista, comentou no livro O Filho do Hamas: “Perguntei a mim mesmo o que os palestinos fariam se Israel deixasse de existir, se as coisas não apenas voltassem a ser como antes de 1948, mas se todo o povo judeu abandonasse a Terra Santa e voltasse a se espalhar pelo mundo. Pela primeira vez, eu sabia a resposta. Ainda lutaríamos. Por nada. Por causa de uma garota que não estivesse usando um véu. Para saber quem era mais durão e importante. Para decidir quem ditaria as regras e quem conseguiria o melhor lugar”.

Mas Israel é o bode expiatório perfeito para os verdadeiros opressores na região. Serve como justificativa para todas as suas atrocidades, como blindagem. Os terroristas do Hamas usam as próprias crianças como escudo humano, colocam seus arsenais bélicos próximo a hospitais e escolas, enquanto tentam matar deliberadamente civis israelenses. Já o Exército de Israel usa a inteligência, promove ataques cirúrgicos, envia soldados para missões arriscadas nos labirintos e túneis de Gaza, tudo para tentar poupar vidas inocentes do outro lado. Como falar em equivalência moral aqui?

Israel prefere as críticas dos hipócritas à morte de seus cidadãos. É por isso que vai sempre se defender, reagir, não importa a campanha desonesta da imprensa mundial. Hoje o antissemitismo se esconde atrás da crítica ao “sionismo”, com a campanha de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Mas se trata do mesmo fenômeno: uma esquerda que não suporta a existência de Israel, a ponto de tentar transformar terroristas em heróis. O grau de manipulação é escandaloso na cobertura do conflito. Imagens de crianças palestinas pobres mortas ou feridas são comoventes, e por isso exploradas, enquanto a realidade em Israel é ignorada. Que país conseguiria tolerar centenas de mísseis lançados sobre as cabeças de sua população por vários dias ininterruptos sem fazer nada?

Ainda tem gente que repete o argumento abjeto de que Israel é capaz de interceptar a imensa maioria dos mísseis com seu “domo de ferro”, enquanto seus ataques quando revida causam estragos na Palestina. É como se a guerra, para ser mais “simétrica”, tivesse de contar com mais mortes de israelenses. Basta pensar qual seria o resultado se a vantagem tecnológica fosse invertida: Israel já teria sido “varrido do mapa” faz tempo, com o extermínio de todos os judeus.

Mesmo diante disso tudo, a esquerda radical insiste em sua narrativa em prol do Hamas. O MST soltou nota em que condena os ataques de Israel, não a Israel, e o PT manifestou sua “profunda inquietação com a escalada da violência patrocinada por Israel contra o território palestino”. É algo simplesmente asqueroso!

Por fim, vale mencionar que a troca no comando do governo norte-americano pode ter ligação com os acontecimentos recentes. Trump conseguiu colocar vários países vizinhos na mesa de negociação com Israel, para fecharem acordos históricos de paz. O avanço do regime iraniano na região ajudou, pois todos temem os aiatolás. Esse avanço já foi consequência da postura “camarada” do governo Obama. Agora, com Joe Biden, a primeira medida para a região foi enviar recursos para Gaza. Os democratas acham que tudo é um problema financeiro. Esses recursos norte-americanos caíram nas cidades israelenses em forma de mísseis. Biden tem culpa no cartório também, por não ter clareza moral para compreender o que se passa na região.

Com terroristas não se negocia, diz uma máxima norte-americana. Passou da hora de reconhecer o óbvio: o Hamas não é um grupo militante, muito menos um grupo político; é um grupo terrorista disposto a mirar seus foguetes em crianças israelenses e usar as próprias crianças palestinas como escudo. Não há equivalência moral possível nesse conflito.

Título e Texto: Rodrigo Constantino, revista Oeste, nº 60, 14-5-2021

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